DE VOLTA AOS TEMPOS DE OUTRORA. ARTIGO DE FABIANO GONÇALVES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Pianista Luiz Eduardo Domingues lança primeiro CD, com obras de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga.
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Aqui no Brasil é assim: basta chegar que cai no caldeirão de influências, mistura-se com outras culturas e acaba transmutando-se em algo novo. Assim foi na gastronomia, que ganhou ingredientes e misturas diferentes; nas festas populares, como a junina (que transforma as danças europeias de salão em quadrilhas) e, claro, na música. Quando chegou ao Brasil, na primeira década do século 19, o piano já trazia em seu lastro uma sólida tradição de sonatas, mazurcas e prelúdios. Em terras tropicais, as famosas polcas, por exemplo, com seus compassos binários em alegretto, receberam novos (e picantes) temperos diversos que fizeram do estilo uma febre no país na metade do século, gerando polcas-choro, polcas-maxixe e até polcas-baião.
Associados à nova espécie de polca brasilianae, vários compositores de salão adicionaram seus toques pessoais ao caldo e destacaram-se, como Chiquinha Gonzaga (1847-1935) e Ernesto Nazareth (1863-1934), cujo sesquicentenário de nascimento é comemorado neste ano. Esses e outros talentos do teclado integram o repertório nostálgico do CD Os Pianeiros (A Casa Discos, distribuição nacional Tratore, preço médio R$ 25), gravado pelo pianista carioca Luiz Eduardo Domingues. O álbum terá recital de lançamento em 12 de julho, às 19h30, no Centro de Referência da Música Carioca (R. Conde de Bonfim, 824, Tijuca), com ingressos a R$ 10 (inteira).
Todo em homenagem aos pianeiros – como eram chamados os primeiros pianistas populares do país, atuantes na virada do século 19 para o 20 e que inauguraram o jeito brasileiro de tocar –, o CD traz, além de obras de Nazareth (oito no total, entre elas Arrojado, Turbilhão de beijos e Elegantíssima) e Gonzaga (Atrahente, Maxixe de Carrapatoso e Zé Povinho), peças de nomes como J. J. Barata (Eu sou bahianinha), Misael Domingues (Brazileira) e Joaquim Callado (Como é bom e Flor amorosa) – este considerado um dos pais do choro.
O meticuloso trabalho de pesquisa e produção do compositor e produtor Sérgio Roberto de Oliveira (indicado ao Grammy Latino em música clássica nos dois últimos anos) soma-se à caprichosa interpretação de Domingues, doutor em Música e professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), bem como pianista premiado. Todo o álbum é um delicioso sarau, com muitas peças raras (entre algumas mais conhecidas, como a deliciosa Flor amorosa) executadas com ginga e técnica. Acenda o lampião da sala, aperte o play e embarque nessa viagem rumo a um Brasil que não existe mais.

Fabiano Gonçalves

Fonte: http://www.movimento.com/

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