Um olhar ... Pessoal .... Concertos série um certo olhar... Artigo de Marcelo Lopes Pereira no Blog de Ópera e Ballet.


 
A série de concertos da OSESP chamada "Um certo olhar " é uma raríssima oportunidade numa sala com ótima acústica,  de caráter absolutamente intimista de estar em contato com a música de câmara, algo ainda raro entre os apreciadores paulistanos. Afinal muitos de nós fomos acostumados há muito com inesquecíveis temporadas de óperas no Theatro Mvnicipal, e indo para a década de quarenta, cinquenta do século de antanho, certamente poderemos listar os maiores cantores líricos daquele tempo no histórico palco do  Mvnicipal.  Vale destacar que a OSESP, certamente já consolidou um público fidelíssimo porém voltado para a música de caráter Sinfônico, lotando sempre com repertórios mais tradicionais e principalmente com grandes solistas.

 Quero destacar agora um público, que merece ser chamado de fanático, pessoas que possuem um caso sério de amor com a música, e preparam seu tempo, dinheiro, questões pessoais para assistirem ao máximo que podem de concertos. Percebi que são pessoas das mais variadas idades, classes sociais e estilos, pois acredito que o amor da música erudita vem de dentro jamais podendo ser imposto à ninguém, e depois que essa flor nasce ela jamais fenece.
Leos Janácek, foto Internet
 O concerto do último sábado, 16 de março de 2013, foi um conjunto de joias musicais quase impossíveis de serem apreciadas em São Paulo. Para nós são raridades como a suíte Mládi de Leos Janácek que foi tocante, envolvente  e elevada. As seis Bagatelas de György Legeti foram um brinde aos ouvidos e ao coração, porém a "cereja do bolo" foi o Quarteto Americano do Dvorák  num arranjo de quinteto de sopros que foi no mínimo sublime.

 Voltando ao público, não sei se o caráter intimista do concerto influencia ou se  é um público mais maduro e acostumado com o ambiente de sala de concertos, merece muitos elogios. Cinco minutos antes dos artistas entrarem todos que já estavam sentados  em sua maioria num silêncio contemplativo, os que conversavam, discretamente comentavam à respeito, é claro, do concerto de sopros ou do próximo concerto da Missa Glagolítica. Assim que os músicos entraram o silêncio absoluto se impôs, todos esperaram respeitosamente o início do primeiro concerto vespertino.  Durante a performance, ao contrário do que acontece usualmente na OSESP, não ouvimos ruídos estranhos, ninguém tossiu ( ou tossiram silenciosamente), nada caiu no chão, nenhuma cadeira arrastada, todos se arranjaram facilmente nas cadeiras não numeradas. Quando acabou a primeira performance alguns atrasados chegaram, até aos sábados São Paulo está difícil, sentaram silenciosamente e sem alarde nas cadeiras remanescentes. Os aplausos não raro acontecem fora de hora nos concertos, no "um certo olhar" todos respeitam o tempo dos músicos, aplausos na medida certa.
György Legeti, foto Internet
 Ao final da apresentação tivemos uma  correria de algumas pessoas do público, absolutamente justificada, pois eles correram para a fila da hora na tentativa de conseguir um ingresso para o próximo concerto. Consegui aferir pelo menos seis felizardos que conseguiram entrar novamente, afinal eu já estava prevenido com os ingressos dos três concertos do dia na Sala São Paulo. O mais interessante  e bonito: Algumas pessoas que vi no certo olhar estavam, na sexta feira, na estreia da Ópera La Cenerentola de Rossini no Theatro São Pedro,  no segundo concerto da tarde, e por fim com a Orquestra do Heliópolis à noite e na manhã de domingo no Theatro Mvnicipal  apreciando a sexta Sinfonia de Bruckner.

 Os músicos foram fantásticos é claro, porém um concerto exclusivo de sopros é fisicamente muito cansativo para os músicos, e quase todos eles foram tocar no concerto seguinte. Acredito que os músicos ao tocarem no primeiro concerto vespertino deveriam automaticamente ficar de folga no segundo, pois não são apenas as performances que devemos considerar, por detrás disso há os ensaios e ajustes, quem sabe um incremento no número de músicos poderia ajudá-los nesse quesito pois devemos pensar na qualidade de vida do corpo artístico da OSESP, afinal eles são artistas, que não podem ser medidos por critérios de eficiência e eficácia que cada vez mais desumanizam nossa sociedade.

 A crítica final é claro, fica para os elevados preços dos ingressos, a principal premissa da Sala São Paulo deve ser a acessibilidade para as todas as pessoas da sociedade por se tratar de uma entidade de caráter público. Acredito, quase na certeza, que um patrocinador financia um pequeno buffet ao final do concerto, na minha opinião seria muito mais interessante esse patrocinador ajudar na diminuição do valor dos ingressos. Sem o buffet teríamos mais espaço na Sala de para que mais pessoas pudessem sentar e  apreciar a música de Câmara.

 Um grande abraço a todos os que gostaram e também aos que não gostaram desse artigo.

 Marcelo Lopes Pereira
Sala São Paulo, foto Internet

Comentários

  1. A música de Câmara precisa ser mais explorada no Brasil. Afinal, é um dos meios que mais aproxima o público dos naipes orquestrais. Permitindo o conhecimento específico de cada instrumento e sua potencialidade.
    Patrícia Luciane de Carvalho

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