NO MUNICIPAL DO RIO, A VIÚVA ALEGRE ENCERRA UM ANO POBRE . CRÍTICA DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Montagem da famosa opereta é boa pedida para iniciantes.
Die lustige Witwe (A Viúva Alegre), opereta em três atos de Franz Lehár sobre libreto de Victor Léon e Leo Stein, com base em uma comédia de Henri Meilhac (ele mesmo, um dos libretistas da Carmen, de Bizet), encerra neste mês de dezembro a temporada lírica deste ano no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O termo “temporada”, claro, deve ser entendido como uma irônica hipérbole. Logo abaixo da análise da produção, teço alguns comentários sobre este ano paupérrimo na única casa de ópera do Rio de Janeiro.
Co-produção entre o Municipal e a Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes), a opereta deveria ter estreado no Rio em setembro e só depois seguir para Belo Horizonte. No entanto, devido aos transtornos de programação que o Municipal vive há mais de uma década – problema que ninguém parece ter competência suficiente para resolver –, a produção acabou estreando em BH, e só agora chegou ao Rio. Por isso, o diretor Jorge Takla, com outros compromissos profissionais, não pôde vir ao Rio preparar a remontagem.
A segunda récita teve um resultado mais conciso que a primeira, e, como só tive tempo para escrever estas linhas a partir da noite de sábado, é nessa segunda apresentação que estão amparados os comentários a seguir. Com a ausência de Takla, coube ao baixo-barítono Lício Bruno cuidar da remontagem e responsabilizar-se pela direção cênica. Seu trabalho como diretor é de muito bom nível e, até mais do que nos solistas, isso pode ser observado na boa movimentação do coro. Todos parecem muito à vontade e a encenação flui muito bem. O cenário de Paulo Corrêa é funcional, mas também é comum e único para os três atos, sem graça enfim. Poucos elementos são incluídos e/ou retirados durante a performance.
Os figurinos de Fábio Namatame são em geral bons, apesar de apresentarem brilho excessivo em alguns trajes do segundo ato. A iluminação de Eduardo Dantas e Dino Ramirez valoriza várias cenas, e a coreografia de Tânia Nardini, remontada por Juliana Medella e Eric Frederic, funciona bem dentro do contexto e do clima geral da obra. Razoável foi a participação da Cia. Jovem de Ballet do Rio de Janeiro.
Na récita de 30 de novembro, o Coro do Theatro Municipal esteve muito bem, como de hábito, e aparentava se divertir em cena. Mais um bom trabalho de Maurílio dos Santos Costa. A Orquestra Sinfônica do Theatro, regida por seu titular, Sílvio Viegas, esteve bem e correta, com mais precisão dinâmica na segunda récita em relação à primeira. Destaque para o lindo intermezzo entre os segundo e terceiro atos, muito bem interpretado, que retoma a melodia da Canção de Vilja. Pena que boa parte do público de ambas as récitas tenha cochichado incessantemente durante a sua execução, num indesculpável desrespeito aos artistas e a outra parcela do público que estava ali para ouvir música.
Todos os solistas apresentaram um bom desempenho cênico, em especial Lício Bruno, Flávio Leite e Neti Szpilman, além do excelente Njégus do ator Cassio Scapin (papel falado). Vocalmente, a análise foi prejudicada devido à amplificação utilizada pelo Municipal. Há uma coisa que não consigo entender: por que, no Brasil, toda opereta é amplificada? Se o problema é fazer alguns solistas serem ouvidos, escolham-se outros solistas de vozes mais potentes, ora essa. E, o que é pior, mesmo com amplificação, nem sempre alguns deles se fizeram ouvir a contento.
Desta forma, enfatizo que os comentários que se seguem são forçosamente superficiais, e podem não oferecer, para o bem ou para o mal, a expressão da verdade. Não comprometeram as sopranos Neti Szpilman (Olga) e Fernanda Schleder (Praskowia), a mezzosoprano Katya Kazzaz (Sylviane), os tenores Zé Rescala (Bogdanowitsch), Pedro Gattuso (Kromow) e Marcos Liesenberg (Raoul de Saint-Brioche), e o barítono Fabrizio Claussen (Pritschitsch).
Razoáveis foram o Visconde Cascada do tenor Flávio Leite, a Valencienne da soprano Carla Domingues (que esteve melhor na segunda récita), o conde Danilo Danilowitsch do barítono Homero Velho e a Hanna Glawari da soprano Rosana Lamosa. O barítono Lício Bruno foi um ótimo Barão Mirko Zeta, como já era de se esperar. E uma gratificante revelação foi o tenor Max Jota, que nas vestes de Camille de Rosillon demonstrou um lindo timbre. Espero poder ouvi-lo melhor no futuro, sem amplificação, obviamente.
No geral, apesar dos senões acima apontados, esta Viúva Alegre pode ser um ótimo veículo para atrair um público iniciante, que quer começar a conhecer a arte lírica, em especial a ópera e suas variantes, como a opereta. É uma boa porta de entrada, sem dúvida, para que muitos possam saber que a ópera não é esse espetáculo chato que muitas vezes a publicidade tenta nos enfiar goela abaixo, mas sim um programa que pode ser divertido e recompensador.
A “temporada” do Municipal
Como todo mundo sabe, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro teve um ano pobre de óperas, motivo de críticas severas já publicadas aqui no www.movimento.com e em outros órgãos de imprensa. Recentemente, o influente jornal O Globo resolveu fazer o que já deveria estar fazendo há muito tempo: criticar duramente a temporada do Municipal. Foi muito bom perceber que jornalistas renomados como Ancelmo Gois, Luiz Paulo Horta e Artur Xexéo estão atentos à programação chinfrim de óperas do Municipal.
Depois da publicação de uma matéria e um editorial no citado jornal, criticando a fraquíssima programação de óperas e ainda abordando a necessidade de um concurso público para os corpos estáveis da casa, como manda a regra do bom jornalismo, o jornal deu o direito de resposta à Presidente da Fundação Teatro Municipal, Carla Camurati. Em outro editorial, ela expôs seus motivos para a temporada apagada, que são passíveis de entendimento e compreensão, mas que não resolvem o problema. E ela está ali, dentre outras coisas, para isso, para resolver o problema da programação do Municipal.
Se o problema está acima dela, é outra história, mas, neste caso, cabe a ela cobrar de seus superiores condições dignas para administrar o Theatro – coisa que não sei se ela faz. Ainda creio que a causa principal de tudo é mais de natureza política, ou seja, não há vontade política por parte do Governador de fazer do Municipal um centro produtor de arte de alto nível. Quantas vezes Sérgio Cabral Filho foi visto no Municipal assistindo a algum espetáculo clássico (ópera, balé ou concerto)? Uma ou duas em seis anos de governo, talvez?
O Governador não gosta de ópera, isso é óbvio, mas, sendo filho de quem é (do grande jornalista Sérgio Cabral, homem muito ligado à música popular), ele bem que poderia trabalhar para que as instituições culturais do Estado que governa tenham condições dignas de implementarem programações decentes. No caso do Municipal, que um dia o Governador chamou de “cereja do bolo”, a coisa é ainda pior, porque, exatamente por ser esta “cereja do bolo”, o Theatro deveria dar o exemplo, e não servir de chacota.
A questão da Direção Artística
Desde que Roberto Minczuk deixou a Direção Artística do Municipal, o competente maestro Sílvio Viegas assumiu o cargo interinamente, acumulando-o com o de Regente Titular da OSTM. Essa posição interina, no entanto, claramente enfraquece a posição de Viegas e parece não lhe dar autonomia sobre a programação – coisa que é responsabilidade do Diretor Artístico.
O Theatro Municipal precisa de um Diretor Artístico titular, e não interino. Este profissional pode ser um terceiro, ou o próprio maestro Viegas, desde que ele tenha total autonomia para gerenciar a programação da casa, e, portanto, possa receber as críticas a respeito dessa programação, se for o caso.
Hoje, na sua condição de interinidade, não me parece que Viegas tenha poder suficiente para mandar e desmandar na programação, como seria de se esperar. Acredito que ele ainda possa fazer um bom trabalho como Diretor Artístico, mas só o conseguirá se tiver total liberdade para decidir que óperas serão levadas ao palco do Municipal. Do contrário, continuamos correndo o risco de ter Rigoletto e La Traviata (falta de variedade) numa mesma temporada diminuta de três óperas como aquela divulgada no início do ano…
Secretária de Cultura continua escrevendo baboseiras
Parece faltar bom senso (para dizer o mínimo) à Secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes. Ela, certamente, esqueceu-se de tomar alguma boa dose de semancol antes de escrever o texto que publicou no programa de sala vendido pela casa de ópera carioca durante as récitas de A Viúva Alegre. Disse a Secretária: “Através desta programação de qualidade, o Governo do Rio de Janeiro proporciona ao nosso estado a excelência da arte erudita e contemporânea, ao mesmo tempo que reforça a importância do nosso querido Theatro Municipal, parada obrigatória nas rotas dos maiores artistas, das maiores orquestras, companhias de ópera, de teatro e de dança do Brasil e do mundo”.
Adriana Rattes gosta de uma gozação. Só pode ser. Pois senão, vejamos: em primeiro lugar, que programação de qualidade é essa? Só se for uma qualidade que existe somente na sua cabeça… Em segundo lugar, o Governo do Rio de Janeiro não proporciona excelência em arte erudita, nem reforça a importância do Municipal; ao contrário, esse governo parece não dar a mínima para o Municipal, quando não mexe uma palha para melhorar e aumentar sua programaçãozinha mixuruca apresentada neste ano. E, em terceiro lugar, o Theatro Municipal não é parada obrigatória nas rotas de companhias de óperas. Já foi, não é mais. Atualmente, o Municipal monta apenas suas próprias produções ou co-produções, e cada vez menos, como todo mundo sabe.
É espantoso como uma Secretária de Cultura não tem vergonha de escrever uma baboseira como esta, discursinho de político medíocre. Em vez de escrever essas mentiras deslavadas, Adriana bem que poderia arregaçar as mangas e fazer alguma coisa que realmente preste para melhorar a programação do Municipal, especialmente no que diz respeito ao número ridículo de óperas apresentadas pelo Theatro. Escrever baboseiras, mentiras, histórias da carochinha, creio que isso não vai ajudar muito…
A incógnita de 2013
A próxima temporada é uma grande incógnita: pode ser melhor, pode continuar nessa bagunça, quem vai saber? Cá entre nós, ainda bem que a Presidente da República resolveu vetar aquela história dos royalties do petróleo, pois, do contrário, a desculpa esfarrapada para não ter ópera de novo no ano que vem já estaria mais do que pronta.
2013 é ano do bicentenário de Verdi e de Wagner e, com isso, espera-se que o Theatro Municipal volte a montar uma ópera do mestre alemão depois de 10 anos (a última foi Tristão e Isolda, em 2003, em produção desprezível). Como um teatro com a importância e a história do Municipal fica 10 anos sem montar Wagner? Como?
De Verdi, era de se esperar uma de suas grandes óperas, como Aida, Don Carlo ou Otello; ou até mesmo A Força do Destino, há muito tempo longe do Rio. No entanto, deveremos ter La Traviata, que era para ter sido este ano, mas acabou cancelada. Nada contra, mas um Verdi mais robusto como os citados acima viria bem a calhar para homenagear o grande mestre no ano que vem, já que, de Wagner, o Municipal só vai montar mesmo uma ópera, mais por obrigação do que por qualquer outra coisa.
Cabe destacar que importantes instituições clássicas brasileiras já divulgaram sua próxima temporada, como a OSESP, a OFMG, a Petrobras Sinfônica, a Dell’Arte, o Mozarteum, a Sociedade de Cultura Artística. Até mesmo a Filarmônica do Espírito Santo, que ainda não tem tanto nome como as outras, mas que parece desenvolver um trabalho interessante, já divulgou sua temporada para o ano que vem. O Municipal? Bem, no Municipal, talvez nem Carla Camurati saiba quando vai divulgar a temporada. O mínimo que ela poderia fazer, o mínimo do mínimo, era informar a todos o dia exato em que a temporada será divulgada. Mas nem isso parece possível no nosso problemático Municipal
Fábrica de Espetáculos
O projeto de tirar a Central Técnica de Produções do Theatro Municipal de Inhaúma, trazendo-a para o zona portuária, como foi publicado na Revista O Globo, do jornal homônimo, no último domingo, é sem dúvida uma projeto importante que merece apoio. No entanto, muito me preocupa uma declaração de Carla Camurati ao jornal. Disse ela: “Não podemos nos preocupar exclusivamente com a programação”.
Realmente, há outras coisas importantes dentro da estrutura do Municipal com as quais deve se ter preocupação. A capacidade de produção da Central Técnica é uma delas. A única pulga que ficou atrás da minha orelha, e para a qual Camurati deve estar muito atenta, é que ela não pode se preocupar somente com a programação, mas DEVE se preocupar TAMBÉM com a programação, e não só com obras…
OSB e Fernando Bicudo
Diante de um quadro como esse, acima exposto, causa espanto que a OSB tenha anunciado a demissão, ao fim da temporada, de um de seus diretores artísticos, Fernando Bicudo. Bicudo contribuiu, e muito, para preencher o vazio deixado pelo Municipal no campo lírico. As óperas em forma de concerto apresentadas pela OSB O&R arejaram os ares do Municipal, que só monta repertório básico, salvando o ano dos amantes da ópera no Rio de Janeiro. Lamentável sua demissão, e sobre ela sugiro a leitura de ótimo artigo de Marcus Góes neste site:
http://www.movimento.com/2012/11/fernando-bicudo-fora-da-osb-opera-repertorio/
Leonardo Marques
Fonte: http://www.movimento.com/
Die lustige Witwe (A Viúva Alegre), opereta em três atos de Franz Lehár sobre libreto de Victor Léon e Leo Stein, com base em uma comédia de Henri Meilhac (ele mesmo, um dos libretistas da Carmen, de Bizet), encerra neste mês de dezembro a temporada lírica deste ano no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O termo “temporada”, claro, deve ser entendido como uma irônica hipérbole. Logo abaixo da análise da produção, teço alguns comentários sobre este ano paupérrimo na única casa de ópera do Rio de Janeiro.
Co-produção entre o Municipal e a Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes), a opereta deveria ter estreado no Rio em setembro e só depois seguir para Belo Horizonte. No entanto, devido aos transtornos de programação que o Municipal vive há mais de uma década – problema que ninguém parece ter competência suficiente para resolver –, a produção acabou estreando em BH, e só agora chegou ao Rio. Por isso, o diretor Jorge Takla, com outros compromissos profissionais, não pôde vir ao Rio preparar a remontagem.
A segunda récita teve um resultado mais conciso que a primeira, e, como só tive tempo para escrever estas linhas a partir da noite de sábado, é nessa segunda apresentação que estão amparados os comentários a seguir. Com a ausência de Takla, coube ao baixo-barítono Lício Bruno cuidar da remontagem e responsabilizar-se pela direção cênica. Seu trabalho como diretor é de muito bom nível e, até mais do que nos solistas, isso pode ser observado na boa movimentação do coro. Todos parecem muito à vontade e a encenação flui muito bem. O cenário de Paulo Corrêa é funcional, mas também é comum e único para os três atos, sem graça enfim. Poucos elementos são incluídos e/ou retirados durante a performance.
Os figurinos de Fábio Namatame são em geral bons, apesar de apresentarem brilho excessivo em alguns trajes do segundo ato. A iluminação de Eduardo Dantas e Dino Ramirez valoriza várias cenas, e a coreografia de Tânia Nardini, remontada por Juliana Medella e Eric Frederic, funciona bem dentro do contexto e do clima geral da obra. Razoável foi a participação da Cia. Jovem de Ballet do Rio de Janeiro.
Na récita de 30 de novembro, o Coro do Theatro Municipal esteve muito bem, como de hábito, e aparentava se divertir em cena. Mais um bom trabalho de Maurílio dos Santos Costa. A Orquestra Sinfônica do Theatro, regida por seu titular, Sílvio Viegas, esteve bem e correta, com mais precisão dinâmica na segunda récita em relação à primeira. Destaque para o lindo intermezzo entre os segundo e terceiro atos, muito bem interpretado, que retoma a melodia da Canção de Vilja. Pena que boa parte do público de ambas as récitas tenha cochichado incessantemente durante a sua execução, num indesculpável desrespeito aos artistas e a outra parcela do público que estava ali para ouvir música.
Todos os solistas apresentaram um bom desempenho cênico, em especial Lício Bruno, Flávio Leite e Neti Szpilman, além do excelente Njégus do ator Cassio Scapin (papel falado). Vocalmente, a análise foi prejudicada devido à amplificação utilizada pelo Municipal. Há uma coisa que não consigo entender: por que, no Brasil, toda opereta é amplificada? Se o problema é fazer alguns solistas serem ouvidos, escolham-se outros solistas de vozes mais potentes, ora essa. E, o que é pior, mesmo com amplificação, nem sempre alguns deles se fizeram ouvir a contento.
Desta forma, enfatizo que os comentários que se seguem são forçosamente superficiais, e podem não oferecer, para o bem ou para o mal, a expressão da verdade. Não comprometeram as sopranos Neti Szpilman (Olga) e Fernanda Schleder (Praskowia), a mezzosoprano Katya Kazzaz (Sylviane), os tenores Zé Rescala (Bogdanowitsch), Pedro Gattuso (Kromow) e Marcos Liesenberg (Raoul de Saint-Brioche), e o barítono Fabrizio Claussen (Pritschitsch).
Razoáveis foram o Visconde Cascada do tenor Flávio Leite, a Valencienne da soprano Carla Domingues (que esteve melhor na segunda récita), o conde Danilo Danilowitsch do barítono Homero Velho e a Hanna Glawari da soprano Rosana Lamosa. O barítono Lício Bruno foi um ótimo Barão Mirko Zeta, como já era de se esperar. E uma gratificante revelação foi o tenor Max Jota, que nas vestes de Camille de Rosillon demonstrou um lindo timbre. Espero poder ouvi-lo melhor no futuro, sem amplificação, obviamente.
No geral, apesar dos senões acima apontados, esta Viúva Alegre pode ser um ótimo veículo para atrair um público iniciante, que quer começar a conhecer a arte lírica, em especial a ópera e suas variantes, como a opereta. É uma boa porta de entrada, sem dúvida, para que muitos possam saber que a ópera não é esse espetáculo chato que muitas vezes a publicidade tenta nos enfiar goela abaixo, mas sim um programa que pode ser divertido e recompensador.
A “temporada” do Municipal
Como todo mundo sabe, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro teve um ano pobre de óperas, motivo de críticas severas já publicadas aqui no www.movimento.com e em outros órgãos de imprensa. Recentemente, o influente jornal O Globo resolveu fazer o que já deveria estar fazendo há muito tempo: criticar duramente a temporada do Municipal. Foi muito bom perceber que jornalistas renomados como Ancelmo Gois, Luiz Paulo Horta e Artur Xexéo estão atentos à programação chinfrim de óperas do Municipal.
Depois da publicação de uma matéria e um editorial no citado jornal, criticando a fraquíssima programação de óperas e ainda abordando a necessidade de um concurso público para os corpos estáveis da casa, como manda a regra do bom jornalismo, o jornal deu o direito de resposta à Presidente da Fundação Teatro Municipal, Carla Camurati. Em outro editorial, ela expôs seus motivos para a temporada apagada, que são passíveis de entendimento e compreensão, mas que não resolvem o problema. E ela está ali, dentre outras coisas, para isso, para resolver o problema da programação do Municipal.
Se o problema está acima dela, é outra história, mas, neste caso, cabe a ela cobrar de seus superiores condições dignas para administrar o Theatro – coisa que não sei se ela faz. Ainda creio que a causa principal de tudo é mais de natureza política, ou seja, não há vontade política por parte do Governador de fazer do Municipal um centro produtor de arte de alto nível. Quantas vezes Sérgio Cabral Filho foi visto no Municipal assistindo a algum espetáculo clássico (ópera, balé ou concerto)? Uma ou duas em seis anos de governo, talvez?
O Governador não gosta de ópera, isso é óbvio, mas, sendo filho de quem é (do grande jornalista Sérgio Cabral, homem muito ligado à música popular), ele bem que poderia trabalhar para que as instituições culturais do Estado que governa tenham condições dignas de implementarem programações decentes. No caso do Municipal, que um dia o Governador chamou de “cereja do bolo”, a coisa é ainda pior, porque, exatamente por ser esta “cereja do bolo”, o Theatro deveria dar o exemplo, e não servir de chacota.
A questão da Direção Artística
Desde que Roberto Minczuk deixou a Direção Artística do Municipal, o competente maestro Sílvio Viegas assumiu o cargo interinamente, acumulando-o com o de Regente Titular da OSTM. Essa posição interina, no entanto, claramente enfraquece a posição de Viegas e parece não lhe dar autonomia sobre a programação – coisa que é responsabilidade do Diretor Artístico.
O Theatro Municipal precisa de um Diretor Artístico titular, e não interino. Este profissional pode ser um terceiro, ou o próprio maestro Viegas, desde que ele tenha total autonomia para gerenciar a programação da casa, e, portanto, possa receber as críticas a respeito dessa programação, se for o caso.
Hoje, na sua condição de interinidade, não me parece que Viegas tenha poder suficiente para mandar e desmandar na programação, como seria de se esperar. Acredito que ele ainda possa fazer um bom trabalho como Diretor Artístico, mas só o conseguirá se tiver total liberdade para decidir que óperas serão levadas ao palco do Municipal. Do contrário, continuamos correndo o risco de ter Rigoletto e La Traviata (falta de variedade) numa mesma temporada diminuta de três óperas como aquela divulgada no início do ano…
Secretária de Cultura continua escrevendo baboseiras
Parece faltar bom senso (para dizer o mínimo) à Secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes. Ela, certamente, esqueceu-se de tomar alguma boa dose de semancol antes de escrever o texto que publicou no programa de sala vendido pela casa de ópera carioca durante as récitas de A Viúva Alegre. Disse a Secretária: “Através desta programação de qualidade, o Governo do Rio de Janeiro proporciona ao nosso estado a excelência da arte erudita e contemporânea, ao mesmo tempo que reforça a importância do nosso querido Theatro Municipal, parada obrigatória nas rotas dos maiores artistas, das maiores orquestras, companhias de ópera, de teatro e de dança do Brasil e do mundo”.
Adriana Rattes gosta de uma gozação. Só pode ser. Pois senão, vejamos: em primeiro lugar, que programação de qualidade é essa? Só se for uma qualidade que existe somente na sua cabeça… Em segundo lugar, o Governo do Rio de Janeiro não proporciona excelência em arte erudita, nem reforça a importância do Municipal; ao contrário, esse governo parece não dar a mínima para o Municipal, quando não mexe uma palha para melhorar e aumentar sua programaçãozinha mixuruca apresentada neste ano. E, em terceiro lugar, o Theatro Municipal não é parada obrigatória nas rotas de companhias de óperas. Já foi, não é mais. Atualmente, o Municipal monta apenas suas próprias produções ou co-produções, e cada vez menos, como todo mundo sabe.
É espantoso como uma Secretária de Cultura não tem vergonha de escrever uma baboseira como esta, discursinho de político medíocre. Em vez de escrever essas mentiras deslavadas, Adriana bem que poderia arregaçar as mangas e fazer alguma coisa que realmente preste para melhorar a programação do Municipal, especialmente no que diz respeito ao número ridículo de óperas apresentadas pelo Theatro. Escrever baboseiras, mentiras, histórias da carochinha, creio que isso não vai ajudar muito…
A incógnita de 2013
A próxima temporada é uma grande incógnita: pode ser melhor, pode continuar nessa bagunça, quem vai saber? Cá entre nós, ainda bem que a Presidente da República resolveu vetar aquela história dos royalties do petróleo, pois, do contrário, a desculpa esfarrapada para não ter ópera de novo no ano que vem já estaria mais do que pronta.
2013 é ano do bicentenário de Verdi e de Wagner e, com isso, espera-se que o Theatro Municipal volte a montar uma ópera do mestre alemão depois de 10 anos (a última foi Tristão e Isolda, em 2003, em produção desprezível). Como um teatro com a importância e a história do Municipal fica 10 anos sem montar Wagner? Como?
De Verdi, era de se esperar uma de suas grandes óperas, como Aida, Don Carlo ou Otello; ou até mesmo A Força do Destino, há muito tempo longe do Rio. No entanto, deveremos ter La Traviata, que era para ter sido este ano, mas acabou cancelada. Nada contra, mas um Verdi mais robusto como os citados acima viria bem a calhar para homenagear o grande mestre no ano que vem, já que, de Wagner, o Municipal só vai montar mesmo uma ópera, mais por obrigação do que por qualquer outra coisa.
Cabe destacar que importantes instituições clássicas brasileiras já divulgaram sua próxima temporada, como a OSESP, a OFMG, a Petrobras Sinfônica, a Dell’Arte, o Mozarteum, a Sociedade de Cultura Artística. Até mesmo a Filarmônica do Espírito Santo, que ainda não tem tanto nome como as outras, mas que parece desenvolver um trabalho interessante, já divulgou sua temporada para o ano que vem. O Municipal? Bem, no Municipal, talvez nem Carla Camurati saiba quando vai divulgar a temporada. O mínimo que ela poderia fazer, o mínimo do mínimo, era informar a todos o dia exato em que a temporada será divulgada. Mas nem isso parece possível no nosso problemático Municipal
Fábrica de Espetáculos
O projeto de tirar a Central Técnica de Produções do Theatro Municipal de Inhaúma, trazendo-a para o zona portuária, como foi publicado na Revista O Globo, do jornal homônimo, no último domingo, é sem dúvida uma projeto importante que merece apoio. No entanto, muito me preocupa uma declaração de Carla Camurati ao jornal. Disse ela: “Não podemos nos preocupar exclusivamente com a programação”.
Realmente, há outras coisas importantes dentro da estrutura do Municipal com as quais deve se ter preocupação. A capacidade de produção da Central Técnica é uma delas. A única pulga que ficou atrás da minha orelha, e para a qual Camurati deve estar muito atenta, é que ela não pode se preocupar somente com a programação, mas DEVE se preocupar TAMBÉM com a programação, e não só com obras…
OSB e Fernando Bicudo
Diante de um quadro como esse, acima exposto, causa espanto que a OSB tenha anunciado a demissão, ao fim da temporada, de um de seus diretores artísticos, Fernando Bicudo. Bicudo contribuiu, e muito, para preencher o vazio deixado pelo Municipal no campo lírico. As óperas em forma de concerto apresentadas pela OSB O&R arejaram os ares do Municipal, que só monta repertório básico, salvando o ano dos amantes da ópera no Rio de Janeiro. Lamentável sua demissão, e sobre ela sugiro a leitura de ótimo artigo de Marcus Góes neste site:
http://www.movimento.com/2012/11/fernando-bicudo-fora-da-osb-opera-repertorio/
Leonardo Marques
Fonte: http://www.movimento.com/
Acho que o governo deve oferecer a infraestrutura necessária para grandes espetáculos. Mas a programação deve ficar por conta das companhias, o governo tem coisas mais sérias para tratar.
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