MARÇO QUENTE NA OSESP: ABERTURA DE TEMPORADA, DECORAÇÃO BREGA E MÚSICOS INSATISFEITOS. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   
   A temporada da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo começou quente esse ano. As três primeiras apresentações mostraram uma programação diversificada e uma orquestra tocando em excelente nível. A regente titular Marin Alsop encaixou seu estilo de regência com a orquestra, isso resultou em um som uniforme nos naipes e uma musicalidade vistosa e brilhante. O contraste da boa música fica com a decoração dos salões externos da Sala São Paulo, brega e cafona é pouco para definir os objetos colocados.
   A abertura da temporada teve uma bela programação:  Bernstein e sua Missa Brevis , Rahcmaninov e o seu atraente Concerto número 2 para Piano e as melodias equilibradas da Sinfonia número 3 de Saint-Saens. A OSESP entrou no palco da Sala São Paulo com tudo, apresentou uma massa orquestral com corpo e volume corretos. A regência de Marin Alsop se mostrou precisa e o pianista Garrick Ohlsson mostrou grande domínio técnico de seu instrumento. Pianista que toca sem firulas.

   A segunda semana da programação regular teve um misto de peças famosas e raridades: Prokofiev e sua Sinfonia número um, clássica e a suíte Ala e Lolli mostraram algumas facetas interessantes do compositor. O Concerto número quatro para violino de Mozart foi solado pelo jovem Augustin Hadelich, o seu modo conservador de tocar  sem inovação não ofuscou a grandeza da obra. O pouco executado compositor brasileiro Guerra-Peixe apresentou ao público A Retirada da Laguna: Alegria em Nioaque e Pantanais. Novamente a OSESP mostrou alto nível orquestral em obras de diferentes períodos históricos.
   A semana do dia 28 foi reservada ao divino, a famosa Missa em Dó Maior de Beethoven e as não tão conhecidas Canticum Sacrum ad Honoren Sancti Marci Nominis e o Requiem Canticles  ambas de Stravinsky mostraram o Coro da OSESP, regido pela experiente Naomi Munakata, com vozes de qualidade única, cantam com alma na voz. Não vejo a necessidade de importarem solistas para cantar as peças apresentadas pela OSESP, muitos cantores do coro têm nível de solista e os que tem vindo não apresentam nada de extraordinário.
   O ano começou quente e a orquestra está tinindo. Nem tudo são flores na Sala São Paulo. Músicos reclamam do excesso de trabalho e os salários estão defasados. Muitos buscam renda extra, ou seja, fazer o famoso "bico" como complemento. Quatro pediram as contas  ano passado e se mandaram para outras orquestras com salários melhores e carga horária menor. Seis músicos esperam o resultado de concursos e a debandada pode ser maior ainda. A orquestra pode começar a perder a pegada com excesso de trabalho e cara de poucos amigos dos músicos devido aos baixos salários, motivação é importante em qualquer grupo.
   O número de assinantes caiu 10%  nos últimos cinco anos embora o aumento no público ( de 416 mil em 2012 para 476 mil em 2013)  possa ser explicado pela quantidade maior de eventos a cada ano. A relação dos músicos com a direção da orquestra nunca foi das mais amigáveis, o diretor  Nestrovski adora um microfone, fala pelos cotovelos no palco da Sala São Paulo em homenagens a músicos e a seus feitos, mas não é chegado a ouvir as revindicações dos músicos.
   A genial ideia do Passe Livre Universitário, onde estudantes de música ou em geral se inscreverem pela internet para ter ingressos gratuitos anunciada pelo presidente da casa como uma maneira de preencher cadeiras vazias naufragou na ausência. Dos 150 inscritos apareceram apenas 18 na noite de abertura. Caros membros do Conselho de Orientação, voltem com o ingresso da hora, assim os lugares vazios se preencherão e a função social da Fundação OSESP estará completa. 

   Ali Hassan Ayache