NO OUTONO CARIOCA , SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO ABRE O ANO DA OSB O&R. CRÍTICA DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Versão em concerto de ópera de Britten tem rendimento equilibrado.
Nesta sexta-feira, 05 de abril, a Orquestra Sinfônica Brasileira Ópera e Repertório deu partida à sua temporada 2013 de óperas em forma de concerto no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Antes, porém, de entrar no mérito da apresentação, é necessário ressaltar que a importância da OSB O&R foi reconhecida pela direção da FOSB, que para este ano programou duas séries de assinaturas com a participação do conjunto, sempre apresentando títulos líricos que dificilmente seriam encenados pelas casas de ópera brasileiras.
Em 2012, com a temporada lírica paupérrima do Municipal, a orquestra teve grande destaque ao manter viva a chama da ópera no Rio de janeiro. E, é claro, esta atitude da FOSB de incluir o conjunto não só em uma, mas logo em duas séries de assinaturas (Ônix e Ágata), valoriza-o ainda mais perante o público, a crítica especializada e a própria FOSB, que parece livrar de vez sua imagem dos acontecimentos traumáticos de 2011.
Depois da saída de Fernando Bicudo, a FOSB contratou o diretor André Heller-Lopes para exercer a função de Coordenador de Elenco – o que, acredito, significa que ele colabora com seus conhecimentos para a montagem dos elencos de cada ópera. Espera-se, portanto, que, ao contrário dos temores iniciais, a OSB O&R tenha vindo mesmo para ficar.
E foi neste clima positivo que a orquestra apresentou o primeiro concerto da Série Ônix, com A Midsummer Night’s Dream (Sonho de uma Noite de Verão), ópera em três atos de Benjamin Britten, sobre libreto do próprio compositor e de seu companheiro Peter Pears, com base na célebre peça teatral homônima de William Shakespeare.
Três grupos de personagens (as criaturas mágicas, os amantes, e os rústicos) se apresentam ao longo da trama. Oberon, o rei das fadas, está enfezado com sua esposa, Tytania, porque ela não quer lhe realizar um desejo, e resolve pregar-lhe uma peça com a ajuda do duende Puck. Utilizando-se de uma erva mágica, faz com que ela se apaixone por Bottom, um dos rústicos que ensaiam uma peça de teatro que será apresentada nas bodas de Theseus, Duque de Atenas, e Hippolyta, Rainha das Amazonas. Bottom teve sua cabeça transformada na de um burro pelas artes de Puck. Em meio a tudo isso, temos os encontros e desencontros entre os amantes Lysander e Hermia e Demetrius e Helena. No fim, tudo se acerta, e durante as bodas a peça de teatro é apresentada. Tal peça é entendida geralmente como uma grande paródia à ópera italiana, beirando o burlesco.
A OSB O&R, sob a regência de Roberto Tibiriçá, enfrentou bem a difícil partitura de Britten, ainda que com alguma oscilação nos metais em determinados momentos. Destaque para as cordas e destaque especial para o violoncelista inglês David Chew, há décadas radicado no Brasil, que recitou maravilhosamente as falas do duende Puck (personagem que não canta), com a habilidade e a entonação de um ator experiente. Não sei de quem foi a ideia de pôr Chew para recitar as passagens de Puck, mas foi uma excelente ideia e uma justa homenagem ao grande músico.
O Coro de Crianças da OSB, preparado por Júlio Moretzsohn, teve excelente atuação em todas as suas intervenções. Já entre os solistas, houve grande equilíbrio e todos deram conta de suas partes com competência. Alguns se destacaram um pouco mais, como é comum em qualquer apresentação.
O baixo-barítono Márcio Marangon e a contralto Lídia Schaeffer estiveram bem na sua única cena como Theseus e Hippolyta. O baixo Patrick Oliveira (Snug/Leão), o barítono Vinícius Atique (Starveling/Clarão da Lua) e o tenor Thiago Soares (Snout/Parede) deram boa conta de suas partes.
O tenor Marcos Paulo (Flute/Tisbe) teve desempenho vocal razoável e roubou a cena como Tisbe durante a peça apresentada pelos rústicos. Além da paródia à ópera italiana, observa-se aqui outra brincadeira referente ao fato de, na época de Shakespeare, mulheres não serem admitidas no palco, de forma que os homens tinham que interpretar também as personagens femininas.
Completando o grupo dos rústicos, o baixo Murilo Neves esteve muito bem como Quince/Prólogo, enquanto o barítono Leonardo Neiva teve uma das grandes atuações da noite. Na pele de Bottom, o solista esteve precisamente cômico, além de vocalmente seguro, como sempre apresentando excelente projeção e domínio do palco.
No grupo dos amantes, o tenor Eric Herrero esteve bem como Lysander, assim como muito bem estiveram a soprano Flávia Fernandes (Helena) e a mezzosoprano Carolina Faria (Hermia). Esta teve um ótimo momento na grande cena da briga, no segundo ato, demonstrando grande desenvoltura cênica. O principal destaque deste grupo foi o Demetrius do barítono Guilherme Rosa, com uma voz muito bem projetada.
A mezzo Luísa Francesconi esteve bem como Oberon, personagem originalmente escrito para a voz de contratenor, enquanto a segunda grande atuação da noite foi da soprano Gabriella Pace. Sua Tytania, interpretada com voz doce e segura, chamou a atenção, especialmente na ária Come, now a roundel, no final do primeiro ato, e no lindo trio do final da ópera, Now, until the break of day, momentos em que a soprano demonstrou estar em plena forma vocal.
Como se pode verificar, foi um bom começo de temporada. O segundo concerto da Série Ônix, a 14 de junho, oferecerá a ópera A Voz Humana, de Poulenc, e a cantata lírica A Morte de Cleópatra, de Berlioz, com a ótima mezzosoprano lituana Liora Grodnikaite. Antes disso, a OSB O&R abre sua Série Ágata, em 16 de maio, com a ópera O Rapto do Serralho, de Mozart, com, dentre outros, o excelente baixo americano Gregory Reinhart.
Leonardo Marques
Fonte: http://www.movimento.com/
Nesta sexta-feira, 05 de abril, a Orquestra Sinfônica Brasileira Ópera e Repertório deu partida à sua temporada 2013 de óperas em forma de concerto no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Antes, porém, de entrar no mérito da apresentação, é necessário ressaltar que a importância da OSB O&R foi reconhecida pela direção da FOSB, que para este ano programou duas séries de assinaturas com a participação do conjunto, sempre apresentando títulos líricos que dificilmente seriam encenados pelas casas de ópera brasileiras.
Em 2012, com a temporada lírica paupérrima do Municipal, a orquestra teve grande destaque ao manter viva a chama da ópera no Rio de janeiro. E, é claro, esta atitude da FOSB de incluir o conjunto não só em uma, mas logo em duas séries de assinaturas (Ônix e Ágata), valoriza-o ainda mais perante o público, a crítica especializada e a própria FOSB, que parece livrar de vez sua imagem dos acontecimentos traumáticos de 2011.
Depois da saída de Fernando Bicudo, a FOSB contratou o diretor André Heller-Lopes para exercer a função de Coordenador de Elenco – o que, acredito, significa que ele colabora com seus conhecimentos para a montagem dos elencos de cada ópera. Espera-se, portanto, que, ao contrário dos temores iniciais, a OSB O&R tenha vindo mesmo para ficar.
E foi neste clima positivo que a orquestra apresentou o primeiro concerto da Série Ônix, com A Midsummer Night’s Dream (Sonho de uma Noite de Verão), ópera em três atos de Benjamin Britten, sobre libreto do próprio compositor e de seu companheiro Peter Pears, com base na célebre peça teatral homônima de William Shakespeare.
Três grupos de personagens (as criaturas mágicas, os amantes, e os rústicos) se apresentam ao longo da trama. Oberon, o rei das fadas, está enfezado com sua esposa, Tytania, porque ela não quer lhe realizar um desejo, e resolve pregar-lhe uma peça com a ajuda do duende Puck. Utilizando-se de uma erva mágica, faz com que ela se apaixone por Bottom, um dos rústicos que ensaiam uma peça de teatro que será apresentada nas bodas de Theseus, Duque de Atenas, e Hippolyta, Rainha das Amazonas. Bottom teve sua cabeça transformada na de um burro pelas artes de Puck. Em meio a tudo isso, temos os encontros e desencontros entre os amantes Lysander e Hermia e Demetrius e Helena. No fim, tudo se acerta, e durante as bodas a peça de teatro é apresentada. Tal peça é entendida geralmente como uma grande paródia à ópera italiana, beirando o burlesco.
A OSB O&R, sob a regência de Roberto Tibiriçá, enfrentou bem a difícil partitura de Britten, ainda que com alguma oscilação nos metais em determinados momentos. Destaque para as cordas e destaque especial para o violoncelista inglês David Chew, há décadas radicado no Brasil, que recitou maravilhosamente as falas do duende Puck (personagem que não canta), com a habilidade e a entonação de um ator experiente. Não sei de quem foi a ideia de pôr Chew para recitar as passagens de Puck, mas foi uma excelente ideia e uma justa homenagem ao grande músico.
O Coro de Crianças da OSB, preparado por Júlio Moretzsohn, teve excelente atuação em todas as suas intervenções. Já entre os solistas, houve grande equilíbrio e todos deram conta de suas partes com competência. Alguns se destacaram um pouco mais, como é comum em qualquer apresentação.
O baixo-barítono Márcio Marangon e a contralto Lídia Schaeffer estiveram bem na sua única cena como Theseus e Hippolyta. O baixo Patrick Oliveira (Snug/Leão), o barítono Vinícius Atique (Starveling/Clarão da Lua) e o tenor Thiago Soares (Snout/Parede) deram boa conta de suas partes.
O tenor Marcos Paulo (Flute/Tisbe) teve desempenho vocal razoável e roubou a cena como Tisbe durante a peça apresentada pelos rústicos. Além da paródia à ópera italiana, observa-se aqui outra brincadeira referente ao fato de, na época de Shakespeare, mulheres não serem admitidas no palco, de forma que os homens tinham que interpretar também as personagens femininas.
Completando o grupo dos rústicos, o baixo Murilo Neves esteve muito bem como Quince/Prólogo, enquanto o barítono Leonardo Neiva teve uma das grandes atuações da noite. Na pele de Bottom, o solista esteve precisamente cômico, além de vocalmente seguro, como sempre apresentando excelente projeção e domínio do palco.
No grupo dos amantes, o tenor Eric Herrero esteve bem como Lysander, assim como muito bem estiveram a soprano Flávia Fernandes (Helena) e a mezzosoprano Carolina Faria (Hermia). Esta teve um ótimo momento na grande cena da briga, no segundo ato, demonstrando grande desenvoltura cênica. O principal destaque deste grupo foi o Demetrius do barítono Guilherme Rosa, com uma voz muito bem projetada.
A mezzo Luísa Francesconi esteve bem como Oberon, personagem originalmente escrito para a voz de contratenor, enquanto a segunda grande atuação da noite foi da soprano Gabriella Pace. Sua Tytania, interpretada com voz doce e segura, chamou a atenção, especialmente na ária Come, now a roundel, no final do primeiro ato, e no lindo trio do final da ópera, Now, until the break of day, momentos em que a soprano demonstrou estar em plena forma vocal.
Como se pode verificar, foi um bom começo de temporada. O segundo concerto da Série Ônix, a 14 de junho, oferecerá a ópera A Voz Humana, de Poulenc, e a cantata lírica A Morte de Cleópatra, de Berlioz, com a ótima mezzosoprano lituana Liora Grodnikaite. Antes disso, a OSB O&R abre sua Série Ágata, em 16 de maio, com a ópera O Rapto do Serralho, de Mozart, com, dentre outros, o excelente baixo americano Gregory Reinhart.
Leonardo Marques
Fonte: http://www.movimento.com/
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