SINFONICA DE MINAS GERAIS FAZ BONITO E PODE MAIS. CRÍTICA DE LEONARDO STEFFANO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Se existe no Brasil um maestro versátil, do tipo pau pra toda obra, este é Tibiriçá.
Depois uma insípida, inodora e incolor 5ª de Schubert, há alguns anos que já não me lembro, confesso que briguei com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG). Justamente ela, que me fez gostar de música e que me ensinou a educar o espírito desde a infância. Mais tarde, em uma gravação para TV da 5ª de Beethoven, rompi definitivamente as relações. Ainda no andante resolvi trocar de canal. Domingão do Faustão. O motivo da minha birra? Simplesmente me vi desanimado diante da estagnação artística da música de concerto em BH. Uma situação de instabilidade e involução que só viria a ser superada a partir de 2008, com o retumbante advento da “outra”, a Filarmônica, nascida justamente da costela da OSMG. Mas como “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, fui ao Palácio das Artes, no último 11 de setembro, disposto a fazer as pazes. E com a ajuda de uma pessoa: o regente convidado Roberto Tibiriçá, outrora titular da orquestra entre 2010 e este 2013.
Se existe no Brasil um maestro versátil, do tipo pau pra toda obra, este é Tibiriçá. Por meio dele, pudemos ouvir o artesanato sonoro de Fauré, com sua Pavana e seu Requiem, ambos sustentados pelo Coral Lírico de Minas Gerais. Poucas vezes em minha curta experiência musical, pude notar de forma tão clara, tão flagrante, o efeito do trabalho de um regente no ato artístico. Posto que Fauré demanda um tipo de sonoridade bastante rarefeita, foi prazeroso perceber como o maestro concebeu um plano timbrístico particular e como a orquestra e o coro responderam com coerência a ele. Regendo senza batuta, Tibiriçá esmerou-se em gestual detalhado, usando todas as falanges, falanginhas e falangetas para colher a máxima expressividade possível. Momento sublimes foram reservados ao onírico Requiem, como no final do Ofertório, no Agnus Dei e no sutilíssimo Pie Jesu do contratenor Sérgio Anders. O Coral Lírico foi maravilhoso, talhando bem as delicadezas do paraíso. Uma entrada errada, no final, não comprometeu em nada. O consagrado baixo-barítono Lício Bruno também solou, mais desenvolto no Libera Me.
Era visível a motivação dos músicos da OSMG. Eles sabiam que estavam imbuídos de uma experiência estética. E como renderam melhor. Houve um trabalho e um resultado ali. No fundo, o que esta orquestra precisa é recuperar o seu protagonismo na cena musical mineira. Apresentar-se em espaços alternativos (praças, museu e até zoológico) e com artistas populares (Gal, Zizi, João Bosco, Bibi…), são experiências extremamente válidas.
Mas, antes de tudo, é preciso fazer o óbvio. E o óbvio neste caso é ter uma temporada bem estruturada, com concertos regulares, com mais solistas e regentes interessantes, repertórios inteligentes e adequados às possibilidades. Este é o mínimo que se espera de uma orquestra de dimensão histórica como a OSMG. Porque não explorar mais alguns nichos de repertório incomuns na cidade, como o barroco? Porque não óperas em forma de concerto ou uma série de aberturas e árias, com solistas novos e outros já estabelecidos? Enfim, são apenas algumas sugestões…
Não tenho dúvidas de que questões políticas e administrativas se somam às questões artísticas no difícil empreendimento da cultura em nosso País. Mas, seja como apreciador de concertos ou como pagador de impostos, é justo defendermos que a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais tenha condições de ampliar sua função cultural. Minha experiência neste 11 de setembro demonstrou que, sim, isso é possível. Aqueles músicos podem (e eles também precisam continuar a querer). Eles me surpreenderam e fizeram música com gosto, perfume e cor. Bem… pelo menos por enquanto, fizemos as pazes.
Leonardo Steffano
Fonte: http://www.movimento.com/
Depois uma insípida, inodora e incolor 5ª de Schubert, há alguns anos que já não me lembro, confesso que briguei com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG). Justamente ela, que me fez gostar de música e que me ensinou a educar o espírito desde a infância. Mais tarde, em uma gravação para TV da 5ª de Beethoven, rompi definitivamente as relações. Ainda no andante resolvi trocar de canal. Domingão do Faustão. O motivo da minha birra? Simplesmente me vi desanimado diante da estagnação artística da música de concerto em BH. Uma situação de instabilidade e involução que só viria a ser superada a partir de 2008, com o retumbante advento da “outra”, a Filarmônica, nascida justamente da costela da OSMG. Mas como “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, fui ao Palácio das Artes, no último 11 de setembro, disposto a fazer as pazes. E com a ajuda de uma pessoa: o regente convidado Roberto Tibiriçá, outrora titular da orquestra entre 2010 e este 2013.
Se existe no Brasil um maestro versátil, do tipo pau pra toda obra, este é Tibiriçá. Por meio dele, pudemos ouvir o artesanato sonoro de Fauré, com sua Pavana e seu Requiem, ambos sustentados pelo Coral Lírico de Minas Gerais. Poucas vezes em minha curta experiência musical, pude notar de forma tão clara, tão flagrante, o efeito do trabalho de um regente no ato artístico. Posto que Fauré demanda um tipo de sonoridade bastante rarefeita, foi prazeroso perceber como o maestro concebeu um plano timbrístico particular e como a orquestra e o coro responderam com coerência a ele. Regendo senza batuta, Tibiriçá esmerou-se em gestual detalhado, usando todas as falanges, falanginhas e falangetas para colher a máxima expressividade possível. Momento sublimes foram reservados ao onírico Requiem, como no final do Ofertório, no Agnus Dei e no sutilíssimo Pie Jesu do contratenor Sérgio Anders. O Coral Lírico foi maravilhoso, talhando bem as delicadezas do paraíso. Uma entrada errada, no final, não comprometeu em nada. O consagrado baixo-barítono Lício Bruno também solou, mais desenvolto no Libera Me.
Era visível a motivação dos músicos da OSMG. Eles sabiam que estavam imbuídos de uma experiência estética. E como renderam melhor. Houve um trabalho e um resultado ali. No fundo, o que esta orquestra precisa é recuperar o seu protagonismo na cena musical mineira. Apresentar-se em espaços alternativos (praças, museu e até zoológico) e com artistas populares (Gal, Zizi, João Bosco, Bibi…), são experiências extremamente válidas.
Mas, antes de tudo, é preciso fazer o óbvio. E o óbvio neste caso é ter uma temporada bem estruturada, com concertos regulares, com mais solistas e regentes interessantes, repertórios inteligentes e adequados às possibilidades. Este é o mínimo que se espera de uma orquestra de dimensão histórica como a OSMG. Porque não explorar mais alguns nichos de repertório incomuns na cidade, como o barroco? Porque não óperas em forma de concerto ou uma série de aberturas e árias, com solistas novos e outros já estabelecidos? Enfim, são apenas algumas sugestões…
Não tenho dúvidas de que questões políticas e administrativas se somam às questões artísticas no difícil empreendimento da cultura em nosso País. Mas, seja como apreciador de concertos ou como pagador de impostos, é justo defendermos que a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais tenha condições de ampliar sua função cultural. Minha experiência neste 11 de setembro demonstrou que, sim, isso é possível. Aqueles músicos podem (e eles também precisam continuar a querer). Eles me surpreenderam e fizeram música com gosto, perfume e cor. Bem… pelo menos por enquanto, fizemos as pazes.
Leonardo Steffano
Fonte: http://www.movimento.com/
Em outubro nos dias 17, 18 e 19 teremos a visita da Filarmônica de Minas, aguardo ansiosamente por um ótimo concerto e vamos lotar a Sala São Paulo para recebe-los.
ResponderExcluirAfinal quanto mais orquestras de qualidade tivermos no nosso país mais a cultura e a sociedade se beneficiarão e mais a cabeça do povo se abrirá saindo da bestialidade que prepondera nos meios de comunicação em massa.
Sucesso a orquestra Filarmônica de Minas, e que façam um concerto memorável aqui em São Paulo