Cultura e Investimento Público. Artigo de Patrícia Luciane de Carvalho no blog de Ópera e Ballet.


por Patrícia Luciane de Carvalho, advogada e professora de Direito da Propriedade Intelectual
   
     A produção cultural é direito reservado a sociedade e obrigação imputada ao Estado, conforme a Constituição Federal. Este mesmo instrumento jurídico estabelece diretrizes ao desenvolvimento sustentável e progressivo da cultura através de políticas preventivas voltadas ao planejamento, incentivo e financiamento das diversas formas de manifestação artística (arte plástica, dramaturgia, música).

          Depreende-se que a cultura não é um direito superficial, supérfluo ou insignificante. Muito ao contrário, eis que é determinante ao desenvolvimento do indivíduo como ente digno e como propulsor da sociedade no âmbito familiar, social e econômico.

          Estudos comprovam que sociedades que possuem o ensino de artes, na sua forma geral ou específica, desde o ensino fundamental, alcançam melhores resultados na ordem dos direitos sociais, especialmente, o desenvolvimento intelectual e o melhor convívio social.

            Nesta esteira, recomendável é o estabelecimento do ensino das artes como disciplina obrigatória na grade curricular do ensino fundamental. Contudo, necessário também é que os administradores das escolas e professores reconheçam a importância deste projeto, evitando-se a vulgarização da disciplina, a qual, muitas vezes, é considerada extensão do intervalo (recreio). Esta iniciativa representaria o maior investimento preventivo em desenvolvimento sociocultural.

          Em outra vertente cabe ao Estado incentivar e financiar manifestações culturais, de modo permanente e temporário. Permanente por meio de museus, teatros, orquestras, cinemas, bibliotecas, todos devidamente instalados e com programação anual. Temporário através de mostras, exposições, festas, concursos culturais, filmes, dentre outros, normalmente vinculados a datas específicas. Para o Estado cabem as duas obrigações, certo que a cultura é direito fundamental.

           De modo concomitante, cabe ao Estado e à sociedade observarem parâmetros razoáveis para a escolha destes bens culturais e dos meios a financiarem, especialmente quanto aos valores aplicáveis. Este cuidado ou zelo faz-se necessário porque o quantum decorre do erário público, portanto, patrimônio decorrente dos esforços sociais através da carga tributaria.

          A artista plástica Maria Bonomi defende em sua tese de doutorado, publicada como "Maria Bonomi da Gravura a Arte Publica", que "Cabe-nos urgentemente eliminar do País gastos absurdos de verbas culturais com o transitório elitista". Isto porque, o investimento público deve favorecer cultura e não modismo, seja ele embrionário da elite ou do popular. E mais, o bem cultural objeto do investimento deve promover o desenvolvimento intelectual. É bom que se reconheça que a sociedade não tem o nível de ignorância que lhe é apontado, podendo, assim, serem eliminados programas culturais lastimáveis e oportunistas.

          Esta seriedade falta, ou ao menos não é regra em alguns setores nacionais do ambiente cultural, eis que se observa a ausência da progressividade e da sustentabilidade do desenvolvimento sociocultural. Bem como o uso de dinheiro público não como propulsor do patrimônio cultural, mas como patrocínio de interesses pessoais, muitos tutelados pela mídia televisiva.

          Países que conhecem, protegem e divulgam a cultura alcançam os mais diversos níveis de desenvolvimento sócio, cultural e econômico. Aos que não o fazem resta a perpetuação do subdesenvolvimento social, conjugado com o mal e abusivo uso do dinheiro público. Tenhamos a esperança de que o Brasil afastar-se-á deste abismo cultural.

 



Comentários

  1. Acho bom salientar o seguinte fragmento do artigo publicado:

    "...eis que se observa a ausência da progressividade e da sustentabilidade do desenvolvimento sociocultural. Bem como o uso de dinheiro público não como propulsor do patrimônio cultural, mas como patrocínio de interesses pessoais, muitos tutelados pela mídia televisiva."

    Este é um problema antigo e tem uma causa muito lógica: na medida em que o nível cultural do povo vai diminuindo, aumentam as oportunidades de vender lixo artístico para um número crescente de pessoas que são pouco exigêntes pela falta progressiva de oportunidades para fazer comparações. Aí o lucro pode ser bem interessante para todos os que seguem esse tipo de "promoção" às vezes chamada de "diversidade cultural"

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  2. Marcelo Lopes Pereira26 de março de 2013 às 20:34

    Na realidade como podemos deduzir, acredito que os donos do poder querem ter "lucro" com cultura, o que acredito não ser natural, assim como não se cobra pelo ar ou pelo sol, pois eles são da Natureza.
    a Cultura é Natural e espôntanea no ser humano ela é um fenômeno natural que ocorre em todas as sociedades humanas, das mais primitivas às mais complexas. Analisando sob esse prisma sem dúvida nenhuma a Cultura, é um bem Universal e deve ser compartilhada pois é ela que enriquece as relações humanas como um todo. A verdadeira cultura é imune À modismos passageiros, e seus valores normalmente se aplicam a qualquer tempo e sociedade. Um exemplo simples é a música clássica, e pode-se citar a Nona de Beethoven que pode ser ouvida por qualquer pessoa, a qualquer tempo, com qualquer nível cultural ou religião. Certamente a Nona será executada enquanto a raça humana existir.

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