ABERTURA DA TEMPORADA 2013 EM BH. CRÍTICA DE LEONARDO STEAFFANO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Filarmônica de Minas Gerais e pianista José Feghali abrem a temporada 2013 de forma impressionante.
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O Grande Teatro do Palácio das Artes recebeu, no último dia 26 de fevereiro, o primeiro concerto da temporada 2013 da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais (OFMG). O conjunto foi regido por seu maestro associado, Marcos Arakaki. O titular, Fábio Mechetti, estava nos Estados Unidos, onde também exerce o cargo de diretor artístico da Sinfônica de Jacksonville. Como solista, o premiadíssimo pianista José Feghali.
Sempre valorizando compositores brasileiros de diferentes períodos, a OFMG não fugiu à regra e abriu a noite com Sons Inovadores, op. 266, do paulistano Amaral Vieira. Composta em 1992, foi inspirada num poema homônimo de Daisaku Ikeda, filósofo budista com quem Vieira se impressionou.
Sons Inovadores não é uma peça fácil, e sua inclusão no repertório como abertura de uma temporada soa quase como uma opção exótica. Muito óbvio seria algo mais leve, fluído ou virtuosístico. Eu me arrisco: a graça nesses 12 minutos de Vieira está na mudança abrupta de temperamentos. A cada compasso, tem-se a impressão de estar à beira de um precipício de onde ecoa dignidade criativa. Tecnicamente, uma peça excelente para se trabalhar o equilíbrio dos diferentes naipes, que em tudo dialogam. Destaque para a delicada percussão (reconhece-se bom gosto até no pitoresco triângulo) e para os belos fraseados dos primeiros violinos.
Após este arrojado início, eis que Feghali impôs ao público a eloquente introdução do Concerto para piano nº 2, de Saint-Saëns, peça a qual o mítico Rubinstein – como relata o excelente programa impresso – apreciava pela “elegância e ousadia, brilho deslumbrante e temperamento”.
Como um soco no estômago, o Grande Teatro logo se viu ciente de que não estava diante de um solista de predicados comuns. Sob a rarefeita instrumentação do andante sostenuto, Feghali explorou todas as possibilidades pianísticas possíveis, com a densidade de quem tem para si o discurso romântico do compositor. Após o allegro scherzando, o público irrompeu em palmas quase que por instinto, tamanha a graciosidade e transparência do solista ao teclado. No presto final, o virtuosismo sólido, sem floreios desnecessários. A comunicação com o regente funcionou bem e o resultado uma ovação merecida. No bis, um Clair de Lune do sonhos, com pianíssimos sutilmente controlados.
Depois do brilho do solista, foi a vez da Filarmônica mostrar a que veio em 2013. Já mais “aquecida”, atacou uma pequena joia: a Sinfonia nº 9, op. 70, de Shostakovich. Em seus concisos pouco mais de 20 minutos, alusões ao estilo classicista, alternando pitadas de humor e momentos pungentes. É uma obra urgente, contraditória, um simulacro de seu compositor. Nela, as madeiras são muito exigidas. Brilhantes foram as intervenções do piccolo e da flauta. Menos sorte teve o conjunto de madeiras que abriu o 2º movimento, com alguma falta de personalidade no que se refere à dinâmica.

Todavia, no 3º movimento, um solo de fagote dos mais desesperados e bonitos que já vi. Uma ou outra tensão na coluna de ar não impediram que o registro agudo do instrumento preenchesse o teatro com uma das mais expressivas demonstrações da maturidade estética da OFMG em seus cinco anos de existência. Trombones e tuba bem uniformes, com sonoridade maciça, destacaram-se também.

Ao final, o já conhecido e bem amado Bolero, de Ravel. Confesso que prefiro um andamento mais lento do que o que foi conferido pelo regente. Acho que, mais lentamente, as madeiras e metais conseguem legar a seus solos uma gama mais rica de nuances. Atuações discretas, com errinhos indignos de nota. Melhor foi quando as cordas entraram no grande esforço final para o clímax percussivo. O Bolero é sempre assim, luxuriante.

No cômputo geral, a OFMG chega ao início de 2013 exibindo suas melhores potencialidades, com oportunidades de amadurecimento ao longo da estimulante temporada. De Marcos Arakaki, viu-se uma regência de fácil assimilação e comunicação com os músicos. A clareza com que transmite suas ideias impressiona – e como tinha as cordas nas mãos nos mais belos fraseados! Ele e seus jovens músicos, sob a liderança de Mechetti, não são mais nenhuma promessa. Mais do que isso, são uma realidade. Uma realidade lastreada por vontade política, conduzida com dignidade estética e que já transformou radicalmente a cena cultural mineira. Viva!
Texto de Leonardo Steffano

Fonte: http://www.movimento.com/

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