"A CARREIRA DO LIBERTINO" NÃO DECOLA NO MUNICIPAL . CRÍTICA DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

No próximo fim de semana, concerto comemorativo homenageia os 80 anos do Coro do Theatro Municipal.




Nesta sexta-feira, 29 de novembro, a Orquestra Sinfônica Brasileira Ópera e Repertório encerrou a sua Série Ônix no Theatro Municipal do Rio de Janeiro apresentando, em concerto, a ópera The Rake’s Progress (A Carreira do Libertino), de Igor Stravinsky, sobre um libreto de Wystan Hugh Auden e Chester Kallman inspirado numa série de pinturas e gravuras de William Hogarth.
A obra conta como o preguiçoso Tom Rakewell recebe uma herança e a torra até a falência com prazeres mundanos, perdendo assim o amor de Anne Trulove e terminando seus dias num asilo de loucos. Tudo isso sob os cuidados do diabo, aqui encarnado na figura de Nick Shadow. Reparem, a propósito, como a escolha dos nomes dos personagens é bastante sugestiva na língua inglesa (rake = libertino; true love = verdadeiro amor; shadow = sombra).
A versão em concerto ora levada no Municipal não chegou a decolar. Esta não é, claro, uma obra fácil, e, creio, é daquelas que só chegariam a funcionar bem no palco se fossem encenadas (bem encenadas, registre-se). Nessa noite morna, destacaram-se dois solistas brasileiros: a mezzosoprano Carolina Faria e o barítono Homero Velho. Faria encarnou uma razoável Mamãe Gansa e esteve muito bem como Baba, a Turca (uma mulher barbada). Encarnando esta última, mais uma vez nos ofereceu sua voz segura e sua presença cênica marcante.
Já Velho parece encontrar no repertório operístico de meados do século XX a seara ideal para sua voz, que pouco ou nada brilha em obras do século XIX. A exemplo do que ocorrera na recente montagem de Billy Budd, o artista se mostrou à vontade como Nick Shadow, oferecendo um desempenho bastante seguro. Pena que o repertório do século XX seja tão pouco explorado no Brasil – o que não é de espantar quando uma casa de ópera como o Municipal do Rio encena três miseráveis títulos por ano.
Os dois convidados estrangeiros não chegaram a empolgar. O tenor mexicano Emilio Pons foi um Tom Rakewell não mais que razoável vocalmente e, ainda, nitidamente inseguro, pois não tirava os olhos do regente. Poucas vezes vi um solista principal olhar tanto para o maestro! Um degrau acima de Pons esteve a soprano cubana Elizabeth Caballero, que interpretou Anne Trulove com correção, mas sem maior brilho.
Completaram o elenco o baixo Murilo Neves e o tenor Ivan Jorgensen. Este muito bem como o leiloeiro Sellen; e aquele sem comprometer como Trulove, pai de Anne, e também como o guarda do asilo.
A OSB O&R apresentou desta vez uma performance não mais que razoável, com metais claudicantes, sob a condução de um regente competente como Jamil Maluf, que, a propósito, foi bastante elogiado pela condução desta mesma ópera em São Paulo em junho último. Será que, mais uma vez, não houve ensaios suficientes para uma obra deste porte?
Encerrada a Série Ônix, a OSB O&R terminará seu ano operístico em 19 de dezembro, quando, pela Série Ágata, apresentará uma promissora Medea, de Cherubini, com nossa diva máxima Eliane Coelho.

OSB na Cidade das Artes
Uma matéria assinada por Debora Ghivelder no jornal O Globo de 09 de novembro informou que finalmente houve um acordo entre a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira e a Fundação Cidade das Artes. Como é de amplo conhecimento, a polêmica sala da Barra da Tijuca foi originalmente construída para ser sede da OSB, mas os planos mudaram quando Eduardo Paes chegou à prefeitura carioca.
Segundo a matéria, a FOSB terá na Cidade das Artes sala de ensaio, salas para atividades administrativas e de produção e 65 datas para concertos. Ricardo Levisky, Superintendente da FOSB, disse em entrevista a Ghivelder que haverá uma série exclusiva na Cidade das Artes, além da repetição de concertos apresentados em outros locais. Ainda de acordo com Levisky, as apresentações no Theatro Municipal serão mantidas.
O que eu penso sobre isso? Já não era sem tempo! Ainda que a atual administração municipal considere que o espaço deva ser utilizado para diversas formas de expressão artística, parece-me que a música clássica deva ter a primazia numa casa que, queira ou não o atual prefeito, foi construída para ser, principalmente, uma sala de concertos.
A reportagem informou também, sem dar detalhes, que uma das orquestras da FOSB participaria de duas óperas apresentadas na Cidade das Artes. Ainda sem maiores esclarecimentos, apurei que estas óperas seriam produções sob a responsabilidade da Fundação Cidade das Artes, e nas quais a FOSB apenas participaria com uma de suas orquestras. Considerando que a primeira programação anunciada pela sala da Barra trazia uma montagem de A Flauta Mágica que só Emilio Kalil deve saber por onde anda, é preciso muito cuidado antes de nos empolgarmos com esta notícia.
E sobre isso, o que eu penso? Que seria muito bom se realmente tivéssemos essas duas produções líricas para incrementar o panorama operístico carioca, especialmente quando o Theatro Municipal não faz a menor questão de ter uma temporada séria de óperas encenadas. No entanto, eu só acredito vendo.

Concerto comemora os 80 anos do Coro do Municipal
No próximo final de semana, nos dias 6 e 7 de dezembro, dois concertos homenagearão o Coro do Theatro Municipal, que este ano está completando 80 anos de atividades. Este concerto, inicialmente, não fazia parte da temporada oficial própria da casa, e, segundo informações que recebi, só foi adicionado à programação depois de muita reclamação por parte dos artistas.
Não poderei comparecer a esta homenagem quase forçada e marcada de última hora, pois nessas datas tenho compromissos particulares agendados há mais tempo. Por isso, registro aqui a minha indignação pelo fato de o Coro do Theatro Municipal se apresentar tão poucas vezes ao longo das temporadas da casa. A administração do nobre edifício da Cinelândia deveria tratar com mais carinho um conjunto que há 80 anos presta serviços imprescindíveis à cultura carioca. Lamentável.

Leonardo Marques

Fonte: http://www.movimento.com/

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