CARMINA BURANA. OS SEGREDOS DE UM DOS HITS DA MÚSICA CLÁSSICA. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
http://youtu.be/jA9AZai-7vM
Amar ou não a Cantata de Orff
A obra de Carl Orff tenta restituir um clima medieval, enchendo de clichês do tipo imitação de cantos gregorianos ou longos bordões de quintas, mas o pastiche criado acabou sendo muito bem recebido pelo público, e apesar de ter pessoalmente muitas reservas a respeito desta obra reconheço que ela atraiu maestros respeitados como Eugen Jochum, Ricardo Chailly e André Previn. No entanto vale também a pena citar que diversos maestros se recusaram a reger a obra, e que a música de Orff continua banida até hoje em Israel. A música de Orff tinha muitos elementos que agradavam os ideólogos nazistas, sobretudo a sua simplicidade de compreensão. As relações de Orff com os nazistas ficaram ainda mais evidenciadas com as contradições a respeito de sua relação com o movimento dissidente “Rosa branca”. Para sair livre em seu julgamento feito pelos aliados despois da derrota da Alemanha em 1945, ele usou como argumento uma eventual colaboração para a libertação de membros desta organização dissidente, o que foi desmentido por familiares dos membros deste movimento mortos pelos nazistas. Orff chegou a falsificar uma carta de agradecimento cujo autor nunca existiu.
Programar Carmina Burana de Orff é garantir sala cheia, e vem muitas vezes em socorro de maestros que estão com a cotação em baixa pois o sucesso é garantido. Sua música com “ares de antiga” e seu ritmo repetitivo faz com que muita gente que não gosta de música clássica acabe “curtindo” a composição. Editada pela “Schott Verlag” (grande editora alemã) é de tal maneira executada que mantém financeiramente a casa editora, o que explica que a mesma se permita editar obras pouco comerciais, tipo ação Hobin Hood. Para aumentar seus lucros os editores liberaram a execução da obra em sua transcrição do autor para dois pianos e percussão substituindo a orquestra, sendo que o compositor havia determinado que esta versão só pudesse ser executada em cidades que não possuíssem uma orquestra sinfônica, mas hoje em dia esta versão é permitida de ser usada pelos editores em qualquer cidade. Carmina Burana é a primeira parte de uma trilogia composta de mais duas partituras: Catulli Carmina e O triunfo de Afrodite. Como as demais obras de Orff, estas partituras são raramente executadas, sendo que O triunfo de Afrodite é quase totalmente desconhecida, e extremamente pobre em termos de inspiração. Nas três obras há uma clara expressão erótica, chegando, no prólogo de Catulli Carmina, a existir um texto claramente pornográfico (texto este de autoria do próprio Orff, em latim).
Respeito Carmina Burana, e já regi não somente esta partitura (substituindo um colega doente) como também Catulli Carmina (em primeira audição em São Paulo). Tenho que reconhecer que a partitura tem suas qualidades, mas raramente a escuto. Quem quiser ouvir a obra numa execução séria, sem nenhum tipo de vulgaridade, recomendo a gravação regida por Eugen Jochum, tendo três fantásticos solistas: Gundula Janovitz, Gerhard Stolze e Dietrich Fischer-Dieskau. Foi lançada pelo selo Deutsche Grammophon.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/
Comentários
Postar um comentário