ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA FINALMENTE EM CASA. CRÍTICA DE LEONARDO MARQUES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.



Primeiro concerto oficial do conjunto na Cidade das Artes foi uma grande festa.
Uma festa da música.  Foi o que aconteceu na noite da última segunda-feira, 17 de março.  Finalmente a Orquestra Sinfônica Brasileira assumiu de forma oficial sua nova casa: a Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.
Neste primeiro ano, serão sete concertos sinfônicos e mais sete apresentações em formações de câmara na nova sede.  Haverá também mais quatro concertos especiais, já a partir do dia 22 de março, além de participação na encenação de duas óperas previstas para o segundo semestre: Suor Angelica, de Puccini, e Così fan tutte, de Mozart – o que serve de alento a uma cidade em que sua principal casa lírica, o Theatro Municipal, simplesmente despreza a ópera.
Na primeira parte da noite de segunda-feira, depois dos discursos de praxe em ocasiões como essa, a OSB, sob a condução de seu regente titular, Roberto Minczuk, apresentou oito danças sinfônicas de compositores brasileiros.  Os primeiros acordes foram os do Frevo, de Cláudio Santoro, com destaque para uma percussão quase virtuosística.  Em seguida, ouvimos o sempre estonteante Mourão, de César Guerra-Peixe (orquestração de Clóvis Pereira), com cordas vibrantes: é impossível não se deixar levar pela melodia contagiante da obra, de inspiração nordestina.
Depois, o conjunto ofereceu a complexa Passacaglia para o novo milênio, de Edino Krieger (com o compositor presente); o belo Batuque, da Série Brasileira de Alberto Nepomuceno: uma peça baseada numa melodia simples e bela, ricamente orquestrada; e a Dança Brasileira, de Mozart Camargo Guarnieri.  Se esta última recebeu interpretação apenas correta, nas duas anteriores o conjunto mostrou-se preciso e atento.
Na sequência, ouvimos a Toccata (Catira Batida), da Bachianas Brasileiras n° 8, de Villa-Lobos, apesar de o programa apontar outra obra do grande Villa; e o segundo movimento (A chegada dos candangos) de Brasília: Sinfonia do Alvorada, de Tom Jobim, outra obra belamente orquestrada.
A primeira parte do concerto terminou com uma interpretação vibrante e expressiva do maravilhoso Batuque (Dança dos Negros), terceiro movimento da suíte Reisado do Pastoreio, de Oscar Lorenzo Fernandez.  Destaque especial para o timpanista, que interpretou sua parte com precisão e virtuosismo, em meio a um tutti bastante coeso.  A propósito, todo o naipe de percussão da orquestra teve uma grande noite, tocando e dançando animadamente.
Depois do intervalo, a OSB voltou ao palco para interpretar as Danças Sinfônicas do musical West Side Story, de Leonard Bernstein e a Suíte Porgy and Bess, que reúne árias e duetos da célebre ópera de George Gershwin em formato de canções.  Com o conjunto sempre preciso sob os cuidados de Minczuk, da primeira obra merecem destaque o primeiro movimento (Prólogo: Allegro moderato); o quarto (o estonteanteMambo: Presto); o quinto movimento (Cha-Cha, com a melodia da canção Mariaacompanhada pelas cordas em pizzicato); e o Finale: Adagio, no qual as cordas cantaram lindamente.
Recebendo em seguida a soprano Angela Brown e o barítono Kevin Deas para a suíte sobre a ópera de Gershwin, o concerto terminou em alto nível.  Brown começou atacando, com beleza de timbre, Summertime, a sublime canção de ninar entoada pela personagem Clara.  Durante a suíte, a soprano de voz firme e bem projetada foi ainda bastante expressiva em My man’s gone now (ária de Serena) e animada em The promised land (a passagem esperançosa da própria Bess).
Já Deas, um cantor de timbre marcante e extremamente carismático, roubou a cena também dançando em peças como A woman is a sometime thing (ária de Jake), I got plenty o’nuttin (ária de Porgy), It ain’t necessarily so (ária cínica de Sportin’ Life sobre a Bíblia, na qual alguns músicos da orquestra fizeram as vezes do coro) e There’s a boat dat’s leavin (ária em que Sportin’ Life tenta convencer Bess a segui-lo até Nova York) – todas ricamente interpretadas tanto pelo solista quanto pela orquestra.
Juntos, Brown e Deas interpretaram o magnífico dueto Bess, you is my woman now(aqui interpretando exatamente os protagonistas) e Lawd, I’m on my way, a passagem que encerra a ópera, completando o programa.
Nesta bela primeira noite oficial, digamos assim, que ainda teve como bis a repetição desta última peça citada e também a retomada do Mambo, de Bernstein, pude constatar que a Cidade das Artes tem uma acústica mais equilibrada que a do Theatro Municipal para concertos sinfônicos.  Acostumados às condições mais complicadas do Municipal, onde o conjunto de sons dos instrumentos, muitas vezes, chega embolado ao auditório, instrumentistas e regente ainda precisam burilar o som da orquestra para melhor adequação à nova casa.  Esta tarefa não deve ser difícil para músicos competentes.
A temporada 2014 da OSB na Cidade das Artes tem como principal destaque a presença do grande regente americano Lorin Maazel em três concertos entre 16 e 24 de agosto.  É necessário, no entanto, registrar que, para a próxima temporada, a FOSB precisa preparar uma programação mais robusta que os parcos sete concertos sinfônicos deste ano em sua casa.  O primeiro passo para o tão esperado crescimento artístico da orquestra foi dado, ou seja, o acordo para que a Cidade das Artes passasse a ser a sede do conjunto.  O segundo passo é aumentar e aprimorar a programação.

Politicagens e politiqueiros
É bom lembrar: a ideia da construção da Cidade da Música (renomeada para Cidade das Artes) foi do ex-prefeito César Maia, ignorado nos discursos da última segunda-feira.  Maia foi incompetente, por não terminar a obra durante sua gestão; foi irresponsável, ao “inaugurá-la” incompleta; e foi incapaz de evitar o mais do que claro superfaturamento da obra – se é que não foi favorecido por este superfaturamento, assunto a cargo dos órgãos competentes.
E o atual prefeito, Eduardo Paes, louvado nos discursos?  Bem, é outro incompetente, que demorou quatro anos para permitir que a Cidade das Artes entrasse em atividade, por pura picuinha com o prefeito anterior, além de quase ter retirado o patrocínio da prefeitura à FOSB.  Só não o fez por conta da “grita” geral.  No Brasil, louva-se muito politiqueiros medíocres.

OSB Ópera & Repertório
Pelo que pude apurar na Cidade das Artes, está próximo o acordo entre a FOSB e os músicos da OSB O&R.  Boa notícia.  Aguardo, pois, o consenso definitivo, esperando que ambos os lados se mostrem razoáveis.  No entanto, não foi possível confirmar se a FOSB ofereceria um número maior de concertos este ano com o fechamento do acordo.  Da programação oficial divulgada não constam as séries de óperas em forma de concerto que nos últimos dois anos ajudaram a minimizar o marasmo lírico imposto pelo Theatro Municipal.

Cia. Bachiana Brasileira
Por falar em marasmo lírico, a Cia. Bachiana Brasileira, comandada pelo maestro Ricardo Rocha, dá a sua contribuição para diminuir o buraco que o Municipal faz tanta questão de manter aberto.  A companhia apresenta a ópera Cavalleria Rusticana, de Mascagni, no Theatro João Teotônio do Centro Cultural Cândido Mendes, no centro do Rio.  A última récita é nesta sexta, 21 de março.  Você encontra mais detalhes clicando aqui.
Leonardo Marques
Fonte:http://www.movimento.com/

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