O REINO DA MESMICE ETERNA NO BALÉ DA CIDADE DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   TMSP, Foto internet.

   Entra ano e sai ano, troca-se a direção e as coisas no Balé da Cidade de São Paulo nunca mudam. Sempre repertórios parecido, sempre os mesmos passos e nunca, de maneira nenhuma dança clássica. A predileção pelas acrobacias toma conta , os coreógrafos amam bailarinos se arrastando pelo chão e uma cambalhota sempre soa moderninha e é muito bem vinda. Dessa vez eles se superaram e colocaram a careta como ação dramática. Quando nomearam Iracity Cardoso como diretora artística imaginei mudanças, mas nem a nobre diretora consegue colocar a Cia nos eixos.

   Uneven, foto internet

   A apresentação do dia 05 de Julho tinha na primeira parte Uneven de Cayetano Soto, nos informa o programa que essa palavra significa desigual, se a coreografia fosse isso seria ótimo. O que se viu foram passos agressivos , insignificantes e sem nexo. Os solistas da casa fizeram o que puderam (deve ser duro ser bailarino do TMSP ), deram o melhor de si para tentar mostrar os complexos passos criados pelo coreografo. Sofreram horrores e fizeram todo tipo de cara feia. Colocar um violoncelista no palco é uma ideia manjada, esse com som microfonado dialoga com temas de outros violoncelos e sei la eu mais que instrumentos. Ficou uma barulheira chata que dá um ar de moderninho a apresentação e a moçada delira com orgasmos artísticos. 
   
Sagração da Primavera, foto internet.
Comemorando os cem anos da Sagração do Primavera de Stravinsky  o Theatro Municipal de São Paulo trouxe uma remontagem de 1985 feita pelo coreografo Luis Arrieta. A visão do coreografo oscila entre momentos interessantes e passos sem nexo. O espaço urbano é presente e unido  a uma visão de nascimento e morte tiveram exposições interessantes em bonecos que dialogam com os bailarinos. A luz realça a ideia de conjunto, diversas passagens pecam pelo exagero como fazer os bailarinos gritarem. A Sagração da Primavera é mais que uma obra, é um ritual com múltiplos sentidos, Arrieta nos transporta a uma visão urbana e moderna da obra, mas peca pelo excesso em passos  desconexos.
   A Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo nas mãos do regente Victor Hugo Toro mostrou uma sonoridade em alto volume com  metais possantes, conseguiu superar as muitas armadilhas da partitura com música de qualidade, pequenas derrapadas ocorreram, mas nada que prejudicasse a essência da obra.
   No programa entregue na entrada tem de tudo. Textos sobre a obra, uma Sinopse em três poemas (totalmente dispensável) e a biografia de toda a galera, gente de mais querendo aparecer, haja confete. Na próxima vez coloquem a minha por favor!  O melhor de tudo foi uma bela loira que sentou ao meu lado, apesar de loira a moça era de uma inteligência peculiar, o intervalo foi interessante ao menos.
Ali Hassan Ayache    

Comentários

  1. Marcelo Lopes Pereira8 de julho de 2013 às 09:21

    Ali,

    Seus comentários algumas vezes são muito bacanas, e esse foi um deles.
    Assisti a apresentação e achei o primeiro Ballet apresentado chato, sem nexo, e apenas um Cello tocando quase as mesmas notas o tempo todo, com o agravante de ser microfonado.
    A Sagração da Primavera, senti algumas escorregadas da orquestra (isso é normal eles estão se ajeitando e subindo de nível), porém o que me desagradou profundamente foi a microfonagem da orquestra, e não sei por qual motivo fizeram essa estultícia, fui na apresentação de Sábado à noite, pois no Domingo de manhã teríamos uma apresentação sem orquestra que no meu entendimento não deveria ocorrer. Poderiam ter feito uma apresentação extra na terça à tarde, deixando de lado a absurda apresentação sem orquestra do domingo de manhã.

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  2. Assisti e achei muito chato; bailarinos perdidos, tinha até gente
    saindo da platéia. Remontar coisas velhas e ultrapassadas, bater sempre na mesma tecla faz com que esse balé da cidade de sp nunca saia do patamar do "bonitinho".

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  3. John Neschling no Facebook:

    " George Steiner, no seu livro "Real Presences" (Chicago, University Press) tenta imaginar uma sociedade em que seja proibida toda conversa sobre artes, música e literatura. Nessa república, segundo Steiner, as artes não seriam mais obliteradas pela camada de ozônio que são os comentários. Porque, diz Steiner, o "executante investe o seu próprio ser no processo interpretativo. A execução de uma sinfonia é já a própria crítica dessa execução". A execução, diz o pensador, é um ato de responsabilidade nem de longe semelhante à que está sujeito o crítico mais consciencioso.
    Nesses tempos internáuticos e virtuais, porém, dá-se espaço às mais variadas excrescências críticas que geralmente resultam de uma combinação bombástica de "Google search" mais ignorância e prepotência próprias. A tal responsabilidade à qual se refere Steiner é solenemente ignorada, e o trabalho de criadores que se esforçam com mais ou menos sucesso, para subir ao palco e mostrar o que criaram é esfregado na lama de maneira diletante e desinformada.
    Eu adoro arquitetura. Leio, visito e estudo arquitetura contemporânea há anos. Jamais me arvoraria, amador que sou, a proferir juízos críticos sobre arquitetos profissionais. Posso no máximo dizer se gosto ou não gosto de determinada obra e porque, com toda a cautela que a minha ignorância da matéria me obriga a ter.
    Analisar publicamente um espetáculo como uma dona de casa analisa uma novela na hora do jantar é o que se pode chamar de "ignorância ativa", e só presta um desfavor às artes.
    Como pode um perfeito diletante formado, vamos dizer, em geografia, analisar a partitura da "Sagração da Primavera"? Relatar que ouviu uma orquestra com sonoridade a alto volume e com metais possantes?
    Teria um torneiro mecânico da mais alta competência a petulância de discutir publicamente aspectos da cirurgia cardíaca? Não creio, a não ser que quisesse se expor ao ridículo mais total e irremediável!
    Que dizer de um curioso desinformado da matéria que ousa falar de coreografia como sendo passos agressivos, insignificantes e sem nexo?
    Ou de outro que se refere a uma peça contemporânea como uma barulheira chata, ou que fala de frescurinhas modernas em espetáculos - sem especificar a que se refere de forma tão chula e genérica?
    Não fosse pela falta de respeito aos artistas que tiveram a responsabilidade de subir ao palco e expor o resultado de meses, anos de trabalho, não fosse pelo mal que tais pseudo-críticas que não são mais que opiniões sem fundamento, podem causar, tais impropérios deveriam ser ignorados completamente.
    Parafraseando Faulkner o crítico dos tempos midiáticos é aquele sujeito que pega a obra de um artista e rabisca em cima: " o biriba esteve aqui".
    Amen."

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    Respostas
    1. Vi o espetáculo e gostei muito!Acho uma arte ocupar espaços, todos os espaços do palco com diversidade de movimentos(o clássico dando ênfase ao patético-moderno, se quiser) numa expressividade que me pôs tão sensível à beleza que agradeço aos artistas e principalmente ao coreógrafo Luis Arrieta não só pelo efeito que tiveram em mim , mas pela Beleza em si, que vingou e salvou-nos (pelo menos por momentos) da vida hoje tão vilipendiada neste país.
      Angela

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