ÓPERA MICROFONADA NO TMRJ? ARTIGO DE HELIANA FARAH NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Estive presente à estreia da Viúva Alegre no Theatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 28 de novembro.
Houve vaias no final da primeira ária de Valencienne e antes do primeiro intervalo. Junto com a primeira vaia também se ouviu “Microfonada e Muda”. A pessoa foi ameaçada de ser expulsa se vaiasse outra vez. Claro que fui tentar protegê-la dessa injustiça. Então um público pagante pode aplaudir mas não vaiar? Onde está o direito de expressão? Seria bom informar aos zeladores de tão ilustre teatro que esse é um direito de consumidor. Se existe o direito de aplaudir, até em cena aberta, porque não o direito de vaiar?
Garanto a todos que essa pessoa não tem ligação partidária alguma como alguns da plateia quiseram insinuar. Ela estava ofendida com o fato de um espetáculo operístico estar sendo amplificado. Se os anos não me tivessem roubado o ímpeto, também teria vaiado desde a abertura das cortinas. Na Espanha, a tática funcionou e retiraram a amplificação da récita de Andrea Chenier no Teatro Real de Madri em 2010 – está no Youtube.
Que essa produção da Viúva Alegre seria amplificada já era de conhecimento geral. Há uns dias, li num jornal, um artigo que dizia que o Theatro Municipal deveria contar com pessoas especializadas no métier. Uns e outros sempre se lembram de cineastas como Visconti e Zefirelli que montaram óperas com grande aprovação. Essas pessoas se esquecem de que eles nasceram e cresceram frequentando ópera. Ópera fervilhava neles antes do cinema: eles eram do métier!
Grout, a grosso modo, disse em sua História da Ópera: ópera tem música inferior à de concerto, teatro inferior ao falado e libretos inferiores à literatura tradicional, mas é um gênero que amalgama essas três artes (e outras mais) de uma forma única. Só quem realmente entende essa união é do métier. Ópera não é teatro falado ou música encenada, ópera é ópera. E também opereta! E uma das principais razões de ser da ópera é a voz lírica. Se substituirmos a voz lírica pela voz amplificada perdemos a maior excitação do gênero.
Num rápido clipping na midia internacional vemos: The Bershire Review 14/10/2012 “Seria amplificação um dopping musical?”, The New York Times 03/07/1986 “amplificação desorientado a percepção”, The Age 31/01/2009 “Não existe justificativa nem para amplificação seletiva usada na Austrália Ópera”. O que talvez parte do público não perceba é que a mercadoria anunciada: voz lírica, não está sendo fornecida, ou está sendo fornecida de forma distorcida.
Já citei o Grout! Num jornal não cabe citar também Miller, Curtis, Garcia, castrati e falsetistas, etc… como gosto de fazer. Os que conhecem as pessoas que se indignaram sabem que elas conhecem MUITO bem não só ópera mas a tradição da ópera, como muitos ignoram ou fingem ignorar. O que é ser radical? É radicalismo achar ruim quando mesmo num espetáculo amplificado mal se ouvem algumas vozes na região médio-grave (por vezes até no agudo!)? E se mesmo isso é ser radical (para que médios e graves? afinal os compositores num tempo em que não havia amplificação não conheciam vozes, não é?) . Tenho certeza que não é radical defender o direito de cada um de expressar sua opinião. Se teatros como o Alla Scalla, Real de Madrid e Metropolitan se orgulham de ter uma plateia conhecedora e participativa, teatros como o do Rio de Janeiro, que já teve uma plateia assim, hoje querem censurar? Retirar alguém que pagou um ingresso e está expressando sua indignação é o mesmo que censura!
Censura nunca mais!
Heliana Farah
Professora de História da Ópera e Oficina de Ópera da UFRJ
Fonte: http://www.movimento.com/
Houve vaias no final da primeira ária de Valencienne e antes do primeiro intervalo. Junto com a primeira vaia também se ouviu “Microfonada e Muda”. A pessoa foi ameaçada de ser expulsa se vaiasse outra vez. Claro que fui tentar protegê-la dessa injustiça. Então um público pagante pode aplaudir mas não vaiar? Onde está o direito de expressão? Seria bom informar aos zeladores de tão ilustre teatro que esse é um direito de consumidor. Se existe o direito de aplaudir, até em cena aberta, porque não o direito de vaiar?
Garanto a todos que essa pessoa não tem ligação partidária alguma como alguns da plateia quiseram insinuar. Ela estava ofendida com o fato de um espetáculo operístico estar sendo amplificado. Se os anos não me tivessem roubado o ímpeto, também teria vaiado desde a abertura das cortinas. Na Espanha, a tática funcionou e retiraram a amplificação da récita de Andrea Chenier no Teatro Real de Madri em 2010 – está no Youtube.
Que essa produção da Viúva Alegre seria amplificada já era de conhecimento geral. Há uns dias, li num jornal, um artigo que dizia que o Theatro Municipal deveria contar com pessoas especializadas no métier. Uns e outros sempre se lembram de cineastas como Visconti e Zefirelli que montaram óperas com grande aprovação. Essas pessoas se esquecem de que eles nasceram e cresceram frequentando ópera. Ópera fervilhava neles antes do cinema: eles eram do métier!
Grout, a grosso modo, disse em sua História da Ópera: ópera tem música inferior à de concerto, teatro inferior ao falado e libretos inferiores à literatura tradicional, mas é um gênero que amalgama essas três artes (e outras mais) de uma forma única. Só quem realmente entende essa união é do métier. Ópera não é teatro falado ou música encenada, ópera é ópera. E também opereta! E uma das principais razões de ser da ópera é a voz lírica. Se substituirmos a voz lírica pela voz amplificada perdemos a maior excitação do gênero.
Num rápido clipping na midia internacional vemos: The Bershire Review 14/10/2012 “Seria amplificação um dopping musical?”, The New York Times 03/07/1986 “amplificação desorientado a percepção”, The Age 31/01/2009 “Não existe justificativa nem para amplificação seletiva usada na Austrália Ópera”. O que talvez parte do público não perceba é que a mercadoria anunciada: voz lírica, não está sendo fornecida, ou está sendo fornecida de forma distorcida.
Já citei o Grout! Num jornal não cabe citar também Miller, Curtis, Garcia, castrati e falsetistas, etc… como gosto de fazer. Os que conhecem as pessoas que se indignaram sabem que elas conhecem MUITO bem não só ópera mas a tradição da ópera, como muitos ignoram ou fingem ignorar. O que é ser radical? É radicalismo achar ruim quando mesmo num espetáculo amplificado mal se ouvem algumas vozes na região médio-grave (por vezes até no agudo!)? E se mesmo isso é ser radical (para que médios e graves? afinal os compositores num tempo em que não havia amplificação não conheciam vozes, não é?) . Tenho certeza que não é radical defender o direito de cada um de expressar sua opinião. Se teatros como o Alla Scalla, Real de Madrid e Metropolitan se orgulham de ter uma plateia conhecedora e participativa, teatros como o do Rio de Janeiro, que já teve uma plateia assim, hoje querem censurar? Retirar alguém que pagou um ingresso e está expressando sua indignação é o mesmo que censura!
Censura nunca mais!
Heliana Farah
Professora de História da Ópera e Oficina de Ópera da UFRJ
Fonte: http://www.movimento.com/
Que tristeza saber que uma das casas sagradas da ópera nacional, casa essa que viu e ouvir os maiores nomes da lírica nacional e internacional está com suas tradições a perecer...
ResponderExcluirQuando ouviu-se o apupo, não deveriam ameaçar de retirar a pessoa que vaiou e sim retirar os microfones.. ou, quem sabe, para nossa sorte, os cantores!
Já vi infindáveis discussões a respeito de se vaiar, ou não vaiar, em óperas.. Não quero entrar nesse mérito.. mas.. como queria que meu queridíssimo finado tenor Amauri Rene estivesse na plateia!!!!!