DUPLICIDADE DE TÍTULOS NO RIO E EM SÃO PAULO. ARTIGO DE MARCO ANTÔNIO SETA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Não há outros títulos a serem produzidos nos palcos brasileiros?

Carlos Gomes, foto Internet

Há alguns anos próximos, vivemos a insistência com certos títulos de óperas assolando os palcos do Rio de Janeiro e de São Paulo, arruinando a variedade e ecletismo dos repertórios que poderiam ser mais atraentes.
Já em setembro de  2011, o Theatro Municipal de São Paulo encenou o Rigoletto, na reabertura de seu prédio centenário; logo após, o Municipal carioca, em julho de 2012, apresenta-o novamente, com outra produção independente.
The Rake’s Progress, de Stravinsky, subiu à cena em junho de 2013 em São Paulo e, logo após, vai ao Rio na versão da OSB & Repertório. O Theatro São Pedro da capital paulista encerrou o ano de 2013 com a encenação de “Falstaff” e, insistentemente, ela volta à cena agora no Theatro Municipal de São Paulo, apenas quatro meses após a última. “Jupyra” havia sido feita no Rio de Janeiro em meados de 2013, vindo a São Paulo outra versão, caríssima por sinal,  no Municipal paulista no mês de outubro do mesmo ano.
Por reincidências, tivemos “Carmen” no Municipal carioca em abril de 2014 e, no próximo mês de maio, teremos novamente “Carmen” no TMSP, com o mesmo par de intérpretes nacionais (Luísa Francesconi e Fernando Portari); aliás um recente naufrágio do Municipal do Rio de Janeiro.
Para completar, ver-se-á “Salomé”, de Strauss, em julho/agosto no Municipal do Rio e, um mês após,  ela chegará ao Theatro Municipal de São Paulo, numa produção independente daquela.
Não há outros títulos a serem produzidos nos palcos brasileiros?
A exemplo disso o Theatro da Paz, em Belém do Pará, apresentará em 2014  “Mefistofele”, de Boito, e “Otello” , de Verdi, encenações raras no Brasil, saindo desse marasmo repetitivo. Quantos títulos já esquecidos em nosso território? Adriana Lecouvreur, de Cilea, há 63 anos arquivada; Manon, de Massenet, há 53 anos não se vê; Thais, de Massenet, sumiu dos palcos brasileiros. Electra, de R. Strauss;  Lakmé, de Leo Delibes, desde 1972 não se viu mais; e o Diálogos das Carmelitas, de Francis Poulenc?
E quanto a Verdi: Nabucco, desde 1969 não sobe à cena (45 anos de ausência no TMSP); I Vespri Siciliani então há 75 anos fora de cena. Os Mestres Cantores de Nurenberg, o festival sagrado “Parsifal”, de R. Wagner; A Dama de Espadas e Eugênio Onieguin, de Tchaikovsky ou a Manon Lescaut ou ainda La Fanciulla del West, de Puccini?
Carlos Gomes, o maior compositor lírico americano: como se justificar o vilipêndio e o sepultamento de Carlos Gomes? Distante já na década de 80, num rol de amigos, comentou-se numa ocasião: “Quando o Maestro Armando Belardi partir, Carlos Gomes irá junto“. E justamente o saudoso maestro ítalo-paulistano, criador da Orquestra e do Coro Lírico do Theatro Municipal, do qual foi diretor artístico por vários anos, realizava ao menos uma ópera de Gomes nas temporadas anuais; com ele, apagou-se o mestre de Campinas.
Nem nos Festivais de Belém ou do Amazonas, nem em Belo Horizonte ou Curitiba, Salvador, Rio de Janeiro ou São Paulo, sua terra natal. Conspurcação e arquivamento: Lo  Schiavo, Fosca, Maria Tudor, Salvator Rosa ou Odaleia.
Maestros John Neschling, Sílvio Viegas e Isaac Karabtchevsky, atentar a esse delicado capítulo da cena lírica brasileira.
Realizando-se um intercâmbio entre os teatros do território nacional efetuar-se-á o correto uso do dinheiro público, simultaneamente das secretarias estaduais e municipais de cultura, minimizando-se as despesas com a produção daqueles espetáculos. Tomando como exemplo a reprodução de “João e Maria”, no eixo S. Paulo – Rio de Janeiro e no Festival do Theatro da Paz. Também “Nabucco”, de 2011, uma co-produção da Fundação Clóvis Salgado de Belo Horizonte e da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro, trazendo às duas metrópoles um sucesso de produção artística entre as mesmas.
Escrito por Marco Antônio Seta em 21 de abril de 2014.
Inscrição sob nº  61.909 -MTB / SP

Comentários

  1. Resposta de John Neschling publicada na rede social Facebook:

    "Resposta a Marco Antonio Seta que publicou um post no seu blog movimento.com. Entrem no blog, leiam o artigo do Sr. Seta, que é muito pertinente.

    Caro Marco Antonio,

    Permita-me alguns comentários sobre o seu post, com o qual, aliás, concordo na sua essência. Alguns pontos, no entanto, a meu ver, precisam ser esclarecidos:
    1- Acho um pouco duro as expressões "títulos que assolam os teatros " e "arruinam o ecletismo possível". Melhor ter Salomé 2 vezes do que nenhuma, e o mesmo vale para a Carmen e o Falstaff (isso no que concerne o nosso Theatro Municipal de São Paulo, agora sob minha Direção Artística).
    2- Neste momento, no Brasil, creio que há poucos teatros ( se os há) que planejam com tanta antecedência como o nosso Theatro Municipal de São Paulo. Nenhuma outra instituição produtora de espetáculos líricos nos procurou, desde o início de minha gestão, para procurar saber os títulos que estamos programando para 2015 e 2016. Esse fato em si poderia ( e poderá) evitar as coincidências que você (com razão) levanta no seu artigo.
    Por outro lado o Theatro Muncipal não tem teatros parceiros no Brasil com quem possa pensar em 2016 com um mínimo de certeza e segurança.
    3- Não considero coincidência nem duplicidade de títulos uma versão concertística como os da OSB no Rio, ou o nosso Ouro do Reno do ano passado, com versões encenadas - como é o caso de Jupyra, ópera aliás encenada pela última vez nos anos 60 no Rio de Janeiro, ou o Rake's Progress levado no TM de SP e o concerto regido por Maluf no RJ.
    4- Um Faslstaff estrelando Ambrogio Maestri e outros grandes cantores da cena lírica internacional e brasileira não faz concorrência, assim como não a sofre, do Falstaff produzido no Teatro São Pedro no ano passado. A oportunidade de montar o Falstaff com Maestri foi agarrada com unhas e dentes há um ano atrás, muito antes de eu saber que o Falstaff seria levado no São Pedro, e não creio que alguém se lamente de tê-lo assistido de novo no Palco de São Paulo.
    Aliás, levar a mesma obra com elencos diferentes e versões diversas enriquece o cenário lírico e não o empobrece. Aliás o Theatro Muncipal de São Paulo lançou a temporada de 2014 ( e lançará as próximas) muito antes de qualquer outro Teatro brasileiro, sem que qualquer um deles tenha se manifestado a respeito.
    5- Concordo com você no que se refere a títulos menos levados para diversificar a oferta de óperas no Brasil. Louvo Belém e Manaus por suas escolhas originais, mas não creio que um título levado em Belém e em São Paulo caracterize qualquer tipo de duplicidade. Pense em Munique e Berlim, em Viena e Graz, em Londres e Leeds, todas essas cidades distantes algumas horas de carro umas das outras e que produzem anualmente muitos títulos coincidentes. São Paulo e Manaus distam mais entre si do que de Lisboa a Moscou...
    6- Espero poder surpreendê-lo com os títulos que produziremos no ano que vem: muitos deles estão nas sua lista de desejos no artigo que escreve...
    Pouco a pouco o Theatro Muncipal vai alargando o espectro de suas produções, sempre cuidando da qualidade e originalidade de seus espetáculos.
    7- Por fim, e não menos importante, caro Marco Antônio, aproveito a oportunidade e o seu blog para afirmar que estamos abertos a qualquer proposta de co-produção com outros teatros brasileiros, latinoamericanos ou europeus e americanos. Já alugamos um espetáculo do Chile (Don Giovanni, 2013), estamos alugando um do Reggio di Torino em 2015, em conversações com a Opera de Washington e outros planos aparecem amiúde. Infelizmente não conseguimos ainda uma parceria estável e confiável com qualquer teatro brasileiro, embora nossa Valquíria tenha sido levada no Rio de Janeiro e partes de nossa produção de Olga de Jorge Antunes em Brasília. Torço com vontade para que possamos racionalizar nossos gastos e nossos esforços num futuro próximo. Não depende só de nós..."

    John Neschling

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