FINA IGUARIA PARA OUVIDOS SENSÍVEIS. CRÍTICA DE FABIANO GONÇALVES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Concerto inaugural da série Zozô Classique esbanja elegância musical.

 

Se o Rei do Camarote resolvesse gastar os 50 mil reais (valor que esbanja em uma noite na balada paulistana) convidando amigos para um evento como o jantar com recital de música da série Zozô Classique (do restaurante Zozô, no Rio de Janeiro), certamente faria um uso muito melhor de seu dinheiro. Não pela refeição propriamente dita, mas pela sofisticação das atrações musicais.
O primeiro concerto da série ocorreu em 23 de outubro. Se, por um lado, o menu servido pelo chef David Mansaud infelizmente não decolou – pratos insossos e sem qualquer personalidade, à exceção das sobremesas –, o cardápio musical compunha-se de finíssimas iguarias. O Trio Aquarius, formado por Flávio Augusto (piano), Ricardo Amado (violino) e Ricardo Santoro (violoncelo), esbanjou inteligência e elegância tanto na escolha do repertório como na interpretação.
Em um espaço agradável e de acústica surpreendentemente boa, o recital, entremeado pela simpatia dos músicos, teve início com o Trio em sol maior, Hob. XV: 25 – Cigano, de J. Haydn. Tempo e graça impecáveis marcaram a performance, na qual ainda pudemos apreciar a leveza do piano e o brilho do violino (em especial no terceiro movimento – à la húngara).
A segunda peça da noite foi o Trio em dó menor, Op. 1 n° 3, de L. van Beethoven. Mesmo tendo sido escrita na juventude, já demonstra a genial personalidade do compositor alemão. Os quatro movimentos exigem vigor e precisão dos intérpretes – características alcançadas pelos excelentes Flávio Augusto, Ricardo Amado e Ricardo Santoro.
Encerrando a noite, o Trio nº 1 em ré menor, Op. 49, de F. Mendelssohn, peça de escrita colorida e radiante à qual os músicos entregaram-se sem medidas. Merece destaque o piano de delicadas intervenções no segundo movimento (Andante con moto tranquilo).
Desconsiderando o preço abusivo e o jantar decepcionante (sobre os quais não cabem muitos comentários em um site voltado à música clássica), o programa foi de alto nível graças, em grande parte, ao Trio Aquarius. É preciso, entretanto, que o espaço, mesmo não sendo um lugar tradicional de concertos, oriente o público a evitar conversas e flashes durante a apresentação, para melhor fruição de todos.
A série Zozô Classique, que tem direção artística do produtor e compositor Sérgio Roberto de Oliveira, prossegue com um novo encontro em 20 de novembro. O jantar começa a ser servido às 20h30 e o concerto terá início posteriormente, às 22h30. Os preços continuam difíceis de engolir: R$ 500,00 por pessoa (com a opção de R$ 60,00 apenas para o recital).
A alma deve sair novamente alimentada com o lauto repasto de música barroca – incluindo J. C. Bach, Vivaldi, Telemann e Montéclair – que será servido pelo grupo Discurso Harmônico, formado por Laura Rónai (flauta barroca), Elione Medeiros (fagote barroco), Roger Lagr (violino barroco) e Eduardo Antonello (cravo), com participação da soprano Marília Vargas.
O restaurante Zozô fica na Av. Pasteur, 520, na Urca. Informações e reservas pelos telefones (21) 2542-9665 e 2295-5659, ou pelo e-mail reserva@zozorio.com.br.
Em tempo: se você nunca ouviu falar do Rei do Camarote (em que planeta você vive?), clique aqui.

Fabiano Gonçalves

Fonte: http://www.movimento.com/