CHEGUE APÓS O INTERVALO, SHOSTAKOVICH E LUTOSLAWSKI NA SALA SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
O Concerto para Violoncelo de Witold Lutoslawski apresentado pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo no dia 25 é daqueles que se mostram moderninhos e não dizem absolutamente nada. Alguns entendidos de música vêem teatralidade expressiva, imaginam formas construtivas ou desconstrutivas ( sei lá) e um monte de bobagens mais. Resumo do concerto: música chata com solos de violoncelo parecendo gata no cio no telhado das casas. Todos os instrumentos tocam sem coordenação e sem expressão alguma. Penoso é o longo solo de abertura, quase cinco minutos de sofrimento e tortura onde o solista Pieter Wispelwey fez manobras radicais com seu arco que irritam aos ouvidos. Não que a culpa fosse dele, seguiu uma partitura confusa e sem nexo. Conselho para quem vai para a Sala São Paulo nos dias 26 , 27 e para o Festival de Inverno de Campos do Jordão dia 28, chegue após o intervalo.
Dmitri Shostakovich, foto Internet
A compensação veio na segunda parte, a Sinfonia nº 10 em Mi Menor, Op.93 de Dmitri Shostakovich regida por Michail Jurowski mostrou uma música soberba e temas excitantes nos quatro longos movimentos . Shostaovich dá uma aula de diálogos entre instrumentos nessa sinfonia com uma musicalidade efervescente. Suas birras com o regime soviético e com o líder Stalin quase o fizeram ir para o xilindró na Sibéria onde certamente morreria de frio. Dedicou o segundo movimento da décima sinfonia a Stalin , que ficara enfurecido por não ter sido endeusado na nona.
A OSESP tocou com precisão em todos os naipes, mostrou todas as nuances e formas contidas na bela sinfonia. O regente Michail Jurowski expressou força nos momentos marciais e delicadeza nas partes líricas. Os curtos solos de diversos instrumentos foram muito bem executados pelos experientes músicos da orquestra. Uma apresentação de gala , que compensou as bobagens da primeira parte do concerto e mostrou que valeu enfrentar o frio de oito graus da noite paulistana.
Ali Hassan Ayache
Concordo absolutamente com sua avaliação da sinfonia se Shostakovich: expressiva, forte e a execução da osesp foi de tirar o fôlego. Entretanto, sua avaliação do concerto para cello tem a ver, imagino, com a incompreensão do que é arte moderna. Shostakovich não é tão radical: trabalha com uma tonalidade extendida, digamos assim, que suporta e trabalha com dissonâncias e construções melódicas não canônicas. Mas não tem mais a ver conosco as belas frases de Mozart ou a tonalidade rígida do mesmo, por exemplo: o homem moderno está todo despedaçado, sua sensibilidade é outra e sua subjetividade também. falta, portanto, o homem do século Xx: temos a música, mas não o novo ouvido que ela exige. Talvez por que ainda estamos imersos em tonalidades burras, ou por falta mesmo de conhecimento. Avaliações como a sua são o homem do século XIX lamentando a morte do seu sistema que qye já ruía desde muito tempo.
ResponderExcluirAdoro seu blog, continue!