MUNICIPAL DE SP E OSESP TERMINAM SUA TEMPORADA 2012 . CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Encerrou-se a temporada lírica de 2012 no Theatro Municipal de São Paulo, merecendo aqui uma reflexão de como ela transcorreu em nosso maior teatro de ópera.
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Iniciou-se entre 22 de março e 07 de abril com La Traviata, de G. Verdi. O soprano russo Irina Dubrovskaya brilhou rotundamente como a Violetta Vallery apenas nas duas primeiras récitas, tendo depois assumido esse papel Adriane Queiróz e, novamente Rosana Lamosa. Roberto Di Biasio ( tenor italiano Alfredo), e Paolo Coni (Germont), seguido de Rodolfo Giulianni e Leonardo Neiva se incumbiram dos papéis principais. Outros nomes da lírica brasileira como Fernando Portari, Magda Painno, Luiz Orefice, Eduardo Trindade e Leonardo Pace estiveram bem. O que não deu boas impressões foram os cenários e figurinos idealizados por Angelo Linzalata, que não passaram de uma caixa de sapatos como o próprio Daniele Abbado, diretor cênico do espetáculo declarou às vésperas da estreia: “tudo o que se viu até hoje…. será muito diferente: não ultrapassando uma caixa de sapatos no palco ladeado por cortinas pretas”. Apesar disso o público compareceu em massa, por se tratar de um título consagrado através de dois séculos.
Idomeneo, de W. A. Mozart, foi um desacerto inicial da temporada. Teatro vazio com 1/7 de sua capacidade de lotação e uma apresentação muito medíocre de cenários, iluminação de palco e principalmente de cantores como Miguel Geraldi, Luísa Francesconi, Janete Dornelles e Gabriella Pace. Coral Paulistano vestido como se fosse um concerto (uniforme em preto e branco, e um sobe e desce de telões horrível, completados pelo elevador de palco que não parava, como pudesse enganar o público quando se tratasse de uma grande encenação. Regência nada criativa de Rodolfo Fischer e direção fraquíssima de Regina Galdino. Foi, sem dúvida, um dos piores espetáculos vistos no Municipal paulistano.
Encenar O Crepúsculo dos Deuses, de Wagner, é uma temeridade quando não se dispõe de grandes cantores wagnerianos em plena forma vocal , como também o trabalho do diretor cênico, de grande responsabilidade. Luiz Fernando Malheiro esforçou-se e fez o que pode dentro dos limites em que se viu neste teatro. Pior foi o trabalho de André-Heller-Lopes junto à cena do espetáculo. Bumba-meu-boi contracenando com Eliane Coelho em plena decadência vocal, Cláudia Riccitelli também apontando para a sua decadência, John Daszak (Siegfried) tentando nos passar a imagem de um dos maiores tenores internacionais, porém não conseguiu fazê-lo, ainda bem! E aí por diante. Cenários, se é que assim podem ser chamados, alguns reaproveitados de “A Walquiria”, uma pobreza imensa em todo o espetáculo, sem falar na Cena II, que mais parecia um hall de hotel de mau gosto. Tudo muito feio, muito barroco e completamente fora dos caracteres originais da ópera. Transportar época e situação geográfica do enredo quase nunca dá certo, principalmente quando se trata de um espetáculo já consagrado pelas diversas gerações.
Pelléas et Melisande, do aniversariante C. Debussy, nas mãos de Abel Rocha e Iacov Hillel. A dupla até que deu certo, numa encenação estilizada e com vozes razoáveis. Fernando Portari e Rosana Lamosa, a dupla de sempre nos teatros brasileiros há duas décadas. Outra vez o teatro com 1/7 de sua capacidade de lotação. Dinheiro desperdiçado, investimentos pouco apreciados pela população de São Paulo que paga tudo: orquestra, coro, técnicos, cenotécnica, cachês de cantores, maestros, aderecistas, peruqueiros, iluminadores, regisséur, etc…
Em outubro, outro espetáculo sem público: casa com 1/8 de sua capacidade de lotação. Violanta e Uma tragédia Florentina. Eiko Senda, Rodrigo Esteves, Manuela Freua, Éric Herrero, Celine Imbert, Douglas Hahn e Martin Muehle. Regente; Luiz Gustavo Petri. Vozes forçadas, fora de forma, inadequadas aos seus papéis, gritadas muitas vezes, cenários apenas esboçados, uma pobreza imensa. Teatro vazio lamentavelmente.
Macbeth, de Verdi, foi aqui criticada por três vezes, esmiuçando todos os seus intérpretes, inclusive Robert Wilson, seu encenador que veio estrear em São Paulo a montagem para o Teatro Comunalle de Bologna. Uma parcela positiva: Municipal lotado em todas as suas récitas, nos dias 23, 25, 27 e 29 de novembro.
Finalmente, O Rouxinol, de Igor Stravinsky, entre 8 e 10 de dezembro, sob a regência de Jamil Maluf. A premiada Lívia Sabag fêz bonita direção cênica, com Fernando Anhê como diretor de arte, cenários e figurinos de agradáveis visuais. Bela impressão deixou o soprano russo “leggero” Olga Trifonova, em arcos e apogiaturas de real bravura vocal, seguidas de perto por Caroline de Coni, a brasileira promissora. Eric Herrero, Leonardo Pace e Sílvia Tessuto, acompanhados pelo Coral Paulistano e a sempre eficiente Orquestra Experimental de Repertório de Maluf. Teatro com 7/10 de sua capacidade de lotação.
Quando foi anunciada esta temporada, logo previ casa vazia em muitas delas. Como já disse aqui neste espaço, São Paulo não é o “METROPOLITAN”, ou a Opera Lírica de Chicago, San Francisco Opera House, ou Alla Scala de Milão, onde entre dezenas de títulos anualmente, são intercaladas algumas de menos conhecimento do grande público, dos períodos barroco, clássico, neo clássico, moderno e contemporâneo. Portanto, há que se preservar os títulos mais populares, em sua maioria, e só assim, é que se formarão novas plateias, conquistando-se a juventude que necessita ser atraída ao teatro lírico, substituindo contudo a camada ocasionada pelo desaparecimento enorme daqueles, de outras gerações, que infelizmente vieram a falecer.
OSESP encerrou a sua temporada sinfônica de 2012 em concerto de grande sucesso nos dias 13, 14 e 15 de dezembro na Sala São Paulo. A regente titular Marin Alsop caprichou no repertório: “Candide”, de L. Bernstein; Suíte Chico, de Chico Buarque (arranjo de Luiz Cláudio Ramos) numa belíssima orquestração para a Osesp, e finalmente uma bem untada seleção de “Porgy and Bess”, de G. Gershwin.
Já na Introdução orquestral notou-se que teríamos uma noitada jazz-sinfônica. Orquestra tinindo em seus naipes, sobreveio o “Summertime” na voz do soprano lírico Indira Mahajan, (como Clara) da qual poderíamos exigir um pouco mais de interpretação desta que é a página mais popular da ópera de Gershwin. Intervenções de Crown, Maria, Clara e Serena anteciparam o belo lamento “My mans gone now”, cantado pela viúva Serena, com o apoio do coro, num arioso de magnífica construção; sua intérprete o soprano Alison Buchanan arrebatou os primeiros aplausos do público que lotava a sala de concertos. “Brava” execução !
O baíxo-barítono Derrick Parker como o Porgy sobrreveio com a canção ” Oh, I got plenty of nuttin” à qual deu mostras de um timbre escuro mas eloquente em suas inflexões líricas. Incorporado com o seu personagem apresentou-se totalmente coadunado com o soprano (Bess) em seus duetos de amor; “Bess, you is my woman” e após “Is the world; I loves you, Porgy”, cantado com muito lirismo por ambos; Indira Mahajan também Bess.
Surpresa viria ainda por último; o tenor popular (Sportin’ Life) na voz de Larry D. Hylton que deu-nos um brilhante interpretação de “It ain’t necessarily so” como também de “Listen, there’s a boat dat’s leavin’ soon for New York” acompanhado do coro da OSESP, do qual poder-se-ia requerer um pouco mais de volume em suas intervenções. O tenor, além de possuir uma escola de canto perfeita, mostrou-se um artista completo no palco em sua postura cênica. Ao final do concerto, o público exigiu um “bis” de “Oh lawd, I’m on my way”…cantado com pujança pelos quatro solistas, acompanhados pelo coro e orquestra.
Escrito por Marco Antônio Seta, em 17 de dezembro de 2012.

Comentários

  1. Comentário publicado no facebbok:

    Mauricio Simao Olá...
    Que tipo de crítica musical ou artística se utiliza de expressões como "uma pobreza"? E sem, além de uma infinidade de lugares comuns, defender sua posição com colocações pertinentes à música ou as demais artes envolvidas.
    Esse texto que em tese forma opiniões não passa de reclamações de alguém que não se dispôs, seja por conhecimento ou vontade, a escrever algo que seja útil a comunidade, no sentido de situar a produção artística em vez de meros comentários ranzinzas de botequins.
    Esse texto é uma vergonha a crítica e aos parcos interlocutores à arte que possuimos. E certamente não contribuirá em nada com a formação de platéia, ironicamente...
    Os artistas agradecem a presença do autor, sem dúvida, já que antes ser visto do que o vazio. Mas fica a pergunta: Puxa, você saiu de casa para isso? Não poderia ser algo bom, nalgum momento?

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