OSB ÓPERA & REPERTÓRIO FAZ ÓPERA À BRASILEIRA. CRÍTICA DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Duas obras raras de compositores brasileiros revivem, em forma de concerto, no Municipal.
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   O título desta resenha, inspirado no excelente livro organizado pelo jornalista João Luiz Sampaio, deve-se à apresentação, nesta quinta-feira, 04 de julho, de duas óperas brasileiras, em forma de concerto, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em programa da Série Ágata da Orquestra Sinfônica Brasileira Ópera & Repertório. Foram interpretadas, de Antônio Francisco Braga, Jupyra, sobre libreto de Gastão D’Escragnolle Dória; e, de Joaquim Torres Delgado de Carvalho, Moema, sobre poesia de Francisco de Assis Pacheco.
As obras, cantadas em italiano, narram os desencontros amorosos de duas índias. Jupyra ama o homem branco Carlito, que não corresponde mais ao seu amor e agora se mostra encantado pela também branca Rosália. O ciúme leva a índia a pedir a morte de Carlito a Quirino, que a ama, como prova de amor. Este cumpre a exigência, mas, desesperada e arrependida, Jupyra se suicida. Já Moema é correspondida pelo branco Paolo (ou Paulo, tanto faz), mas o cacique Tapyr, seu pai, aprisiona o aventureiro e o condena à morte. Moema arranja a fuga do amante e, assim como Jupyra, suicida-se, dilacerada pela dor da separação.
Musicalmente, Jupyra, estreada em 1900, é mais exigente, com harmonias mais complexas. Certamente, os artistas envolvidos não tiveram ensaios suficientes para prepará-la adequadamente, e, com isso, o resultado não foi satisfatório. Uns mais, outros menos, todos pisaram em ovos, exceto o tenor Eric Herrero, que esteve muito bem como Carlito. As sopranos Flávia Fernandes (Rosália) e Florencia Fabris (Jupyra) tiveram dificuldades com as exigências do compositor, mas, se a argentina estava claramente insegura e sua performance jamais alçou voo, a brasileira ofereceu um desempenho, pelo menos, mais honesto. O barítono David Marcondes esteve apenas razoável como Quirino e, ainda que apresentasse uma boa projeção, também acusou o golpe.
A OSB O&R, conduzida por Sílvio Viegas, não teve melhor sorte: o conjunto também escorregou aqui e ali, especialmente suas cordas. E o coro da Associação de Canto Coral, preparado por Jésus Figueiredo, em pequena participação, deu sua contribuição para a manutenção do nível mediano da performance geral. Aplausos não mais que respeitosos concluíram a primeira parte da noite.
Havia ainda uma Moema pela frente, e as coisas mudaram quase da água para o vinho. Va bene, a música é de execução e degustação mais fácil, mas possui também um gracioso encanto. Direta, a obra de tiro curto (aproximadamente 48 minutos) que integrou o programa de inauguração do Municipal em 1909, já começa lá em cima, com um dueto quente entre os amantes. Herrero (Paolo) manteve o ótimo nível inicial, cantando com bravura e doçura apaixonada. Fabris foi uma Moema sensível e vocalmente mais segura que Jupyra. O triste dueto de adeus dos amantes foi muito bem interpretado.
O baixo-barítono Márcio Marangon não comprometeu na pequena parte de Japyr, e David Marcondes, agora na pele de Tapyr, teve na cena final seu grande momento da noite: ao pregar a Tupã para que acolhesse sua filha, o canto expressivo do cacique demonstrou com tocante sensibilidade a dor e o remorso de um pai. A OSB O&R e Sílvio Viegas voavam agora em céu de brigadeiro. O regente estava em casa, interpretando uma ópera cujo estilo domina, enquanto o conjunto o seguia com precisão. Belo solo de Michel Bessler na cena do suicídio. Os aplausos foram bem mais efusivos.
Entre altos e baixos, os maiores destaques da noite foram os títulos apresentados. Como diz o popular comercial de TV, não teve preço a rara oportunidade de ouvir essas duas partituras que, certamente, nem Deus sabe quando poderemos ouvir novamente no Rio de Janeiro.
O próximo concerto da Série Ágata da OSB O&R, em 31 de outubro, oferecerá Trouble in Tahiti, de Bernstein, e O Segredo de Susanna, de Wolf-Ferrari. Antes, em 16 de agosto, pela Série Ônix, o conjunto oferece O Turco na Itália, uma daquelas pérolas bufas que Rossini escrevia como ninguém.

Leonardo Marques

Fonte: http://www.movimento.com/

 

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