"LA BOHÈME" COM BELAS VOZES NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

No espetáculo clean definiu-se um exíguo espaço cênico em seu Ato I onde a luz dinamiza as cenas.
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A celebérrima “LA BOHÉME”, ópera em quatro atos de Giacomo Puccini (1858-1924) com libreto de Giuseppe Giacosa e Luigi Illica, subiu ao palco do Theatro Municipal de São Paulo, estreando esta produção em 10 de dezembro.
Assinada por Arnaud Bernard o espetáculo é despojado de cenário restando-lhe apenas adereços no palco, ainda que organizados pelos próprios artistas que atuam na cena. No espetáculo clean definiu-se um exíguo espaço cênico em seu Ato I onde a luz dinamiza as cenas; o 3º ato foi o melhor, sugerindo os portões de Paris, em seus subúrbios , empregando um vagão de trem desativado, como se fosse a moradia de Rodolfo e Marcello. Nunca se viu uma Bohème tão pobre de cenografia em São Paulo! - Lembramo-nos de montagens com a Cenografia Parravicini de Roma (1973) e dos cenários de Hugo de Ana , cedidos a este teatro em 1989, pelo Municipal do Rio de Janeiro.
Paralelamente, adequaram-se vários móveis para preencher o espaço cênico e Bernard, que assina direção cênica, cenografia e iluminação decepcionou grande parte do público paulistano. Os figurinos de Carla Ricotti, predominantemente em tons de cinza, sempre muito soturnos e sombrios.
O breve prelúdio orquestral do terceiro ato, descrevendo a atmosfera cinzenta hibernal de uma madrugada, refletiu-se plenamente nas quintas de flautas e harpa , que por assim dizer, gotejam sobre a tonalidade estática dos violoncelos como flocos de neve. Regeu-a John Neschling, extraindo intensa sonoridade de nossa orquestra sobretudo nos dois últimos atos.
Alexia Voulgaridou (Mimi) expressou um amplo registro de soprano lírico de belo timbre, conduzida em boa escola. Já a conhecíamos como Liu, da Turandot, ao lado de Marco Berti e Maria Guleghina , sob direção musical de Zubin Mehta . Ela não emitiu o dó natural ao final do dueto “O suave fanciulla” , mas linda foi a sua ária “Si, Mi chiamano Mimi” de extrema musicalidade, cantando e representando com a intensidade que requer o personagem.
Atalla Ayan o brasileiro de Belém do Pará, e que está lançado internacionalmente, demonstrou belo timbre de tenor lírico, bem projetado, livre de embaraços, ampla musicalidade e dicção plena; somado a domínio cênico do poeta Rodolfo. Foi ovacionado ao término de sua grande ária “Che gelida manina”.
Mihaela Marcu possui boa linha de canto, com presença segura no palco, todavia seu volume vocal é pequeno para o papel de Musetta; sua ária “Quando men vo” resultou apenas regular, sem aplausos ao término. Cenicamente bem.
Aos primeiros acordes do 2º Ato brilhou intensamente o Coral Lírico Municipal com suas vozes vibrantes e, em instantes, a cena se inflamou. Os boêmios : Simone Piazzolla (Marcello) tem uma voz brilhante de barítono lírico; Mattia Olivieri (Shaunard) mostrou-se desenvolto e musical e Felipe Bou (Colline) baixo-cantante , a contento na ária “Vecchia Zimarra”. Os três realizaram um bom trabalho cênico. Ainda merece destaque e colaborou para o alto nível musical da ópera, Saulo Javan, um cômico senhorio (Benoit) muito correto em suas intervenções.
A temporada de 2013 se encerra em 29 deste mês com uma ópera de alto nível musical, merecendo aqui os meus cumprimentos o maestro John Neschling pelo trabalho de diretor artístico e musical desta temporada lírica.

Escrito por Marco Antônio Seta, em 11 de dezembro de 2013
Inscrição sob nº 61.909 MTB – SP

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