A FILARMÔNICA DE VIENA ASSUME SUAS CULPAS. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
A Filarmônica de Viena. Seu incômodo
passado
Diferente da Alemanha, que publicamente fez o seu “mea culpa” em relação ao nazismo, a Áustria sempre fez questão de disfarçar este seu passado sob o comando de Adolf Hitler. Nesta semana serão lembrados os 75 anos da anexação da Alemanha nazista com a Áustria, e somente agora é que a principal orquestra austríaca, a Filarmônica de Viena, resolveu fazer uma autocrítica de seu vergonhoso passado. Li três matérias a respeito do assunto, uma no Financial Times, uma no bloomberg.com. e a melhor de todas no site da Aljazeera.
Alguns números são assustadores. Durante o período em que a Áustria foi governada pelos nazistas 60, dos 123 membros da orquestra eram filiados ao partido nazista (com carteirinha e tudo), e dois músicos eram da SS. Outra coisa que aprendi ao ler estes artigos é que uma honraria da orquestra, o anel dourado, foi dada a diversos criminosos de guerra, como Baldur von Schirach, governador de Viena, e responsável pelo envio de milhares de judeus a campos de concentração. A matéria do Financial Times lembra que no final da década de 60, ele solicitou à orquestra a reposição do anel, que tinha desaparecido. Schirach ficou preso por 20 anos, condenado em Nuremberg, e vale a pena lembrar que ele obteve a reposição ao anel. Outra história escandalosa, narrada no site da bloomberg, é do trompetista Helmut Wobisch, que foi da SS, e driblou os julgamentos depois da segunda guerra. Foi demitido em 1945, mas readmitido em 1947. Vale a pena lembrar que foi ele que providenciou a reposição do anel a Schirach em 1967. A orquestra deverá decidir democraticamente, se retira as homenagens que fez a conhecidos assassinos nazistas. Por enquanto estes personagens continuam na lista dos honrados pela orquestra.
A Orquestra Filarmônica de Viena é uma das melhores do mundo, mas não consegue esconder o seu lado conservador. Foi das últimas orquestras a permitir entrada de mulheres (veja o que escrevi no meu blog na semana passada), e em termos de repertório é também muito tendenciosa. Descobri também, ao ler estas matérias que cito acima, que o famoso “Concerto de Ano Novo” foi algo criado no período nazista da Áustria. Este concerto, realizado tradicionalmente em primeiro de janeiro, e é assistido na televisão por mais de 50 milhões de pessoas, foi na realidade algo inventado pelos nazistas. A Filarmônica de Viena não costumava tocar obras de Johann Strauss antes da década de 30 e pode-se dizer, mesmo assistindo aos belos concertos regidos e gravados em vídeo de Carlos Kleiber e Maris Jansons, que se trata de um grande sucesso comercial inventado pelos asseclas do nazismo. Agora entendo a cara tenebrosa de Herbert von Karajan ao reger em 1985 o concerto de ano novo. Tudo a ver.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blog/falando-de-musica/
Diferente da Alemanha, que publicamente fez o seu “mea culpa” em relação ao nazismo, a Áustria sempre fez questão de disfarçar este seu passado sob o comando de Adolf Hitler. Nesta semana serão lembrados os 75 anos da anexação da Alemanha nazista com a Áustria, e somente agora é que a principal orquestra austríaca, a Filarmônica de Viena, resolveu fazer uma autocrítica de seu vergonhoso passado. Li três matérias a respeito do assunto, uma no Financial Times, uma no bloomberg.com. e a melhor de todas no site da Aljazeera.
Alguns números são assustadores. Durante o período em que a Áustria foi governada pelos nazistas 60, dos 123 membros da orquestra eram filiados ao partido nazista (com carteirinha e tudo), e dois músicos eram da SS. Outra coisa que aprendi ao ler estes artigos é que uma honraria da orquestra, o anel dourado, foi dada a diversos criminosos de guerra, como Baldur von Schirach, governador de Viena, e responsável pelo envio de milhares de judeus a campos de concentração. A matéria do Financial Times lembra que no final da década de 60, ele solicitou à orquestra a reposição do anel, que tinha desaparecido. Schirach ficou preso por 20 anos, condenado em Nuremberg, e vale a pena lembrar que ele obteve a reposição ao anel. Outra história escandalosa, narrada no site da bloomberg, é do trompetista Helmut Wobisch, que foi da SS, e driblou os julgamentos depois da segunda guerra. Foi demitido em 1945, mas readmitido em 1947. Vale a pena lembrar que foi ele que providenciou a reposição do anel a Schirach em 1967. A orquestra deverá decidir democraticamente, se retira as homenagens que fez a conhecidos assassinos nazistas. Por enquanto estes personagens continuam na lista dos honrados pela orquestra.
A Orquestra Filarmônica de Viena é uma das melhores do mundo, mas não consegue esconder o seu lado conservador. Foi das últimas orquestras a permitir entrada de mulheres (veja o que escrevi no meu blog na semana passada), e em termos de repertório é também muito tendenciosa. Descobri também, ao ler estas matérias que cito acima, que o famoso “Concerto de Ano Novo” foi algo criado no período nazista da Áustria. Este concerto, realizado tradicionalmente em primeiro de janeiro, e é assistido na televisão por mais de 50 milhões de pessoas, foi na realidade algo inventado pelos nazistas. A Filarmônica de Viena não costumava tocar obras de Johann Strauss antes da década de 30 e pode-se dizer, mesmo assistindo aos belos concertos regidos e gravados em vídeo de Carlos Kleiber e Maris Jansons, que se trata de um grande sucesso comercial inventado pelos asseclas do nazismo. Agora entendo a cara tenebrosa de Herbert von Karajan ao reger em 1985 o concerto de ano novo. Tudo a ver.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blog/falando-de-musica/
Infelizmente esse período triste da nossa História recente deve ser analisado e discutido, essa terrível facção de criminosos que esteve presente em vários países da Europa sob os mais diferentes nomes tinha o racismo como base de sua loucura. Uma das consequências que nos afetam hoje: Uma mega concentração de renda no mundo e poucos são os verdadeiros donos do poder, do dinheiro e manipulam as sociedades criando crises como a que vemos na Europa e que já afeta o Brasil, apesar do silêncio da imprensa. Acredito que homenagens feitas a criminosos desse quilate devem ser retiradas, e tudo deve ser exposto para que lamentáveis fatos jamais se repitam, pois suas consequências são sempre: sangue, lágrimas, atraso, pobreza pelo mundo e degeneração do gênero Humano.
ResponderExcluirHeranças do nazismo vicejam por toda parte, algumas boas, como a conquista da lua por Werner von Braun e sua equipe, o automóvel Volkswagen, criado sob ordem direta de Hitler, os computadores da IBM, as transmissões de TV ao vivo, iniciadas na Alemanha, técnicas ousadas da cinematografia usadas em filmes de propaganda do regime como Olympia e Triumph des Willems, etc etc... E as más, que nem, preciso nominar, sobejamente conhecidas e inenarráveis de tão horríveis. No mundo da música muita gente colaborou com o regime, aderindo francamente, ou se filiando ao partido para não perder o emprego ou não ser perseguido com sua família. As histórias vão continuar a aparecer, como essas narradas pelo Colarusso, que as descobriu em livros ou sites. O importante é que se mostre, se descubra, se desvende, para que se as conheça e para que não se repitam. E isso vale também para os crimes do outro lado, da caça às bruxas no pós-guerra, nos milhões assassinados em vinganças dos vencedores, uma história ainda a ser contada..
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