TEM GRINGO DEMAIS NA OSESP . ARTIGO DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   

   O intercâmbio de maestros e solistas estrangeiros em uma orquestra é salutar, acrescenta qualidade e novas ideias. Para uma orquestra em formação é essencial esse intercâmbio, vejo a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo amadurecida o suficiente para não depender tanto das idas e vindas de estrangeiros. Os tempos são outros e a função da orquestra hoje é capacitar solistas e maestros brasileiros. Não que seja proibitiva a vinda deles, mas a atual direção peca pelo excesso. A temporada é composta em sua maioria por convidados de fora e os profissionais brasileiros são deixados de lado.
    A equipe da OSESP é composta por uma maestrina que tem o título de Regente Titular , Marin Alsop ganha uma bolada para ficar na orquestra umas 8 semanas por ano. A maestrina é competente, mostrou boa regência, mas será que vale tudo isso. Quando John Neschling era Diretor Artístico e Regente Titular reclamavam do alto salário dele. Ele trabalhava por dois, fazia o trabalho de Arthur Nestrovky (atual diretor artístico) e de Marin Alsop e por ser brasileiro reclamavam do salário pago a ele. Poucas vezes vi alguém levantar e voz para reclamar do salário da maestrina americana.

   A nomeação e manutenção de Yan Pascal Tortelier como Regente Convidado de Honra é uma aberração e afronta aos músicos. O maestro francês ficou dois anos como titular e não acrescentou nada, criticou publicamente os colegas e ainda mantém o cargo. A Artista em Residência Nathalie Stutzmann cantou sem vontade e não fez nada mais que o arroz com feijão em sua apresentação. Temos ainda os cargos de  Compositor Transversal para  Witold Lutoslawski e Compositor Visitante Lera Auerbach . A OSESP segue a tradição das empresas públicas brasileiras de inchar e inventar cargos para todos.
   Segundo o site da OSESP essa ano serão mais de 85 regentes e solistas que se apresentarão com a orquestra. Vendo a temporada constatamos que a maioria deles são de estrangeiros. Será que não temos solistas a altura para interpretar a Missa Glagolítica de Leos Janacék , o Réquiem Alemão de Brahms ou os solos do Concerto para Violino de Tchaikovsky? Temos sim , maestros, solistas e cantores de qualidade e no mesmo nível ou senão melhores que os de fora. Para que pagar altos cachês, hotel , passagens de avião e transporte para gringos se temos artistas a altura em nosso país.
   Os estrangeiros trabalham muito na OSESP, enquanto nossos compatriotas ficam esperando uma oportunidade ou um cancelamento. A desmotivação toma conta e talentos que podem ser lapidados se apresentando com a orquestra são desperdiçados em nome de gringos. Para solista ou maestro de fora ter o direito de se apresentar em nosso solo tem que ser o máximo, o excepcional ou o virtuose. Trazer artista do mesmo nível que dos nossos , fiquemos com os brasileiros.  
Ali Hassan Ayache
    

Comentários

  1. Isso é porque vocé ainda não viu o que estão começando a fazer na Fundação Theatro Municipal. Dê uma olhada na relação de solistas das óperas deste semestre e veja quantos são estrangeiros. Além disso, estão começando a contratar estrangeiros para colocar no lugar dos brasileiros na área de cenotécnica. Mandaram embora um brasileiro que ganhava 3 mil e trabalhava ali há anos e botaram em seu lugar um italiano, que receberá 12 mil para executar a mesma função do anterior. O próximo a vir é um espanhol.

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  2. Marcelo Lopes Pereira24 de junho de 2013 às 16:29

    isso sem falar do Claúdio Cruz que se licenciou para seu heróico trabalho junto a Orquestra Jovem do Estado, e trazem spallas de fora sem nada a ver com a OSESP, ainda bem que nas últimas folgas do Baldini como Spalla tivemos o grande David Graton fazendo um ótimo trabalho como Spalla

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  3. No municipal, vemos a melhora, eu sei pois trabalho lá, antes tudo era pautado num amadorismo que beirava orquestra jovem, agora não, já vi cantores e regentes brasileiros ganharem uma fortuna pra fazer as recitas e não darem conta, não é só com nome que se trabalha, e um musico se defende TOCANDO, claro temos cantores ótimos mas também temos pessoas com muita pompa, circunstância e superficialidade...

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  4. Marcelo Lopes Pereira25 de junho de 2013 às 10:43

    A você que trabalha no Theatro Mvnicipal desejo muito sucesso e que a Orquestra se consolide cada vez mais e se torne uma rival saudável da OSESP para que ambas as casas floresçam com concertos cada vez melhores e principalmente que vocês do Theatro Mvnicipal e OSESP fiquem livres das mazelas de nossos políticos...

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  5. Concordo com tudo que diz o crítico. Apenas uma pergunta, se me permite: O que seria um compositor transversal?

    Abraços musicais a todos!

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    1. Sinceramente não faço a menor ideia do que seja um compositor transversal.

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    2. Marcelo Lopes Pereira25 de junho de 2013 às 13:36

      Ali, Fiz essa pergunta em 2011 numa palestra da OSESP e foi essa a resposta:

      Trata-se de um compositor contemporâneo (falecido ou não) cujas obras são apresentadas em vários programas da OSESP (orquestra, música de Câmara, coro, quarteto de cordas ) essas obras muitas vezes são apresentadas pelo próprio compositor quando o mesmo é vivo.

      Gosto muito dessas apresentações pois introduzem novas músicas em meu repertório e nem tudo que é novo é ruim. Magnus Lindenberg no ano passado detonou como compositor transversal e mostrou que a Finlândia hoje é um grande e rico seleiro musical

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  6. Obrigada pelas respostas! :)

    Abraços!

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  7. John Neschling no Facebook: Sob o título de "Gringo demais na OSESP" Ali Hassan Ayache escreve um artigo no blog Movimento.com no qual reclama do número excessivo ( na sua opinião) de artistas estrangeiros e da parca colaboração de artistas brasileiros na temporada da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Escorrega num terreno sobremaneira perigoso: o da xenofobia e do chauvinismo na arte. Nada mais perigoso do que o nacionalismo metido como argumento na organização de uma temporada de excelência. Excelência artística é algo que não se coaduna de forma alguma com argumentos de que artistas estrangeiros estão tomando o lugar de artistas nacionais. Aliás chauvinismo e xenofobia são traços nocivos ao desenvolvimento qualitativo so der huimano em geral, e isso em qualquer área de nossa sociedade. Um país como o nosso não seria o que é hoje sem a participação das inúmeras nacionalidades que entremeiam a nossa populacão e que ajudaram a formar o nosso tecido cultural e econômico - inclusive na criação de uma orquestra como a OSESP.
    Não tenho notícia de que a orquestra de Filadélfia tenha jamais reclamado de ter tido maestros "estrangeiros" como Eugene Ormandy, Riccardo Mutti ou o atual jovem francês que a dirige. Imaginem se alguém sai por aí dizendo que há jovens americanos mais capazes ou tão capazes quanto ele!
    Ou será que há em Cleveland alguém reclamando do fato de Franz Welser-Most estar à frente da orquestra como um dos sucessores de George Szell, ambos "estrangeiros" nos Estados Unidos?
    Ou de que Mariss Janssons é o prestigiadíssimo chefe da Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam e do Bayrischer Runfunk de Munich? Afinal ele não é nem holandês nem alemão... E nesses países abundam os excelentes músicos e regentes...
    Alguém faz as contas de quantos "estrangeiros" e quantos austríacos regem na Opera de Viena? Ou na Filarmônica de Londres?
    Então porque essa matemática provinciana e medíocre quando se fala da OSESP? A Orquestra Sinfonica de São Paulo é um dos poucos equipamentos de excelência nesse país e vem um senhor chamado Ali Hassan Ayache ( certamente não é descendente de Caramuru) reclamar do número excessivo de estrangeiros?
    E antes da OSESP reestruturada, (por um certo Neschling, que também não tem nenhum parentesco com Araribóia) quando a orquestra empregava praticamente só "elementos nacionais", qual era a qualidade que se apresentava?
    O perigo é que esse discurso transborde para outros equipamentos: para o Theatro Municipal, para a OSB, para a Bienal de São Paulo e outras instituições que devem buscar a excelência independente da nacionalidade dos artistas que neles se apresentam.
    Ou então neguemos a nossa história, recheada de Roussefs, Kubitcheks, Medicis, Vargas e vai por aí.
    Abaixo a xenofobia e o chauvinismo! Viva a qualidade e a excelência

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  8. Leonardo Martinelli no facebook: O curioso dos argumentos do Ali é que caso eles tivessem partido de um crítico musical até poderíamos entendê-los como uma falha de sua formação humanista geral. Mas o surpreendente é que ela vem de um professor de geografia, que deveria estar a par da importância dos movimentos migratórios na formação de diversos povos e culturas e, principalmente, das catastróficas consequências quando este tipo de discurso alimenta a xenofobia, diásporas e multidões de refugiados em trânsito pelo mundo. Uma orquestra é um microcosmo. O que se faz/pensa dentro ou sobre de uma orquestra pode facilmente ser aplicado ao mundo como todo. E isso o mundo já viu acontecer anteriormente...

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  9. Marco Antônio Seta no site movimento.com : Parabéns Ali pelo artigo. Nossos solistas instrumentistas e cantores ficam aí esperando a sua vez, enquanto esses estrangeiros, muitas vezes de qualidade duvidosa, vêm com todas as regalias, realizam uma apresentação apenas regular ou até sofrível, e saem batendo as asas e proclamando ao mundo inteiro, que se apresentaram numa das maiores salas de concerto da América Latina: A Sala São Paulo e com a OSESP!
    Qual é o saldo para nós, brasileiros ?

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  10. Fernando no site movimento.com : A função da OSESP não é capacitar solistas e maestros brasileiros. Se há estrangeiros demais na OSESP isto se deve à nossa incapacidade de formar solistas de gabarito internacional. Esta papel deve ser desempenhado por outras orquestras, por conservatórios, universidade, festivais, programas de intercâmbio e auxílio a estudos no exterior.
    No mais, a idéia de criar uma “reserva de mercado” para músicos brasileiros é absurda numa arte sabidamente cosmopolita. E também ineficaz. Um exemplo? Basta lembrar o atraso brasileiro deixado pela reserva de informática.
    Sair criando regras de exceção é sempre perigoso. Os nazistas perseguiram os judeus na Filarmônica de Berlim. Hoje nós começamos a banir os solistas estrangeiros e isso termina onde? Por que não reservar os postos da orquestra só a brasileiros natos também? Ou aos integrantes de um partido político, a determinada orientação religiosa ou sexual? Porque não criar uma cota para negros, minorias, para torcedores do Corinthians, do Palmeiras? O ponto é: quem vai decidir quem vai ser privilegiado e a partir de quais critérios?
    A OSESP não é um local de formação e sair criando regras de exclusão já se mostrou ineficiente além de ser muito perigoso. Ninguém é convocado para titular da seleção brasileira de futebol para se capacitar a jogar como titular na seleção brasileira de futebol. Isto não faz sentido ali e na OSESP também.

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    1. Eu acredito que se deve ser feito uma seleção,uma audição.Aonde o brasileiro e estrangeiro dispute a vaga desejada,agora ir lá no mercado estrangeiro e pagar pro profissional,acho que deixa nosso país incapacitado de preencher a vaga com nossos irmãos.Brasil é grande,e certamente existe profissionais no mesmo nível,mas paulistano que se preza tudo depois de sampa é norte ou nordeste,que seja,mais tem que haver uma seleção aqui.Os outros comentários eu acho meio que hipócritas e bem exagerados também,citar xenofobia? o texto do critico é claro e não tem nada recriminatório ou descriminatório.O texto do critico mostra o que de real está acontecendo, nossa terrinha foi colonizada por gringo,aqui é uma gringolândia.Sou médico,a saúde do nosso país é um caos,porém nosso estado maior( presidente ) acha quetrazer gringos médico companheiros vai resolver,enquanto sabemos que na verdade o que se tem que mudar é o sistema e a estrutura. Assim é com o mundo das artes.Mudar as estruturas,abrir espaço do iapoque ao chui para se achar talentos que estão pra ser lapidados,não subestimas os profissionais formadores e somente depois trazer gringo para gringolândia.A capacidade do brasileiro é a mesma do estrangeiro o que diferencia são as ferramentas que o profissional tem disponível para que seu talento seja bem explorado,então que traga tecnica ou as ferramentas e qualifiquem inúmeros talentos que temos disponíveis.E o critico é um gringo na gringolândia,que paga seus impostos e emprega dezenas de tupiniquins.Parabéns Ali Hassan Ayache.
      Dr.Marcos Mutran

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  11. Não se trata de banir os estrangeiros e fazer reserva de mercado para os brasileiros. O problema é pagar, a esses estrangeiros, três ou quatro vezes mais do que se costuma pagar a um brasileiro, para desempenhar a mesma função ou papel. Sem falar na qualidade, já que muitos desses estrangeiros estão em fim de carreira em seus países, e às vezes ficam muito aquém de brasileiros que estão aí. Já vi tenores estrangeiros horrorosos virem cantar ópera, quando muito tenor de coro daqui cantaria muito melhor. O xis da questão é o tal do agenciamento. Fechar contratos lá fora facilita o acobertamento de irregularidades e a. cobrança de comissões por fora.

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