"AIDAS" QUE PERPETUARAM A HISTÓRIA DO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. ARTIGO DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Foi em setembro de 1912 que subiu à cena a primeira “Aída”, justamente quando se comemorava o 1º aniversário do Teatro Municipal de São Paulo.
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Já em 1937, apareciam o grande soprano Maria Caniglia, o tenor Galliano Masini e o meiossoprano Nina Gianni para uma récita histórica. Na estação lírica de primavera de 1947, atuaram Elisabetta Barbato (Aída), Beniamino Gigli e Ebe Stignani, com regência de Oliviero de Fabritis e Nino Stinco, ano este em que vieram outros nomes importantes da cena internacional: Rafaelle de Falchi, Giulio Neri, a estreia em São Paulo do tenor Mario Del Monaco, Pia Tassinari, Américo Basso, Ferrucio Tagliavini e a grande brasileira Agnes Ayres, numa memorável temporada.
O ano de 1951 abrigou talvez a maior temporada com expressivo número de artistas estrangeiros de renome da época. “Aída” foi anunciada para abrir a temporada nas vozes de Maria Callas, Fedora Barbieri e Mario Filippeschi, mais Gino Becchi, Giulio Neri, Enrico Campi e regência de Tullio Serafim. Entretanto Callas, pela sua índole caprichosa, irritada com os exaustivos ensaios de Serafim, afônica e zangada com o ambiente do Municipal, comunicou à última hora do início do espetáculo, a 28/8/1951, que não faria a “Aída” em São Paulo.
O inesquecível empresário Alfredo Gagliotti viu-se obrigado a solicitar, perante o Municipal lotado, a presença de Norina Grecco, soprano brasileiro que se encontrava entre o público, para assumir o papel protagônico, cuja condição aceitou, porém representando com o seu vestido de gala, pois não havia tempo para se vestir e ser maquiada como a escrava etíope. E assim se realizou a tão esperada “Aída” (1951) sem Maria Callas, nesta legendária estação lírica paulistana. O sucesso de Norina (Aída), fê-la então encerrar aquela temporada interpretando a “Tosca” com Beniamino Gigli e Tito Gobbi.
Após a maior reforma de todas as do Municipal, que fechou o teatro por quase quatro anos, este reabriu em 1955 e fez constar a “Aída” em sua temporada oficial. No elenco Antonietta Stella, em plena ascensão, com Pier Miranda Ferraro, Elena Nicolai, Giuseppe Modesti, Jose Perrotta e Gilhermo Damiano ( na terceira récita); Vittorio Pandano e Diva Alegrucci; Ballet do IV Centenário de São Paulo e regência de Franco Ghione.
A temporada de primavera de 1957 apresentou também “Aída” entre dezenas de títulos líricos: entre os cantores italianos vieram Carla Ferraris e Gianni Del Ferro, o mezzo soprano chileno Marta Rose (Amneris); com Carlo Meliciani, Romeu Morisani, Gino Caló, Cesare Masini Sperti e Zilda Valério. Maestro concerttatore de orquestra Ottavio Marini. Marta Rose que deixara na oportunidade a melhor das impressões cantando a Amneris, e também a Azucena de “Il Trovatore”, voltaria após dez anos a São Paulo.
Ida Miccolis na Aida1 Aídas  que perpetuaram a história do Municipal de São Paulo.
Ida Miccolis na Aida
O ano de 1965 nos trouxe o soprano carioca Ida Miccolis para abrir a temporada a 8 de outubro, com récita extraordinária a 15/10. A própria artista se lembrava: (do livro “A diva e sua glória – IDA MICCOLIS” ) …” das tão afetuosas e indeléveis idas e vindas à maison de haute costure de Clodovil Hernández”, o qual a vestiu, pintando à mão todos os seus figurinos exclusivamente para aquela ocasião. Ida Miccolis os guardou com carinho para outras três apresentações em anos posteriores em São Paulo e Rio de Janeiro.
No elenco constavam Sérgio Albertini com quem já havia cantado a Fosca e a Tosca; Glória Queiroz, Constanzo Mascitti, Newton Paiva, José Perrotta, João Calil e Cecília Del Monaco, com regência de Edoardo de Guarnieri e direção cênica de Meliton Gonzalez Sterling. Novamente em 1967, a diva brasileira regressou para abrir a temporada paulistana, desta vez com o mezzo soprano chileno Marta Rose numa espetacular Amneris ao lado de Juan Carbonell (Uruguai; Ranphis), Sérgio Albertini, Costanzo Mascitti, Paulo Adonis (Il Ré); Enrico Vanucci e Adriana Perrelli com Edoardo de Guarnieri “maestro concertatore” e direção cênica de Meliton Gonzalez Sterling e Emmerson Eckmann.
Indelével foi a Aída de 1968. A poucos dias da estreia, o soprano italiano Luisa Maragliano, anunciada nos “cartellones” em jornais paulistas e à porta do Municipal, teve que cancelar sua apresentação em São Paulo. Assumiu então o soprano romeno Virgínia Zeani (fotos anexas) nos dias 2 e 4 de outubro, com grande vantagem numa soberba e inesquecível apresentação da escrava etíope, havendo uma 3ª récita extraordinária, agora com o soprano chilena Claudia Parada que também acorreu para substituir a primeira nas duas óperas para que assinara contrato (Aída e Andréa Chenier). Completaram o elenco a chilena Marta Rose (numa apoteótica Amneris jamais igualada em São Paulo); os baixos Mario Rinaudo e Paulo Adonis; tenor Sergio Albertini, Constanzo Mascitti e Walter Monachesi se revezaram como Amonasro; com Vittorio Pandano (mensageiro), Helena Caggiano (sacerdotessa). Maestro concertatore Alberto Paoletti e direção de cena de Lorenzo Frusca. A terceira récita ocorreu a pedidos do público (11 de outubro) decorrente do imenso sucesso do elenco que ora se apresentava em São Paulo. (Na foto do post,Virgínia Zeani na “Aída” em 1968 – TMSP).
O ano de 1970 ofereceu uma “Aída” memorável, talvez uma das melhores da capital paulista. Rita Orlandi Malaspina (Aída); o mezzo soprano chileno Marta Rose (Amneris); Bruno Prevedi (Radamés); Gian Giacomo Guelfi (Amonasro) ; Mario Rinaudo (Ranfis); Maximiliano Malaspina (Il Re); Airton Nobre (mensageiro e Renata Lucci (sacerdotessa). Direção cênica de Bruno Nofri e regência de Alberto Paoletti. O super “cast” recebeu uma das maiores ovações ao término das apresentações, especialmente Marta Rose ao final de sua grande cena no IV ato (julgamento de Radamés); onde sobreveio uma chuva de flores do alto do balcão simples e galerias do Municipal super lotado nas récitas de 6 e 9 de Outubro daquele ano. O público delirou nas vozes e atuações de GGGuelfi, Rose, Rinaudo, Malaspina, Prevedi, Nofri, Paoletti e de todo o conjunto vocal-sinfônico.
Aída foi encenada também em 1975, desta vez trazendo o grande soprano búlgaro Ghena Dimitrova, que já se destacava nos palcos europeus, deixando aqui belas impressões de seu rico material vocal. A seu lado, o mezzo soprano italiano Maria Luisa Nave, que voltaria ao Rio de Janeiro (1985) como Azucena e (1986) para se apresentar ao lado de Aprile Millo na Aída. O elenco se completou com Francesco Lazzaro, Garbis Boyajian, Mario Rinaudo, Carlo Del Bosco, Assadur Kiulhtzian e Renata Lucci. Um elenco alternativo nacional interveio nas récitas de 15, 17 e 19 de outubro com Ida Miccolis, Assis Pacheco, Glória Queiroz, Fernando Teixeira, Zuinglio Faustini, Benedito Silva, Assadur Kiulhtzian e Renata Lucci ( também “doppione” da Aída ). Direção cênica de Lourenzo Frusca ; regência e direção musical do maestro Giuseppe Morelli (della RAI); com Diogo Pacheco e Tullio Colaccioppo (maestros concertatores) regendo o elenco nacional.
O sucesso de “Aída” é mundial. Todos os teatros querem produzi-la, sobretudo neste ano em que se comemora o bicentenário de Giuseppe Verdi. Entre os maiores teatros; o Metropolitan de Nova Yorque , Teatro Alla Scala de Milão, Arena de Verona e os nossos Teatros Municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo, ora estreando e produzindo em 2013 a maior de todas as óperas de Verdi.

Escrito por Marco Antônio Seta em 20 de Julho de 2013.
Inscrito sob nº 61909-SP/MTB

Fonte: http://www.movimento.com/

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