" THE RAKE'S PROGRESS" EM SÃO PAULO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Chegou ao Theatro Municipal de São Paulo a ópera ainda desconhecida do público paulistano, apesar já de seus 62 anos de existência.
Subiu pela primeira vez ao palco do Teatro La Fenice de Veneza a 11/9/1951. Esta é a sexta e última ópera de Igor Stravinsky (1882-1971), que regeu sua “premiere” naquele célebre teatro veneziano. A performance contudo, esteve longe de ser satisfatória ao público, tanto na estreia, como ontem no Theatro Municipal paulistano, que por sinal contava com apenas meia casa de espectadores (noite de sexta-feira 14/6/2013).
Quanto à música, o próprio compositor se explica, em texto de 1964: “Mais do que buscar formas musicais simbolicamente expressivas do conteúdo dramático (como nos exemplos labirínticos de Alban Berg) , escolhi vazar The Rake”s Progress no molde de uma ópera de números do séc. XVIII, na qual a progressão dramática depende das sucessão de peças separadas: recitativos e árias, duos, trios , coros e interlúdios instrumentais”
Para iniciarmos o comentário crítico, desejamos assinalar aqui o nosso protesto no que se refere aos compositores nacionais, frequentemente ausentes, sobretudo nas temporadas de São Paulo, Rio de Janeiro e demais polos líricos do país. Encenam-se Stravinsky, Benjamim Britten, Debussy, Ravel, Korngold, Zemlinsky; enquanto Carlos Gomes, o maior compositor lírico brasileiro e americano, permanece arquivado nas estantes dos teatros brasileiros. Como nos explicam isto maestros brasileiros ?
São tantas as passagens virtuosas entremeadas com momentos camerísticos : piano no registro de cravo, pequenos temas nos arcos camerísticos, solos de madeiras e metais (duas trompas e dois trompetes somente na orquestra reduzida de Stravinsky, de seu período neoclássico com influências gluckianas, e também de Monteverdi e Mozart). Stravinsky compôs, para acompanhar os recitativos, pequenas árias, duos e trios e ainda concertatos camerísticos. Jamil Maluf soube muito bem respeitar dando-nos versão detalhista e refinada da obra do mestre soviético ao pódio de sua orquestra experimental de repertório (OER).
Jorge Tacka encenou-a como fábula ainda desconhecida entre o público, com humor inteligente, algumas passagens estranhas mas de interessantes resoluções do ponto de vista criativo, qualidade que lhe é peculiar no universo de símbolos e imagens. Introduziu, acrescentou detalhes cênicos para quebrar os vazios que a partitura, por vezes não preenche, provocando então a especulação e as conclusões sucessivas e pessoais do espectador. Os meus aplausos a esse “homem de teatro” que, pela experiência e dedicação, sabe proporcionar a curiosidade e despertar a atenção do público através de atores coadjuvantes e extraordinários, bailarinos, adereços e efeitos cênicos acoplados aos solistas principais e coro. A direção cênica multiplicava os personagens centrais (Tom e Anne) por interpretação quadruplicada pelos eficientes bailarinos coreografados por Sabrina Mirabelli, sábia do enredo e do méttier. Da mesma forma adicionou elementos na cena do bordel (quadro II) atribuindo-nos um entretenimento de agradável visual. Merece destaque também a marcação da cena do hospício de Bedlam.
Figurinos lúdicos, criativos e de bom senso de Mira Haar, com realce para Nick, Sellem e Baba. Coral Paulistano bem preparado por Bruno G. Facio, cenicamente saiu-se eficaz. A cenografia também de Tacka coadunando-se com o todo cênico. Bom sobretudo o cenário das cenas 1 e 3 (conforme o programa assinala) os quais favorecem espetacularmente aos cantores solistas, empurrando-os para a ribalta, facilitando-lhes assim, a emissão vocal e, no prolongamento contínuo a acústica positiva. Cenários simplérrimos, apenas um telão como porta corrediça de casa comercial (no jardim dos Trulove); os demais resumiram-se a um fundo de bloco MDF pintado. E só. Mesas, cadeiras e bancos de jardim estilizados, tudo muito pobre. O elemento salvador foi a boa iluminação de palco de Ney Bonfante.
Comentar sobre a musicalidade de Rosana Lamosa tornou-se já comum, desde que ela assuma personagens adequados à sua tessitura e à sua extensão vocal (Mimi, Juliette, Adina, Norina, Marie, Micaela ou Melisande). Como Anne, sua performance deu-se muito bem. Bonita colocação de voz, timbre picante e dicção da fonética inglesa apropriados, jogo cênico elegante e juvenil em papel que foi acertado para ela.
A ela somou-se o Tom Rakewell de Chad Shelton, tenor lírico americano de sensata presença cênica e colorido vocal. O baixo Sávio Sperandio (Nick Shadow), cantor presente em muitas produções líricas brasileiras, saiu-se bem vocal e cenicamente. Esperamos revê-lo como Ferrando (Il Trovatore) e no Fafner de (O Ouro do Reno), de Wagner no Theatro Municipal, (2013).
O veterano contralto Sílvia Tessuto nas vestes de Baba, a turca barbada, esteve bem irregular no seu canto. A tessitura bastante grave de seu personagem exige da intérprete uma voz de agilidade com a melhor forma vocal, e de um maior vigor e jovialidade. Cenicamente; apenas regular em suas aparições.
Há que se destacar desta vez a atuação no palco de André Vidal (tenor leggero) de boa escola e possuidor de um currículo invejável, apresentou-se muito bem caracterizado como o leiloeiro Sellem. Saulo Javan (Trulove) desafinou apesar de uma boa caracterização do pai de Anne. Marcelo Santos, barítono do Coral Paulistano, portou-se eficiente e corretíssimo vocalmente em sua inserção na última cena da ópera ( o hospício de Bedlam). Participou Adriana Clis (Mamãe Gansa, cena 2) bastante atraente com seu corpo em exposição, exibiu talento cênico e sua voz de meiossoprano ajustado ao papel. Vê-la-emos ainda neste ano como a sedutora Lola de “Cavalleria Rusticana”, a sempre aplaudida obra de Pietro Mascagni.(Outubro/2013).
Escrito por Marco Antônio Seta. Em 15/6/2013
Subiu pela primeira vez ao palco do Teatro La Fenice de Veneza a 11/9/1951. Esta é a sexta e última ópera de Igor Stravinsky (1882-1971), que regeu sua “premiere” naquele célebre teatro veneziano. A performance contudo, esteve longe de ser satisfatória ao público, tanto na estreia, como ontem no Theatro Municipal paulistano, que por sinal contava com apenas meia casa de espectadores (noite de sexta-feira 14/6/2013).
Quanto à música, o próprio compositor se explica, em texto de 1964: “Mais do que buscar formas musicais simbolicamente expressivas do conteúdo dramático (como nos exemplos labirínticos de Alban Berg) , escolhi vazar The Rake”s Progress no molde de uma ópera de números do séc. XVIII, na qual a progressão dramática depende das sucessão de peças separadas: recitativos e árias, duos, trios , coros e interlúdios instrumentais”
Para iniciarmos o comentário crítico, desejamos assinalar aqui o nosso protesto no que se refere aos compositores nacionais, frequentemente ausentes, sobretudo nas temporadas de São Paulo, Rio de Janeiro e demais polos líricos do país. Encenam-se Stravinsky, Benjamim Britten, Debussy, Ravel, Korngold, Zemlinsky; enquanto Carlos Gomes, o maior compositor lírico brasileiro e americano, permanece arquivado nas estantes dos teatros brasileiros. Como nos explicam isto maestros brasileiros ?
São tantas as passagens virtuosas entremeadas com momentos camerísticos : piano no registro de cravo, pequenos temas nos arcos camerísticos, solos de madeiras e metais (duas trompas e dois trompetes somente na orquestra reduzida de Stravinsky, de seu período neoclássico com influências gluckianas, e também de Monteverdi e Mozart). Stravinsky compôs, para acompanhar os recitativos, pequenas árias, duos e trios e ainda concertatos camerísticos. Jamil Maluf soube muito bem respeitar dando-nos versão detalhista e refinada da obra do mestre soviético ao pódio de sua orquestra experimental de repertório (OER).
Jorge Tacka encenou-a como fábula ainda desconhecida entre o público, com humor inteligente, algumas passagens estranhas mas de interessantes resoluções do ponto de vista criativo, qualidade que lhe é peculiar no universo de símbolos e imagens. Introduziu, acrescentou detalhes cênicos para quebrar os vazios que a partitura, por vezes não preenche, provocando então a especulação e as conclusões sucessivas e pessoais do espectador. Os meus aplausos a esse “homem de teatro” que, pela experiência e dedicação, sabe proporcionar a curiosidade e despertar a atenção do público através de atores coadjuvantes e extraordinários, bailarinos, adereços e efeitos cênicos acoplados aos solistas principais e coro. A direção cênica multiplicava os personagens centrais (Tom e Anne) por interpretação quadruplicada pelos eficientes bailarinos coreografados por Sabrina Mirabelli, sábia do enredo e do méttier. Da mesma forma adicionou elementos na cena do bordel (quadro II) atribuindo-nos um entretenimento de agradável visual. Merece destaque também a marcação da cena do hospício de Bedlam.
Figurinos lúdicos, criativos e de bom senso de Mira Haar, com realce para Nick, Sellem e Baba. Coral Paulistano bem preparado por Bruno G. Facio, cenicamente saiu-se eficaz. A cenografia também de Tacka coadunando-se com o todo cênico. Bom sobretudo o cenário das cenas 1 e 3 (conforme o programa assinala) os quais favorecem espetacularmente aos cantores solistas, empurrando-os para a ribalta, facilitando-lhes assim, a emissão vocal e, no prolongamento contínuo a acústica positiva. Cenários simplérrimos, apenas um telão como porta corrediça de casa comercial (no jardim dos Trulove); os demais resumiram-se a um fundo de bloco MDF pintado. E só. Mesas, cadeiras e bancos de jardim estilizados, tudo muito pobre. O elemento salvador foi a boa iluminação de palco de Ney Bonfante.
Comentar sobre a musicalidade de Rosana Lamosa tornou-se já comum, desde que ela assuma personagens adequados à sua tessitura e à sua extensão vocal (Mimi, Juliette, Adina, Norina, Marie, Micaela ou Melisande). Como Anne, sua performance deu-se muito bem. Bonita colocação de voz, timbre picante e dicção da fonética inglesa apropriados, jogo cênico elegante e juvenil em papel que foi acertado para ela.
A ela somou-se o Tom Rakewell de Chad Shelton, tenor lírico americano de sensata presença cênica e colorido vocal. O baixo Sávio Sperandio (Nick Shadow), cantor presente em muitas produções líricas brasileiras, saiu-se bem vocal e cenicamente. Esperamos revê-lo como Ferrando (Il Trovatore) e no Fafner de (O Ouro do Reno), de Wagner no Theatro Municipal, (2013).
O veterano contralto Sílvia Tessuto nas vestes de Baba, a turca barbada, esteve bem irregular no seu canto. A tessitura bastante grave de seu personagem exige da intérprete uma voz de agilidade com a melhor forma vocal, e de um maior vigor e jovialidade. Cenicamente; apenas regular em suas aparições.
Há que se destacar desta vez a atuação no palco de André Vidal (tenor leggero) de boa escola e possuidor de um currículo invejável, apresentou-se muito bem caracterizado como o leiloeiro Sellem. Saulo Javan (Trulove) desafinou apesar de uma boa caracterização do pai de Anne. Marcelo Santos, barítono do Coral Paulistano, portou-se eficiente e corretíssimo vocalmente em sua inserção na última cena da ópera ( o hospício de Bedlam). Participou Adriana Clis (Mamãe Gansa, cena 2) bastante atraente com seu corpo em exposição, exibiu talento cênico e sua voz de meiossoprano ajustado ao papel. Vê-la-emos ainda neste ano como a sedutora Lola de “Cavalleria Rusticana”, a sempre aplaudida obra de Pietro Mascagni.(Outubro/2013).
Escrito por Marco Antônio Seta. Em 15/6/2013
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