COPA DAS CONFEDERAÇÕES E CUSTEIO DA CULTURA. COMPARANDO CUSTOS. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

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Estádio de Brasília: Custo de R$ 1.202.466.858,78 (um bilhão, duzentos e dois milhões, quatrocentos e sessenta e seis mil, oitocentos e cinquenta e oito reais e setenta e oito centavos)


   Eu não entendo nada de futebol, e as opiniões emitidas por jogadores famosos (Ronaldinho e Pelé) nos últimos dias me deixam com pouca vontade de curtir este esporte. Não discuto, e respeito, o amor ao futebol que reina em nosso país, mas fiquei chocado ao ver os custos desta Copa das Confederações, não somente pelo custo faraônico dos estádios mas pelo gasto pelos governos federal, estadual e municipal para cada jogo da competição. Em termos de custos para construção de estádios a coisa é impressionante. Apenas o de Brasília, o Mané Garrincha, custou R$ 1.202.466.858,78 (um bilhão, duzentos e dois milhões, quatrocentos e sessenta e seis mil, oitocentos e cinquenta e oito reais e setenta e oito centavos). Mas vou me ater em meu texto a um número menor. Vou me ater ao custo para apenas um jogo desta Copa, que aliás trouxe ao Brasil seleções absolutamente inexpressivas (Taiti, Japão, Nigéria) e não trouxe o que há de melhor , salvo a nossa seleção, a da Espanha e da Itália. Vale lembrar que esta Copa das Confederações está sendo feita aqui a pedido do governo brasileiro, segundo informou hoje o jornalista Juca Kfouri no em seu blog.
A minha intenção neste texto é comparar o custo de cada um dos 16 jogos desta Copa com os custos da nossa vida cultural, particularmente na parte musical. Cada um dos 16 jogos da Copa das Confederações custará em média R$ 15,8 milhões aos cofres públicos nacionais, em dados obtidos no UOL Esporte. E o total, na verdade, é maior: não é possível contabilizar custos com operações de segurança e trânsito para partidas ou com a aceleração de obras das arenas para concluí-las para a competição. Pois bem, tomemos apenas o custo de R$ 15,8 milhões, e vamos comparar com o que o governo gasta na área da produção musical, minha área.


Harpas de qualidade. Quantas orquestras no Brasil possuem?

Instrumentos musicais

Com R$ 15,8 milhões poderiam ser comprados 32 pianos Steinway , pagando todos os impostos. Sem os impostos, que os órgãos governamentais podem estar isentos, chegaríamos a mais de 60 pianos Steinway de concerto. Um Steinway alemão é o melhor piano de concertos do mundo, mas se abrirmos mão desta qualidade, com este total poderíamos comprar 158 pianos verticais de ótima qualidade, ou mais de 300 sem impostos.Com R$ 15,8 milhões poderíamos comprar muitos instrumentos caros, que em geral estão em estado capenga nas nossas orquestras. Este valor poderia comprar 125 harpas da mais alta qualidade, e 104 jogos de tímpanos da melhor qualidade. Sem impostos esta quantia dobra. Com exceção da OSESP, nenhuma orquestra brasileira possuem os instrumentos cujo preço eu pesquisei.
steinway.com
steinway.com
Com o custo de um jogo poderíamos comprar centenas de Pianos Steinway grande orquestral, o melhor do mundo
Os orçamentos para a vida musical
Comparar esta quantia de R$ 15,8 milhões para um jogo de algumas horas com os orçamentos das organizações culturais estatais é impressionante. Este montante é 8 vezes o que o Teatro Guaíra em Curitiba tem por ano (!!!) para gastar com Orquestra Sinfônica , Ballet e teatro. Isto quer dizer que uma programação anual custa 8 vezes menos do que um jogo de 2 horas. Esta quantia que os governos gastam para um jogo é superior ao orçamento anual dos Teatros municipais de São Paulo e Rio de Janeiro. O patrocínio anual da Prefeitura do Rio de Janeiro para a Orquestra Sinfônica Brasileira é metade do custo já citado, sendo que o prefeito Eduardo Paes, ameaçou retirá-lo.
Com R$ 15,8 milhões poderia ser reconstruído o Cine Teatro Ouro Verde, a única sala de concertos de Londrina, e com este valor poderá ser dada condições dignas aos departamentos de música das Universidades Federais, que encontra-se em estado lastimável.
Triste conclusão
Lembro que R$ 15,8 milhões é o custo de apenas um jogo. Serão 16 nesta copa. Tudo o que eu comparei, como já disse, foi na área musical. Se olharmos coisas mais básicas para nossa existência como educação e saúde, a minha revolta fica maior ainda. Quantos hospitais e escolas não poderiam ser construídos com R$ 1.202.466.858,78 (um bilhão, duzentos e dois milhões, quatrocentos e sessenta e seis mil, oitocentos e cinquenta e oito reais e setenta e oito centavos), o preço de apenas um estádio??? Não é à toa que estamos todos revoltados.

Osvaldo Colarusso

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/

Comentários

  1. Marcelo Lopes Pereira1 de julho de 2013 às 08:44

    Brilhante artigo Osvaldo ! Isso você fala apenas nos números divulgados, isso exclui as horas extras dos policiais e agentes de trânsito, os empecilhos causados no entorno, e infelizmente, os desvios de toda ordem que ocorreram nas obras e depois delas que sem dúvida nenhuma é o destino da maior parte desse numerário. Os brasileiros abraçaram a Copa na esperança de mais metrô e serviços públicos de qualidade e vimos que nada disso aconteceu.
    Acho muito suspeita a vitória do Brasil nessa competição por um placar tão elástico ! Nossa cultura sempre foi deixada em último plano, e sisnceramente cobrar impostos em instrumentos musicais é de um absurdo sem tamanho, afinal não se tratam de bens de consumo e sim bens de natureza cultural cujo valor agregado é eterno !
    O Brasil, precisa sim, é de uma revolução CULTURAL,pois nossa baixa cultura em todos os campos cada vez mais nos custa mais caro pois sempre privelegia o capital em detrimento do povo e poucos enxergam isso, CHEGA !

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  2. Triste constatação, Maestro.....

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