ELENCO DESIGUAL EM " O OURO DO RENO " NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   

   A tetralogia foi estreada no Teatro dos Festivais de Bayreuth nos dias 13, 14, 16 e 17 de agosto de 1876. Munique oferecera os dois primeiros dramas em 1869 e 1870 e não tardou em oferecer o conjunto completo; logo seguida por Viena, Leipzig, Hamburgo e Berlim.
     A versão do Theatro Municipal de São Paulo que estreou em 9 de novembro, não é preciso encarecer,  nesta que só em concerto, a importância do trabalho do diretor musical.  A Orquestra Sinfônica Municipal, nesta sob a batuta de Luiz Fernando Malheiro, manteve domínio sobre os seus comandados excetuando-se os efeitos sonoros defeituosos das tubas de Wagner,  nem sempre afinadas e exatas em sua sonoridade de característica nobre e suave. As cordas (arcos usuais e seis harpas); as madeiras e a secção de percussão, incluindo dois bons timpanistas, campanas, gongo entre outras variedades como quatro trombones, contrabass-tuba,  quatro trompetes, ressaltaram simultaneamente suas partes de tão imponente pintura sonora.  Com múltiplas varianes, o leitmotiv do Reno exposto no prelúdio inicial mantendo a tonalidade de mi bemol maior  durante seus 136 compassos evoluíram paulatinamente e sempre ascendendo os tons do acorde perfeito distribuídos sobre várias oitavas em sonoridades bastante agradáveis. Nossa orquestra confirma o talento dos músicos, quando bem trabalhados por um diretor competente. 
Luiz Fernando Malheiro, foto Internet
      Inicialmente as três ninfas ou ondinas nas vozes de Maíra Lautert e Flávia Fernandes (sopranos) e de Laura Aimberé, meiossoprano; fizeram-se confundir à situação dramática e seus personagens. O enredo em si e sua complexidade, cheia de nuances ecológicas,  morais e filosóficas, como também políticas e sociais,  evadiram-se como fosse um musical lírico,  semi-cômico do tipo "My Fair Lady", exibidos por elas em lindos vestidos de baile de gala. Um belo desfile !!! Nada mais a acrescentar. Completamente descaracterizadas daquelas reais personagens, desprovidas da timbrística e do estilo wagneriano. Richard Wagner é coisa séria e entrar no mundo wagneriano,  e principalmente no ciclo do Anel; distingui-se muito dos musicais norte americanos ou de qualquer outra nacionalidade ou gênero musical. 
       Pontos altos do elenco foram, sem restrições; o tenor  austríaco Stefan Margita,  de respeitável curriculum internacional,  realizando uma soberba versão do malandro e sarcástico Loge, Desde sua entrada ao palco, dominou completamente somando técnica vocal,  versatilidade,  dicção clara e precisa, musicalidade a seu difícil personagem com timbre muito adequado ao carater personificado.
       Por outro ângulo, Michael Kupfer, baixo-barítono alemão de Ravensburg,  fez um Wotan de muito bom nível, apropriado, demonstrando um timbre aveludado para personagens como este ou Wolfran von Eschenbach, Conde de Almaviva (Mozart); Nick Shadow (Stravinsky);  Sharpless,  Schaunard ou Ping (Turandot). E o Heldenbariton Johmi Steinberg, com acentuações de barítono dramático (canta Iago,  Macbeth,  o Holandês de "O Navio Fantasma") que acorreu para substituir outro cantor no personagem Alberich. Voz poderosa,  carater dramático,  excelente emissão, belo timbre, graves de boa projeção, consignou brilhante atuação consoante ao seu mister. 
        Peter Bronder, tenor inglês estabeleceu boa atuação como Mime e Jeas-Erik Aasbo (Fasolt) ao lado de Savio Sperandio (Fafner), respectivamente os dois irmãos gigantes,  afirmaram-se satisfatoriamente.
        O contralto Angela Diel declarou bela interpretação de Erda empregando linha de canto em  boa escola, à cena de mística solenidade. Fabrizio Claussem (Donner) um baixo apenas regular, bem como a participação das duas irmãs Fricka, o meiossoprano Denise de Freitas e Freia, o soprano Gabriella Pace, cujos registros vocais não possuem a timbrística adequada para interpretar essa obra tão importante de Wagner, tampouco, de suas dicções, das quais não se entende nenhum vocábulo. É ouvir Christa Ludwig,  Kirsten Flagstad,  Hertha Wilfert ou Sabina von Walter e conferir a brutal diferença. 

Escrito por Marco Antônio Seta, em 10 de novembro de 2013.
Inscrição sob nº 61.909 SP / MTB

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