REGÊNCIA E REGENTES - RECORDAÇÕES E REFERÊNCIAS. ARTIGO DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

O assunto regência de orquestra e regentes não é devidamente divulgado no Brasil.
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O regente quase sempre é relegado a um plano secundário, quando, no entanto, é ele o responsável maior pelos resultados finais da execução de uma obra musical. Se o leitor tiver tempo e disposição, consulte por exemplo criticas de óperas e ballets. Serão os cantores e os bailarinos quase sempre citados com mais espaço e ênfase.
É o regente o responsável maior pelo resultado final porque é ele que ensaia e prepara a orquestra. O público (não os profissionais e experts) pouco se lembra de que quando uma orquestra entra no palco para uma estreia ela, em tese, vem ajustada, coordenada, ensinada, manipulada pelo regente a seu modo e gosto. Se em um acorde uma das três clarinetas entra sempre atrasada, compete ao regente corrigi-la. Isso é feito nos ensaios, o que é pouco lembrado pelo público. É o regente que escolhe andamentos, duração de pausas, tipo de sonoridade dos instrumentos, principalmente das cordas, intensidades, contrastes, e tudo mais.
Isto posto, neste artigo de reminiscências longínquas e menções atuais, direi que a primeira atuação de regente que me emocionou profundamente foi a do Maestro Eleazar de Carvalho, penso que nos anos 60 (corrijam-me se for o caso) regendo com indizível entusiasmo a Missa dos Mortos, de Berlioz, no TMRJ,,com coro, orquestra (OSTMRJ ?) e solista vocal, com o coro e os trompetes e trombones do “Dies irae” (apocalipse? ) espalhados pelas galerias e balcões do teatro. Fascinante, com o já veterano regente entusiasmado no púlpito.
Outras regências que me impressionaram muito bem ocorreram no mesmo ano de 1988 no TMRJ: Riccardo Muti, regendo a Orquestra Sinfônica de Filadélfia em uma atuação em que o grande regente italiano mostrou seu apego ao ritmo, à precisão das entradas, à sonoridade apropriada; Kurt Mazur, regendo a Gewandhaus de Leipzig, quando tive contato pela primeira vez com o inspiradíssimo regente.
Recentemente emocionou-me a sentida regência de Jamil Maluf no prelúdio da quarta bachianas, de Villa-Lobos, emocionadamente executado na Sala Cecília Meireles com a OSUFRJ, e o esplêndido trabalho do Maestro Roberto Minczuk com o pianista Arnaldo Cohen no concerto n. 1 de Tchaicowsky no TMRJ com a OSB. O vulgarizadíssimo concerto, sob a regência desse grande artista da música que é Roberto Minczuk, renovou-se, brilhou como nunca, renasceu, deu-se à luz. Um prêmio.
Outra regência para mim emocionante foi a do Maestro Marcelo Ramos à frente da OSMG, no Palácio das Artes de Belo Horizonte em 1995 nas Quatro Últimas Canções, de Richard Strauss, com o soprano Leila Guimarães. Todo o sabor crepuscular e reminiscências melancólicas que são o “quid” da obra vieram à luz com o inspirado regente.

Emocionantes pela insistência no aproveitamento do ritmo e definição dos naipes têm sido todas as regências do Maestro Sílvio Viegas, especialmente em Carmina Burana, Giselle e O Lago dos Cisnes. Lembro aos leitores que a regência de ballets é uma tarefa árdua e espinhosa.
Citar muita coisa do que vi fora do Brasil alongaria e tornaria mais ( ? …) enfadonho este artigo. Mas não posso deixar de mencionar o Fidelio do MET de NYC, com o regente Erich Leinsdorf, as sinfonias de Beethoven com Riccardo Muti na Scala, a Sinfonia Pastoral com Jean Paul Casadesus em Toulouse, os muitos Werther regidos por Georges Prêtre no Covent Garden (vi dois), a Primeira Sinfonia de Brahms regida por Carlo Maria Giulini na Scala, com seu quarto movimento hiper-cantabile, o Lohengrin regido por Metodi Matakiev em várias cidades europeias com a magnífica Orquestra da Ópera Nacional da Bulgária.
Este artigo é pessoal, como tudo que se escreve no gênero, e só admite correções, não discordâncias.
Das süsse Lied verhallt…
Marcus Góes – fev 2014

No exterior, a citação de muita coisa que vi alongaria demais esta pequena lista de recordações pessoais .
 

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