MANIFESTO PELO ARTISTA NACIONAL.

   

 "Os abaixo assinados, cantores líricos, diretores cênicos, iluminadores, maestros, artistas e amantes da ópera vêm por meio deste documento demonstrar sua profunda insatisfação e descontentamento com a forma como a classe artística vem sendo tratada e com a situação a que vem sendo relegada nas últimas décadas e, em especial, desde a assunção da atual gestão do Theatro Municipal de São Paulo.

O nosso Theatro Municipal, bem público, gerido por uma entidade pública e fundeado com recursos públicos do município tem, além da função de promover espetáculos à população, a missão inescapável de fomentar e promover a atividade de ópera no país, valorizando o artista nacional sobre o estrangeiro.

Não é possível e não podemos aceitar pacificamente que um maestro contrate a seu bel prazer um grande número de artistas estrangeiros representados por uma agência internacional, sendo que esta mesma o representa na Itália. Há um claro conflito de interesses entre a coisa pública e os interesses privados.

Também é inaceitável ter havido uma suposta grande audição sem uma banca notoriamente idônea e diversificada, e sem que os papéis estejam realmente disponíveis. Praticamente todos os papéis foram distribuídos antes mesmo de as audições serem anunciadas! Uma verdadeira FRAUDE.

A atual temporada lírica tem praticamente o dobro de artistas estrangeiros em papéis principais e sempre com número de apresentações superior aos elencos compostos por brasileiros. Há inclusive casos absurdos de pequenos papéis para os quais foram contratados estrangeiros, sendo que inúmeros cantores brasileiros poderiam se incumbir dos mesmos.

Os fatos ocorridos recentemente praticamente se qualificam como crime de lesa pátria. É inaceitável que um teatro publico não tenha regras claras para a contratação de profissionais estrangeiros em detrimento dos nacionais. É fato notório que os artistas nacionais ganham valores muitos menores do que os recebidos por estrangeiros, mesmo que sejam do nosso primeiro time, e os de fora, artistas inferiores.

Não somos contra a vinda de estrangeiros, sempre uma experiência de intercâmbio artístico válida, porém somos radicalmente contra a falta de critérios.

Na atual conjuntura da cena lírica brasileira, está patente pela opinião da crítica e do público que nossos artistas têm excelente nível, havendo casos em que o elenco nacional teve desempenho muito superior ao internacional, como no Rigoletto de 2011, apenas para citar um exemplo. Passamos há muito tempo da época em que tínhamos que importar talentos.

O governo atual, sendo de um partido popular e nacionalista não pode em sã consciência preterir o artista brasileiro. As ideias aqui expressas não são necessariamente contra pessoas, mas sim contra um sistema que não promove, não incentiva e nem prestigia o artista brasileiro.

Haveria alguém na atual gestão do PT capaz de se opor à manutenção e geração de postos de trabalho para os brasileiros? Não é do interesse da nação e do município incentivar seu artista, como fazem os países de primeiro mundo? Em um momento de crise como esta pela qual o mundo está passando, o Theatro Municipal e a Prefeitura se opõem à proteção e incentivo ao artista brasileiro e resolve promover os estrangeiros com dinheiro público?" 

MANIFESTO L. BRASIL
 
 

Assine em:



 
 

Comentários

  1. Marcelo Lopes Pereira28 de junho de 2013 às 09:42

    A música clássica tem por natureza um caráter "apátrida", as grandes obras musicais de todos os tempos quase sempre tem um caráter atemporal e principalmente dificilmente exaltam nações. O exemplo mais simples é Beethoven, sua música não enaltece em nada a "pátria Alemã" que mal existia como um estado organizado em sua época.
    Perquirir que apenas artistas brasileiros participem é um erro crasso. Isso é ir contra a excelência artística num campo onde ainda somos muito atrasados e temos muito à aprender.
    O que precisamos na realidade é de escolas, políticas que permitam o acesso à todas as pessoas que querem viver de música sem precisar equilibrar o orçamento com sub-empregos que preponderam em nossa sociedade.

    Acredito que as audições para óperas e orquestras devem tratar à todos em pé de igualdade, pois precisamos melhorar o padrão de várias orquestras e casas de ópera. Nosso maior erro é sem dúvida não aprendermos com os estrangeiros que vem aqui, não aprendermos com os solistas que vão no Theatro Mvnicipal e na OSESP, é não aprendermos com os cantores que vem aqui. Nenhuma grande orquestra do mundo possui pessoas de uma só nacionalidade, um exemplo disso é a Concertgebouw, que vi essa semana, vi músicos japoneses, e de outras nacionalidades, infelizmente não tínhamos nenhum brasileiro nessa orquestra.
    Vou frisar devemos tratar à todos da mesma maneira de forma igual, pois ainda temos muito o que aprender no campo da música clássica, principalmente o público barulhento das salas...











    ResponderExcluir
  2. É o que querem os manifestantes! Eles estãopeliteando elenco nacional sempre que houver um elenco internacional, ou seja, quando houver 2 elencos!
    Talvez o texto não tenha sido tão claro neste ponto, mas se lermos TODO o manifesto, fica claro que ninguém tem nenhuma oposição a artistas internacionais em nossos palcos. O que penso que se quer é tratamento igual a artistas de nível semelhante, o que não ocorre hoje em nosso país.
    Poucos sabem mas os estrangeiros que vêem cantar aqui recebem de cachet, via de regra, muito mais que artsitas brasileiros de carreira internacional, apenas pelo fato daqueles serem estrangeiros.

    ResponderExcluir
  3. O manifesto não se posiciona contra a contratação de estrangeiros, mas contra a predominância da participação deles nas temporadas.
    Eu também não sou contra. Só que cantor estrangeiro tem que vir para acrescentar. Estou cansado de ver cantores meia boca contratados como se fossem grandes estrelas internacionais.
    Acho que é preciso formar, desenvolver e prestigiar cantores líricos nacionais que possam ser a base das nossas temporadas. Hoje temos uma geração muito bem preparada quer soube aproveitar as oportunidades oferecidas nos últimos anos para se desenvolver e se pôr em condições de preencher papéis cada vez mais complexos. O que se teme hoje é que as políticas artísticas recém adotadas pelos teatros municipais do Rio e de São Paulo possam botar a perder esse investimento.
    Gostaria de ver voltar o tempo em que Assis Pacheco cantava com Bidú Sayão, Paulo Fortes com Beniamino Gigli, Diva Pieranti com Mario Del Monaco, Ida Miccolis com Carlo Bergonzi...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O Sr. Menescal disse tudo! Não é isto o que vemos atualmente!!!! Bravo senhor Menescal pela clareza com que tratou e interpretou esta causa dos cantores brasileiros.

      Excluir
  4. O manifesto não é contra a vinda de estrangeiros, mas contra o tratamento desigual, sobretudo no aspecto financeiro. Se levarmos em consideração que muitos dos estrangeiros que têm vindo cantar aqui são apenas medianos, não há como justificar que recebam muito mais que brasileiros. Entretanto, há um ponto discutível: a afirmação de que os papéis já estavam previamente distribuídos e que as audições foram uma fraude. Para se afirmar uma coisa dessas é preciso ter provas, sob pena de incorrer em crimes de calúnia e difamação. Endosso todo o restante da argumentação, mas só não assino o manifesto por causa desta frase, que é de muita responsabilidade.

    ResponderExcluir
  5. Logo teremos que tocar só com maestros brasileiros, música brasileira e com instrumentos nacionais? É isso?
    Bairrismo desmedido!Já que lembram do Rigoletto, por que ningém fala de La Traviata em 2012? Só a Russa conseguiu fazer o papel da Violeta com louvor, as outras ficaram devendo, sobre tudo pelo valor do cachê e o Macbeth? A Italiana arrebentou! Temos que ter o mesmo nível de crítica, se é nacional tem que passar a mão na cabeça por que tem nome?! Excelência não tem pátria e para os artistas sérios e de qualidade sempre tem espaço.

    ResponderExcluir
  6. Em resposta ao comentário do anônimo (mas quase todos o são!) dou um exemplo:
    Na última Aida do Municipal do Rio contrataram a fantástica Anna Smirnova que fez uma Amneris para ficar na memória de quem teve a felicidade de assisti-la.
    A intérprete de Aida era uma cantora italiana que teve seus dias mas que ninguém quiz saber como estava cantando e se ainda podia cantar Aida antes de contratá-la. Foi constrangedor.
    O tenor (italiano) era uma verdadeira faude.
    Ao lado destes, cantaram os excelentes cantores brasileiros Licio Bruno, Savio Sperandio e Carlos Eduardo Marcos.
    Resumo da ópera: só o mezzo somou. Só o mezzo deveria ter sido contratado. A Aida, à falta de uma internacional que valesse a pena ouvir, deveria ter sido procurada por aqui. Para o papel de Radamès, te apresento um caminhão lotado de tenores brasileiros em condições de interpretar melhor o general egípcio.
    E, mais uma vez: o manifesto não pretende, e nem está escrito nada nele que exclua os cantores internacionais das temporadas líricas.
    O que se quer são critérios artísticos mais rígidos para a contratação de estrangeiros e que se prestigie a existência de um elenco nacional capaz de preencher os diferentes papéis em uma temporada de ópera.

    ResponderExcluir
  7. Marcos, eles estão falando do Teatro Municipal de São Paulo em especifico e não do Rio, o Rigoletto em São Paulo, foi ruim?! Que ano aconteceu?! Eu vi o nome de vários cantores brasileiros na programação deste ano do Teatro Municipal daqui de São Paulo e cantores ótimos, cantores que farão a primeira ópera inclusive...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas