"AIDA" , NO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Essa “AIDA” foi esquisita por vários motivos.
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   A noite de récita começou esquisita, com o próprio diretor artístico do TMSP, que iria reger dentro de poucos minutos, saindo da concentração que se espera nesses momentos para vir ele mesmo ao microfone mandar desligar celulares, etc…etc… John Neschling não quis dar a palavra a um locutor habitual do teatro ou a alguém do coro, ou a qualquer outra pessoa. Falou ele mesmo, começando as esquisitices e entrou para começar a reger com vinte minutos de atraso.

   Essa “AIDA” foi esquisita por vários motivos. Em primeiro lugar, a cenografia de Ítalo Grassi, com desenhos de luz de Virginio Levrio, que exagerou demais no claro/escuro, na penumbra e nos jorros de luz; em segundo lugar, na completa discrepância entre cena e ação: a cena do triunfo parece mais exéquias de um chefe de estado com ballet que uma apoteose de vitória; em terceiro lugar, as saídas das massas de coro e figurantes não faziam sentido, em um entra e sai ora na sombra total de noite de São Bartolomeu, ora no branco retumbante de aleluia. Tudo em meio a desenhos geométricos nos quais o que mais se viu foi uma lua ou um círculo em meio a olhos, retas, triângulos. Nada de Horus, Isis, Osiris, Ramsés, Luxor, Rio Nilo, Apis, pelo menos como evidências sugeridas, que é o que se espera quando se vai ver “AIDA”. A maior parte da cenografia cabe tanto em “AIDA” quanto em qualquer outra ópera de tema semelhante. Muito esquisito. Não basta ser bonito de se ver um cenário. O mesmo tem de ser compatível, cabível com lógica no contexto geral.

   Os figurinos de Simone Morressi são bonitos, agradáveis e coerentes, salvo as esquisitas figuras das danças. A coreografia de Marco Boriel foi de bom efeito, com muitos belos aspectos.
A protagonista Maria José Siri é um dos numerosos sopranos de seu tipo, espalhados do Japão à Bolívia: agudos fáceis, centro de voz sem substância e graves quase inaudíveis no contexto de “AIDA”. Digo no contexto porque no banheiro de sua casa a Siri e outras podem emitir notas graves de espantar caranguejos… No mais, sua voz é de timbre bonito, mas sua música é vacilante e às vezes errada, provocando desencontros. Porém é sempre agradável em “AIDA” ouvir o soprano principal subindo aos agudos e cobrindo tudo nos concertatos. Anote-se no entanto que, nos extremos super-agudos do concertato do segundo ato, não cobria ela a voz do tenor principal.

   O meiossoprano finlandesa Tuija Knihtla tem voz pequena para o papel. ”AIDA” exige vozes grandes e expressivas e a finlandesa não deu conta do recado, sem dar vexame. O mesmo se pode dizer do barítono Anthony Michael Moore e do baixo brasileiro Carlos Eduardo Marcos. Ambos são bons cantores, para outros papéis. Já o baixo brasileiro Luiz-Ottavio Faria esteve bem, voz robusta e sonora, com alguma dificuldade em “Iside legge”. Correto o mensageiro de Eduardo Trindade.

   O tenor Gregory Kunde tem super-agudos de fazer inveja, e até nos concertatos ia a notas não escritas para ele, o que dá prazer aos amantes da ópera italiana. Subir ao dó bemol foi mais uma proeza. No mais, Kunde tem recursos de ornamentos e boa musicalidade, e boa presença cênica, qualidades que compensam uma certa aspereza de alguns sons. Um muito bom tenor.
Mas a máxima das máximas é que insistimos em que cantores brasileiros fariam igual ou melhor que os inexplicáveis estrangeiros, inclusive quando se fala na inexpressiva direção cênica de Marco Gandini. Para trazer “gringos”, como diz meu caro colega Ali Hassan Ayache, é necessário que eles sejam ao menos muito melhores que os nacionais. A plateia dos teatros brasileiros já entende e aceita isso. Já houve quem disse e assinou em baixo que trazer estrangeiros é a moeda de troca para ir atuar lá fora. Siri nós temos muito por aqui…

   A regência de John Neschling foi rotineira e com desencontros, causados certamente não por ele mas ou pelos cantores, coro e instrumentistas. Não houve aquela sensibilidade romântica de muitas passagens, não sabemos se por poucos ensaios ou mesmo pouca inspiração. Houve a nosso ver excesso de pianíssimos, principalmente com o coro e na joia de composição que é o início do terceiro ato, no qual os raros desenhos rítmicos e o solo de flauta foram quase inaudíveis. Mais uma esquisitice.
MARCUS GÓES, AGO 2013
EM HOMENAGEM A LUÍS PAULO HORTA



Fonte:http://www.movimento.com/

Comentários

  1. Comentário enviado por Marcus Góes por e-mail:

    "VOU AO TMSP ASSIDUAMENTE HÁ 40 ANOS , SEMPRE COM MUITO PRAZER. TENHO MUITOS AMIGOS LÁ, E ATÉ JÁ COLABOREI COM A SECRETARIA DE CULTURA PARA A REALIZAÇÃO DE UMA TEMPORADA (MARIO CHAMIE/TULLIO COLLACIOPPO) .



    NEM EU NEM O PÚBLICO PODEMOS ADIVINHAR QUE A LOCUÇÃO DA MENSAGEM É UMA GRAVAÇÃO.SERÁ ? NO ENTANTO,O IMPORTANTE DE MINHAS OBSERVAÇÕES É QUE NÃO É O DIRETOR ARTÍSTICO DO TEATRO QUE DEVA FALAR DE DESLIGAMENTOS DE CELULARES E OUTROS BICHOS. FICA CAIPIRA. MESMO EM GRAVAÇÃO. E DEMONSTRA A MANIA DE APARECER DO NOSSO CARO REGENTE/DIRETOR ARTÍSTICO. POR FALAR NISSO,O DIRETOR QUE ESCALA NÃO DEVIA ESCALAR A SI MESMO. SERÁ QUE HÁ ALGO NA LEI QUE PROÍBA AO CHEFE DAR A SI MESMO UMA OUTRA FUNÇÃO ? SE NÃO ESTIVERMOS ATENTOS, EM POUCO O REGENTE NESCHLING VAI SER DIRETOR DE CENA, CENÓGRAFO,ILUMINADOR,FIGURINISTA, NAS ÓPERAS DO TMSP...A VER."

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