O EXCESSO DE TEMPO DE DURAÇÃO DAS OBRAS DE WAGNER.ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Wagner achava-se um deus em matéria de espetáculos cantados para o palco com acompanhamento ou junção de orquestra.
Verdi, depois de muito trocar ideias com seus libretistas e colaboradores, inclusive com os Ricordi, Piave, Boito, Oprandino Arrivabene, chegou à conclusão de que o tempo ideal de duração de um ato de ópera era de quarenta e dois minutos. Obviamente, não era possível ser exato, mas o autor de óperas mais popular do século XIX procurava sempre respeitar aquele número, escolhido por experiências pessoais, por estatísticas e por um “feeling” teatral italiano que se explicitava desde os tempos de Augusto.
Wagner achava-se um deus em matéria de espetáculos cantados para o palco com acompanhamento ou junção de orquestra, que ele começou por chamar não de óperas, mas de drama musical e vários outros nomes. Parsifal chegou a ser chamado de Bünenweihfestpiele (espetáculo cênico solene iniciático) , Tristão e Isolda de Musikalisches Handlug (ação musical), Os Mestres Cantores de Nurembergue de “Handlung” (ação), e daí por diante.
O que no entanto causou um enorme desconforto nas plateias do mundo inteiro, mesmo da Alemanha, foi a exageradíssima duração dos atos de suas óperas, como foi possível ao público do TMRJ verificar agora, assistindo a essa A VALQUÍRIA , cujos atos são um primor de boa música levada a um teratológico tempo de execução. Amigos, nessa ópera há atos que, dependendo das preferências do regente de orquestra, duram mais de duas horas !!!!!
Não importava a Wagner o desconforto de o espectador ter de ficar sentado quase imóvel todo esse tempo, não lhe importava se pessoas de mais idade começavam a sentir dores nas costas, nas pernas, no corpo todo. Tratava-se da música de Wagner e, ante o sumo-sacerdote, todos deviam curvar-se modestos e anestesiados. Um ato de mais de duas horas não devia ser um exagero para ninguém. Como uma missa cantada, falada, com oferendas, com procissões pela igreja e com comunhão e aspergimento de água benta.
O regente de orquestra e compositor norte-americano Leonard Bernstein achou uma metade de solução para o problema: encenou um Tristão com o primeiro ato em uma noite, o segundo em outra e o terceiro em outra. Metade de solução porque muita gente não foi a todos os atos, muitos alegaram desrespeito à obra, outros dissolução de continuidade. Aqui no Brasil, lembro-me de um primeiro ato isolado de A Valquíria, regido pelo Maestro Isaac Karabtchevsky, o que foi muito aplaudido. Realmente, o primeiro ato de A Valquíria isolado, com suas três únicas personagens, é uma peça operístico-sinfônica da mais alta qualidade musical.
Desde o dia 14, temos tido A Valquíria completa (quase ?) no TMRJ. A prolixidade da música, o exagero na repetição dos Leitmotive, a insistência nos longuíssimos trechos em “parlato”, fatos que nos levam ao cansaço e desconforto, são compensados e contrabalançados por certos (muitos) trechos de música absolutamente original, nova para sua época, de ímpar beleza melódica, de rara e subjugadora inspiração rítmica, de notáveis invenções harmônicas e, enfim, resumindo, de admirável beleza musical.
Que fazer? No meio de um ato fui ao banheiro e foi lá perto das latrinas que, de longe, ouvi Bruenehilde batizando Siegfried.
O höschtes Wunder…
MARCUS GÓES – JULHO 2013
Fonte: http://www.movimento.com/
Verdi, depois de muito trocar ideias com seus libretistas e colaboradores, inclusive com os Ricordi, Piave, Boito, Oprandino Arrivabene, chegou à conclusão de que o tempo ideal de duração de um ato de ópera era de quarenta e dois minutos. Obviamente, não era possível ser exato, mas o autor de óperas mais popular do século XIX procurava sempre respeitar aquele número, escolhido por experiências pessoais, por estatísticas e por um “feeling” teatral italiano que se explicitava desde os tempos de Augusto.
Wagner achava-se um deus em matéria de espetáculos cantados para o palco com acompanhamento ou junção de orquestra, que ele começou por chamar não de óperas, mas de drama musical e vários outros nomes. Parsifal chegou a ser chamado de Bünenweihfestpiele (espetáculo cênico solene iniciático) , Tristão e Isolda de Musikalisches Handlug (ação musical), Os Mestres Cantores de Nurembergue de “Handlung” (ação), e daí por diante.
O que no entanto causou um enorme desconforto nas plateias do mundo inteiro, mesmo da Alemanha, foi a exageradíssima duração dos atos de suas óperas, como foi possível ao público do TMRJ verificar agora, assistindo a essa A VALQUÍRIA , cujos atos são um primor de boa música levada a um teratológico tempo de execução. Amigos, nessa ópera há atos que, dependendo das preferências do regente de orquestra, duram mais de duas horas !!!!!
Não importava a Wagner o desconforto de o espectador ter de ficar sentado quase imóvel todo esse tempo, não lhe importava se pessoas de mais idade começavam a sentir dores nas costas, nas pernas, no corpo todo. Tratava-se da música de Wagner e, ante o sumo-sacerdote, todos deviam curvar-se modestos e anestesiados. Um ato de mais de duas horas não devia ser um exagero para ninguém. Como uma missa cantada, falada, com oferendas, com procissões pela igreja e com comunhão e aspergimento de água benta.
O regente de orquestra e compositor norte-americano Leonard Bernstein achou uma metade de solução para o problema: encenou um Tristão com o primeiro ato em uma noite, o segundo em outra e o terceiro em outra. Metade de solução porque muita gente não foi a todos os atos, muitos alegaram desrespeito à obra, outros dissolução de continuidade. Aqui no Brasil, lembro-me de um primeiro ato isolado de A Valquíria, regido pelo Maestro Isaac Karabtchevsky, o que foi muito aplaudido. Realmente, o primeiro ato de A Valquíria isolado, com suas três únicas personagens, é uma peça operístico-sinfônica da mais alta qualidade musical.
Desde o dia 14, temos tido A Valquíria completa (quase ?) no TMRJ. A prolixidade da música, o exagero na repetição dos Leitmotive, a insistência nos longuíssimos trechos em “parlato”, fatos que nos levam ao cansaço e desconforto, são compensados e contrabalançados por certos (muitos) trechos de música absolutamente original, nova para sua época, de ímpar beleza melódica, de rara e subjugadora inspiração rítmica, de notáveis invenções harmônicas e, enfim, resumindo, de admirável beleza musical.
Que fazer? No meio de um ato fui ao banheiro e foi lá perto das latrinas que, de longe, ouvi Bruenehilde batizando Siegfried.
O höschtes Wunder…
MARCUS GÓES – JULHO 2013
Fonte: http://www.movimento.com/
Sou obrigado a discordar do Marcus Góes, uma Ópera de Wagner é muito mais que uma simples ópera, elas entram num gigantismo musical sem par, e elas simplesmente nos colocam numa situação e sensações absolutamente atemporais, o tempo simplesmente transcorre mais rapidamente quando nos desligamos do mundo e nos entregamos de corpo e alma aos mundos lendários criados por Wagner. Na minha opinião todas as óperas de Wagner representam o ponto máximo da junção entre música e Teatro,é a obra de "Arte Absoluta", que dificilmente será igualada nos próximos séculos, na minha opinião as óperas de Wagner são as mais perfeitas de todo o gênero.
ResponderExcluirAssisti à Gotterdämerung três vezes e a Die Waküre duas, na primeiríssima fila sem olhar as legendas, simplesmente o tempo voou e fui transportado para outra realidade nessas curtíssimas horas de ópera, permeadas por intervalos que me despejavam novamente nesse mundo louco... e nesses intervalos tínhamos um jantar ruim e caro lá nos porões do Theatro Mvnicipal....