O PIOR MAESTRO DE 2013, ENQUANTO ISSO EM MILÃO, JÁ NA BARRA, TANTO BARULHO PRA NADA, DEU NO NEW YORK TIMES. NOTAS DE RAFAEL FONSECA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
O crítico paulista Ali Hassan Ayache, no blog “Ópera e ballet“, elegeu a pior orquestra e o pior maestro de 2013, e o contra-prêmio não poderia recair sobre outra figura: João Carlos Martins (foto) e sua Bachiana Filarmônica. “A musicalidade ruim e convidados de gosto duvidoso” foram decisivos, e eu concordo 100% com Ayache. É um deboche toda aquela auto-promoção, percussionistas de escola de samba no palco, depoimentos lacrimejantes do maestro e outras baboseiras. E o som, que é um horror. O programa Roda Viva, da TV Cultura, deu espaço (na última edição de 17 de março) outra vez a Martins para ele repetir a ladainha de sempre, numa admiração exaltada de si mesmo que beira a loucura. Na Wikipedia, seu verbete diz que ele é “… Reconhecido por ser um dos maiores pianistas do mundo e é apontado como o maior intérprete de Bach”, e eu queria realmente saber quem foi que colocou lá essa batata. Capaz de ter sido o próprio, já que o conteúdo é colaborativo. Aliás, falando em Roda Viva, houvesse um prêmio de pior escolha televisiva de todos os tempos, eu votava na presença do Caruso cartunista no referido programa de entrevistas: boboca e desnecessário.
Recentemente, foi o tenor polonês Piotr Beczała, após uma estrondosa vaia, declarar que não pisaria no palco do Scala outra vez. E não é por falta de talento: ele é um dos melhores cantores em atividade no momento. O problema são os loggionisti, turba terrível que já constrangeu Roberto Alagna e até Luciano Pavarotti. Mas o novo todo-poderoso da mais emblemática casa de óperas italiana é o vienense Alexander Pereira (foto), que aos 66 anos vai somar suas atividades como gerente geral do Festival de Salzburg com a gerência do Scala. Semana passada, o Corriere della Sera contou que Pereira se reuniu a portas fechadas com cerca de 100 membros da Associação dos Amigos do Loggione (a torrinha deles), e pediu “uma nova era de generosidade e cortesia”. A ver.
Meu amigo Hudson Lima, violoncelista da Sinfônica da UFF, pergunta e eu faço coro: “Por que uma Orquestra genuinamente Brasileira faz uma série cujo título é 15x Áustria no ano Guerra-Peixe?”. Ele se refere à série da OSB promovida pelo consulado da Áustria na Cidade das Artes. Tudo bem reverenciar Haydn, Mozart, Schubert, afinal Viena foi mesmo a capital mais musical da história. Mas a ausência de uma homenagem ao nosso César Guerra-Peixe (foto), cujo centenário deveria estar sendo comemorado com uma série só dele, é mesmo a constatação de que só se gosta do que vem de fora.
Ainda sobre a OSB, a orquestra carioca anunciou que os músicos da sub-orquestra “OSB Ópera e repertório” irão se fundir novamente à orquestra principal. Mas os músicos dissidentes impuseram uma derrota humilhante ao presunçoso Roberto Minczuk (foto), e voltam às estantes, mas com ele não tocam. Onde já se viu isso? Músicos que seriam sumariamente demitidos formam uma orquestra com programação paralela, a coisa não dá certo, eles são re-integrados mas se recusam de antemão serem regidos pelo maestro principal! Enquanto vimos Belo Horizonte estruturar uma orquestra de excelência em menos de 7 anos — a Filarmônica de Minas, graças ao talentoso maestro paulista Fabio Meccheti — e enquanto o carioca John Neschling promove outra renovação com resultados incríveis e excepcionais, agora à frente do Municipal de São Paulo, o Rio segue nessa pasmaceira de Carla Camurati com uma programação de quinta categoria do nosso Municipal, e a orquestra mais tradicional da cidade entregue ao total equívoco, do trono à portaria.
O jornalão novaiorquino está elevando o nome de Leif Ove Andsnes (foto) às alturas (edição de 20 de março). O pianista norueguês, que despontou como jovem talento nos anos 1990 mas evitava as partituras de Beethoven — tão exploradas pelos pianistas em início de carreira — está agora, com 43 anos, executando uma integral das obras do mestre de Bonn para o teclado, começando por apresentações no Carnegie Hall. Segundo o crítico Anthony Tommasini, cada Sonata tem sido uma re-descoberta. Eu ouvi Andsnes tocando o Terceiro Concerto de Beethoven com a Mahler Chamber Orchestra, em Barcelona, no exuberante Palau de la Musica, e posso atestar: Andsnes explora Beethoven como se novidade fosse. Fiquem aí com sua versão incandescente da Sonata “Waldstein”
Rafael Fonseca
é pesquisador musical, cronista da Anna e organiza viagens musicais.
FONTE: http://www.annaramalho.com.br/news/amigos-da-anna/rafael-fonseca/28006-pior-maestro-2013.html
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