BEETHOVEN E O ROMANTISMO. ARTIGO DE BRUNO GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

O Romantismo, forma de expressão cultural surgida no entardecer do século XVIII, deixou indeléveis rastros na arte musical.
Para termos uma prova consistente desse legado não é necessário perscrutarmos um passado distante. Vemos, com efeito, que, até nos nossos dias, a cultura romântica transborda da música pop, nas Lady Gaga’s da vida, nos Beatles e em infindáveis outros gêneros musicais.
Mas o que é essencialmente o Romantismo, e como tudo isso começou? Explicar detalhadamente o processo seria demasiado extenso e conviria pouco aqui. Em linhas gerais, o Romantismo caracteriza-se por forte antropocentrismo e consequente valorização exacerbada das emoções, em contraponto ao ideal de racionalidade greco-latina que floresceu no Renascimento e ressurgiu no Pós-Barroco Clássico, do qual Mozart representa  o mais brilhante coroamento na esfera musical.
Certamente, os leitores sabem que é impossível discorrer sobre o tema sem nos reportarmos à sua figura central, qual seja, a do compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827).  Quem ouvir a Sinfonia Eroica ou a Sonata ao Luar em segundos entenderá do que estamos falando. O desprezo pela linearidade, a angústia insistente e feroz, o abandono das então tradicionais estruturas formais eclodem na música daquele que pode ser considerado um autêntico revolucionário, o porta-voz por excelência da Revolução Francesa e da Era Napoleônica.
No entanto, o aspecto mais interessante da música de Beethoven é o fato de ele ter conseguido enxertar esses elementos de desordem em sua música sem perder jamais o contato com a racionalidade musical de seus antecessores. Mais do que isso, o conjunto da obra beethoveniana revela uma música ainda intrinsecamente gerida por uma concepção clássica, a qual medeia a interação entre a composição e seu interlocutor. 
Em perspectiva aristotélica, poderíamos dizer que o elemento romântico em sua música é acidente, nunca essência, ainda que para um Haydn sua música possa soar demasiado excêntrica. Muito diferente de seus sucessores, entre os quais Schumann e Chopin, para os quais, aí sim, a música é pura expressão individual.    
Beethoven, portanto, ainda não é o compositor romântico por excelência, mas o inovador, o meio caminho andado, o abre-alas. Com isso, não pretendemos certamente diminuir seu prestígio; ao contrário, o consideramos pai de uma era musical que até hoje não se esgotou. Quem quiser, que assista ao filme “Eroica”, de Simon Cellas Jones, e verá na cena final que o veterano compositor Haydn, após presenciar a estreia da sinfonia em questão, profetizou, com toda a razão: “A partir deste dia, tudo está mudado”.
BRUNO GÓES – 25/03/2014

Fonte: http://www.movimento.com/

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