PÃO COM MORTADELA NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. ÓPERA " O OURO DO RENO" DE RICHARD WAGNER.CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   
   Depois de umas trezentas polêmicas no Theatro Municipal de São Paulo tivemos a apresentação, em forma de concerto, da ópera O Ouro de Reno de Richard Wagner. A ideia de produzir O Anel do Nibelungo brasileiro começou estranha e uma bagunça completa. A administração anterior optou por começar pela segunda parte da tetralogia (A Valquíria) e depois pulou para a última parte (O Crepúsculo dos Deuses). A atual administração anunciou fazer a primeira parte (O Ouro do Reno) e se "esqueceu" de programar para o ano de 2014 a última parte restante (Siegfried).
   Polêmicas a parte (a atual direção parece adorar uma) tivemos no dia 09 de Novembro O Ouro do Reno em forma de concerto. A Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo regida pelo competente e um dos maiores entendidos das óperas de Richard Wagner no Brasil Luiz Fernando Malheiro conseguiu sonoridade razoável. Diversas passagens soaram sem conexão entre os naipes, de modo geral esses pequenos erros foram superados pelas belas harmonias da música wagneriana. Os metais se mostraram o ponto fraco do elo orquestral, seus volumes elevados destoaram das características da música wagneriana.
   Os solistas tentaram dar dinâmica a uma ópera feita em concerto, fizeram de tudo para atuar e mostrar os desejos e o caráter de seus personagens. Suas vozes foram beneficiadas por estarem na ponta do palco, isso facilita a projeção. Quase todos estiveram a contento com bom nível vocal: Denise de Freitas (Fricka) mais uma vez desfilou seu talento cênico e vocal, Gabriella Pacce (Freia) apresentou agudos brilhantes e um timbre homogêneo que impressiona pela beleza. Destaco a bela voz de Angela Diel (Erda) , técnica segura e um timbre quente nos graves fizeram ela mostrar seu talento ao público paulistano  e a sempre competente Laura Aimbiré.
   Gabriela Pacce, foto Internet.
   Michel Kupfer trouxe um Wotam com voz possante e graves majestosos. O Donner de Fabrizio Claussen foi mais um que mostrou segurança na voz. O grande destaque fica com o tenor Stefan Margita, como Loge o rapaz arrebentou na interpretação e na voz. Agudos possantes com uma técnica vocal rara fez esse personagem se tornar no mínimo inesquecível. Sávio Sperandio colocou credibilidade nos graves do gigante Fafner, uma voz marcante que impressiona pelo tamanho e volume.
   Anunciar ópera com cenários e figurinos e fazê-la em forma de concerto é o mesmo que prometer um belo salmão defumado e oferecer  pão com mortadela dormido. Quem não conhece a fundo a tetralogia composta por Richard Wagner fica perdido e só tem o programa (esse de ótima qualidade) para se virar. Pena que não teremos a continuação (Siegfried), nem em forma de concerto e muito menos encenada. O sonho do Anel do Nibelungo brasileiro completo ficará para tempos futuros.  
   Em uma rede social o Diretor artístico do Teatro Municipal nos informa:" Lançaremos no dia 23 de Novembro as assinaturas para a temporada 2014. Seis títulos na temporada oficial, grandes elencos , brasileiros e estrangeiros, grandes encenadores, igualmente daqui e de fora, interpretes de qualidade à frente de nossa OSM". O Diretor do Teatro ao anunciar a temporada de 2014, com toda a pompa e circunstância, em Julho desse ano relatou a presença de nove títulos, por agora viraram seis?  Um passarinho me contou que Cosi fan Tutte de Mozart é uma das canceladas.
 Ali Hassan Ayache

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