O MAU GOSTO É EUROPEU, MAS QUEM CONSOME SOMOS NÓS. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.




 



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www.radiocacula.com.br / O tenor Andrea Bocelli na inauguração do Shopping Eldorado em São PauloO tenor Andrea Bocelli na inauguração do Shopping Eldorado em São Paulo
O Brasil sofre de uma autoestima muito baixa. Muitos amigos, músicos ou não, acreditam que a Europa e todos os países desenvolvidos formam um verdadeiro paraíso, onde nada das coisas horrorosas que ocorrem por aqui acontecem, e o mais engraçado é ver músicos brasileiros que sempre expressaram seu desprezo pelo Brasil, voltarem à terrinha quando lhes é conveniente, sobretudo em termos financeiros. Creio que a mazela que mais nos atinge, e que não encontra equivalente no assim chamado primeiro mundo, é a violência urbana, que por aqui alcança índices realmente próximos do insuportável. Fora isso, os problemas que nos atingem acontecem com a certa frequência em muitos países do assim chamado primeiro mundo, inclusive a corrupção (vejam os escândalos do Rei da Espanha matando elefantes em Botsuana enquanto seu país chafurda em 25% de desemprego e sua filha está envolvida em favorecimentos indevidos) é algo que só não ocorre em poucos países, os nórdicos, sobretudo. Mas a maioria dos países desenvolvidos convive com coisas reprováveis como o tratamento indigno dos animais (touradas na Espanha, assassinatos em massas de golfinhos em algumas ilhas da Dinamarca, o martírio dos gansos para a nojenta iguaria francesa chamada “foie-gras”), a destruição do meio ambiente, e o domínio colonialista que continua naquela que daqui a pouco será chamada de “Desunião Econômica Europeia”. Os países desenvolvidos o são também pela exploração que suas multinacionais fazem em outras terras, inclusive a nossa. Mas este blog é de música, e é do mau gosto musical europeu que gostaria de falar.
O brasileiro, sobretudo o músico envolvido com música clássica, idealiza demais o assim chamado “primeiro mundo”. Realmente, a estrutura cultural e a bos qualidade da educação da Europa e dos Estados Unidos fornecem condições para que muita coisa boa aconteça, e explica a razão de Londres, por exemplo, ter quase dez orquestras de nível internacional. Mas apesar de tanta coisa formidável, o mau gosto sempre consegue espaço, e o que é pior, nós consumimos bastante deste mau gosto, sobretudo por ser algo vindo com a chancela de “primeiro mundo”. Muitas pessoas dirão que estes elementos de gosto duvidoso “fazem um serviço para a humanidade” ao chamar os incautos para o “maravilhoso mundo da cultura”, mas vamos dizer que para tudo há um limite. Tomemos o caso do tenor italiano Andrea Bocelli. Voz de qualidade média é claramente o resultado de um bem sucedido expediente de marketing. Desafinado em muitos momentos, fôlego curto, mau gosto de fraseado, não consigo entender multidões confundi-lo com grandes cantores (estes sim “fazem um serviço para a humanidade”) como Pavarotti e Plácido Domingo. Outro exemplo bizarro do mau gosto musical europeu é o pianista francês Richard Clayderman. Para quem não sabe este artista se chama na “vida real” Philippe Pagès, e usa o nome meio americano, meio inglês, para conseguir vender mais de 65 milhões de cds. Seu fraseado, sua sonoridade, sua técnica, e seu gosto musical são absolutamente questionáveis, e seu sucesso é a prova maior de que o mau gosto musical existe também nos países desenvolvidos. Destes representantes do mau gosto europeu o que julgo o menos ruim, ou o menos nocivo, é o violinista e maestro holandês Andrè Rieu. Pouca gente sabe, mas André Rieu antes de ser um mega star foi um músico sério. Isto o distancia de Bocelli e Clayderman, pois sua competência ficou registrada em excelentes gravações de algumas cantas profanas de Bach na década de 60. Capacidade para ser um artista de primeira linha ele tem. Hoje no entanto ele é sinônimo de mulheres em vestidos bufantes,arranjos melosos, algo que o tornou um milionário da música quase clássica.

O que mais me chama a atenção é que estes três artistas fazem o maior sucesso entre nós, chegando ao ponto de Andrè Rieu fazer um arranjo do grande sucesso de Michel Teló (arranjozinho aliás bem ruim), de Andrea Bocelli cantar em inaugurações de Shoppings (sem nenhuma condição mínima de dignidade), e de Richard Clayderman com um dedinho só, fazer uma vergonhosa parceria com Toquinho. O mau gosto é europeu, mas quem o consome no momento somos nós.

Osvaldo Colarusso

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blog/falando-de-musica/

Comentários

  1. Marcelo Lopes Pereira16 de abril de 2013 às 13:30

    Na verdade a alta cultura não é apreciada por todos, acredito muito que ela vem de "dentro" não podendo ser imposta ou ensinada, posto isso a verdadeira música clássica será sempre um nicho dentro de todas as sociedades, dependendo do nível educacional o público será maior ou menor, porém será sempre restrito

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