"IL TROVATORE " NO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Esse dramalhão protótipo do melodrama romântico encerra a genialidade absoluta de Verdi.
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   “Il Trovatore”, de Giuseppe Verdi, como também as óperas NABUCCO,RIGOLETTO,  AÍDA,  OTELLO  e  FALSTAFF obtiveram desde as suas triunfais estreias, em noites memoráveis, o sucesso absoluto e garantido, por todo o seu futuro, constituindo sempre um espetáculo dos mais atraentes para os amantes do teatro lírico através dos séculos séculos XIX e XX.    
Esse dramalhão protótipo do melodrama romântico encerra a genialidade absoluta de Verdi. “IL TROVATORE” integra a famosa trindade operática do compositor, ao lado de Rigoletto e La Traviata.
Estreada no Teatro Apolo de Roma em 19 de janeiro de 1853, a ópera romântica em quatro atos, tem libreto de Salvatore Cammarano emendado e completado por Leone Emanuele Bardare, inspirada em “El Trovador”, drama espanhol de António Garcia Gutiérrez. Para a França, Verdi compôs música de ballet, situada no terceiro ato, exigência à qual atendeu, introduzindo em seu Le Trouvère,  ciganas dançando para os soldados, após o coro em seu acampamento. Mas só serviu para a ocasião (Teatro Opera, em Paris).
A incrível riqueza melódica, a melancolia passional e trágica das melodias de Leonora, a sombria mas fascinante beleza do colorido orquestral, a força do canto da cigana, a vigorosa e primitivista rapidez com que marcha o drama, cujos personagens como disse o eminente crítico vienense Eduard Hanslick, “parecem chegar ao palco qual disparos de pistola” todos os ingredientes asseguram a “Il Trovatore”, uma grande popularidade contra a qual de nada valem as baldas da crítica.  Assinalou também, Charles Osborne, em monumental monografia (Cfr. The Complete Operas of Verdi) New York, Knopf, 1970, págs.245-261), é a verdadeira apoteose do  bel canto, pelas exigências de beleza vocal, agilidade, técnica e tessitura.
Repousam fundamentalmente o êxito ou o fracasso sobre um quarteto vocal da melhor qualidade possível formado por Manrico, Leonora, Azucena e o Conde de Luna (Dom Nuño de Artal). 
Na noite de estreia (08 de março) da presente temporada lírica do Theatro Municipal de São Paulo, tocou ver a patética, pacata e destitosa Leonora (Dona Leonor de Sesé) com o soprano lírico spinto Susanna Branchini, de ascendência ítalo-caribenha, nascida em Roma. Apresenta um registro vocal desigual em sua linha de canto: em alguns momentos belos agudos, noutros um limite central opaco e descolorido, resultando em várias oscilações entre o muito bom e o sofrível. Suas árias famosas; a inolvidável do 1º ato “Tacea la notte placida” cantou regularmente, todavia na sua maior tese na ópera, “D’amor sull’ali rose”, precedida pelo recitativo “Timor di me?…” e procedida pelo famoso “Miserere”, onde intervém com frases dramáticas, faltaram-lhe maior domínio técnico e musical,  controle de respiração e fôlego demonstrados pela insegurança nas arcadas de sua principal ária no IV ato (grande cena de Leonora). Com a maturidade profissional, ela poderá adquirir essa segurança musical. 
A parte de Manrico, o rival trovador de seu irmão, Dom Nuño de Artal, tocou ao tenor norte americano Stuart Neill que já apreciamos em 2013 na “Aída”. Em “Deserto sulla terra”, canto trovadoresco, sobre um atmosférico acompanhamento de harpa, imitativa do alaúde, já deu conta da beleza do timbre de tenor lírico spinto, voz ampla, redonda, musicalíssima, conduzida em ótima escola italiana. Realizou um ato II com belo dueto com Azucena, “Riposa, o madre”, destacando-se também pela sua interpretação ao lado de M. Cornetti. Demonstra belo fraseado e dinâmica no decorrer de todo o terceiro ato, como também no “Miserere”, onde canta atrás do cenário acompanhado de harpa. Sobre o “Di quella pira” o tenor cortou a nota final, respirando na metade, e transportada um tom abaixo, não colimou o ápice dramático. 
Alberto Gazale, barítono experiente, atuou como o Conde de Luna. Porém havíamos visto nesse mesmo teatro barítonos superiores a ele: dezenas, só por assim dizer ! A ária “In balen del suo sorriso” ficou à sombra de seus antecessores em São Paulo e sua atuação cênica não atingiu a paixão pela amada. Ponto fraco é que em nenhum momento o diretor italiano Andrea De Rosa conseguiu demonstrar a paixão que Manrico e Dom Nuño de Artal sentem por Leonora; e em muitas das cenas, estas se perdem, num aglomerado, com movimentos em direções indefinidas, ou então sem total destino. 
Ponto alto da noite foi o mezzo soprano Marianne Cornetti (Azucena). Uma das partes mais importantes e belas escritas para meiossoprano dramático por Verdi, é o da cigana aqui muito bem defendido pela intérprete. Desde a famosa e sinistra “Stride la vampa” até o tremendo e subsequente confronto com Manrico, durante o 1º quadro do ato II, cantou e representou magnificamente, em registro inflamado de ira e mistério, sendo alvo dos maiores aplausos da noite de estreia. 
Enrico Giuseppe Iori, baixo cantante, compõe um Ferrando bastante fraco; cantou um raconto irregular, desencontrando-se da orquestra em inúmeros compassos e cenicamente não se impõe como requer o personagem. Na regência John Neschlingextraiu da Orquestra Sinfônica Municipal sonoridades bastante equilibrada, exceto os constantes atrasos e ataques dos instrumentos de sopro de metais, desatenciosos à grande regência do “maestro concertatore”. 
O coro tem participação importante nesta partitura, sobretudo os naipes masculinos (tenores, barítonos e baixos); desde a primeira cena com Ferrando, que realizou com sonoridade impecável. Melhor ainda sua atuação no ato II, agora completo, em seu famoso coro “Vedi ! le fosche notturne spoglie” e no concertato que encerra grandiosamente a cena em frente ao convento. Um bravo ao Coro Lírico Municipal, sob a direção agora de Bruno Greco Facio.
Figurinos de Alessandro Ciammarughi e cenografia de Sergio Tramonticompletados por desenhos de Pasquale Mari, tudo funcionou a contento, em nível de apurado conhecimento do melodrama.
Os demais personagens, a cargo do meiossoprano Ana Lucia Benedetti (a confidente Inês) uma das promessas do teatro lírico; muito bem em suas intervenções musicais e cênicas; Eduardo Trindade (Ruiz) um tenor expressivo. Leonardo Pace e Walter Fawcett, ambos satisfatórios. 
Il Trovatore prossegue até 22 de março com dois elencos encabeçados por Stuart Neill (dias 11, 13, 15, 18, 20 e 22) e com Sergio Escobar (dias 09 e 16, às 18 horas, em récita vesperal). 
No post, foto de Desiree Furoni.
Escrito por Marco Antônio Seta, em 09 de março de 2014.
Inscrito sob nº 61.909 MTB – SP

Comentários

  1. Na récita do dia 16 a orquestra deu umas derrapadas imperdoáveis ! Só pra deixar registrado.

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  2. Prezado Sr. Marco Antônio Seta, fui à récita do dia 15 e escrevi uns pequenos comentários logo no dia seguinte. Percebo que em grande parte coincidem com suas apreciações, que só tive o prazer de encontrar hoje, neste blog. Se tiver a bondade de ler meu texto, ficarei muito feliz. Pode ser encontrado
    aqui: http://ivonecbenedetti.wordpress.com/2014/03/16/il-trovatore-theatro-municipal-de-sao-paulo-marco-de-2014/#comment-442

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