UM TRANSBORDANTE LAGO. CRÍTICA DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Um triunfo para todos, inclusive para os não aqui mencionados.
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O Corpo de Baile, seus solistas e outros elementos, a OSTMRJ, a direção artística de Hélio Bejani (é o general quem ganha ou perde a guerra…) a versão de Yelena Pankova (naturalmente baseada em Reisinger, Petipa, Ivanov e muitos outros), a beleza visual de muitas cenas, principalmente as de conjunto, a regência de orquestra de Sílvio Viegas, a atuação de Lorena Feijoo, Vítor Luiz e Cicero Gomes, a abundância, quando cabível e nos momentos certos, de piruetas, jetés, arabesques, fouetées, elevés e outros passos queridos do público, fizeram transbordar de beleza e emoção esse “O LAGO DOS CISNES” do dia 24 de maio de 2013 no TMRJ, em récita de incontido júbilo. A excepcional partitura de Tchaicovsky poucas vezes se viu tão valorizada.
Anote-se de início a eficiência plástico/teatral das seis filas de três do segundo ato. Para quem viu as oito filas de quatro da Opéra, aqui a sensação é outra, de muito maior beleza, diga-se logo.
Quem quiser saber sobre a história do LAGO, coreografia, dados biográficos dos intérpretes, detalhes da produção e todas as referências importantes, veja tudo isso aqui mesmo no www.movimento.com.
Houve, como não podia deixar de ser, alguns pontos de menor valia, nenhum dos quais influiu no ótimo resultado final obtido. A solista principal Lorena Feijoo, de apurada e refinada técnica, mostrou certa frieza nos momentos em que paixão e arroubo são vitais, como no celebérrimo pas-de-deux do segundo ato. Quem viu Fonteyn, Bessmertnova, Plissetskaya, Makarova, Pontois, Botafogo, totalmente entregues à emoção naqueles momentos, haverá sempre de exigir emoção, calor amoroso, entrega total. Evidentemente não são aqui feitas comparações inteiramente descabidas. Faz-se menção a modelos, para maior clareza da exposição. Tal frieza desapareceu no pas-de-deux e em toda a cena do cisne negro e no ato final, em que a Feijoo agradou a todos.
Não sabemos se o solista principal Vítor Luiz fez de propósito (deve ter sido), mas é de assinalar-se a suprema propriedade estilística de sua atuação pela modéstia dos grands-jetés, pela contenção das piruetas, pela miniaturização de quase todos os passos.
Quando o grande bailarino russo Alexei Fadeichev esteve no TMRJ com o Bolshoi, perguntei a ele o motivo da contenção, da pequenez de certos bailarinos russos ao dançar o Lago. Disse-me ele que o principal bailarino do Lago deve atuar dessa forma, segundo a tradição russa, que estabelece que o príncipe de O Lago deve por força ser diferente do Basílio do Don Quixote, do príncipe de Giselle, do Franz de Coppélia, do Solor da Bayadère.
Nobilíssimo ele é, e nobilíssima, longe da acrobacia, dos jetés muito abertos, das piruetas espalhafatosas, deve ser sua dança. Assim foi Vítor Luiz. Pouco foguetório, pouco “cheguei”, muita elegância e contenção. Um prazer para o conhecedor, um preito à arte da dança clássica.
O pas-de-quatre famoso, dito “dos pequenos cisnes”, na certa mereceu insuficientes ensaios. Essa peça tem de ser exaustivamente ensaiada a ponto de automatizar as quatro bailarinas e houve vacilações no ponto principal do passo, que é a simetria das cabeças, não tão coincidentes como deve ser.
Lago sem bobo em primeiro plano é capenga e desta vez o bobo de Cícero Gomes foi excepcional, na técnica das piruetas, dos grands-jetés, nas terminações, no humor traduzido em expressão facial primorosa. Um bobo como o de Cícero é digno de qualquer palco do mundo.
O outro general da retumbante vitória foi o regente de orquestra Sílvio Viegas, firme como rocha, inspirado como poeta apaixonado, eficiente como máquina.
Em suma, um triunfo para todos, inclusive para os não aqui mencionados. E um felicíssimo momento para o TMRJ.
MARCUS GÓES-MAIO 2013

Fonte: http://www.movimento.com/

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