RACH3 COM NIKOLAI LUGANSKY. CRÍTICA DE VIVIANE CARNIZELO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

                                                       Nikolai Lugansky, Foto de Caroline DoutreNaive

O Ciclo Rachmaninov seguiu em grande estilo no último final de semana na Sala São Paulo. Durante o ano, serão executados concertos para piano e orquestra, bem como sinfonias do compositor russo. Compondo o quadro de solistas, o pianista Nikolai Lugansky foi o artista convidado para o Terceiro Concerto para Piano e Orquestra de Rachmaninov.Isaac Karabtchevsky, atual regente das orquestras Petrobrás Sinfônica e Sinfônica de Heliópolis, comandou as três apresentações à frente da OSESP, que ainda executou a Primeira Sinfonia de Tchaikovsky após o concerto popularmente conhecido como Rach3.
Nikolai Lugansky, nascido na Rússia em 1972, foi aluno de Tatiana Nikolayeva e durante os anos 80 e 90 conquistou importantes prêmios da música erudita, entre eles o segundo lugar de ambos os concursos Tchaikovsky e Rachmaninov em Moscou. Atualmente ele é considerado um dos grandes intérpretes de piano em atuação no mundo. A convite da Osesp, Lugansky realizou um recital e três apresentações do terceiro concerto de Rachmaninov.
Temido por seu grau de dificuldade, o concerto foi brilhantemente executado por Lugansky, que se em alguns momentos percebeu a sonoridade da orquestra se exacerbar, fez com que o piano a acompanhasse ao máximo, na busca de equilíbrio. Mas muito além do virtuosismo técnico, o solista demonstrou toda a sua capacidade artística.
O Rach3 é um concerto intenso, de melancolia, romantismo e desespero rasgados. Entregar tamanha carga emocional ao público exige do solista não apenas sensibilidade, mas também vulnerabilidade. E durante a expressão romântico-melancólica de Lugansky, o público se fascinou e descobriu que os males da alma são universais. Vulnerável aos males e à sua expressão através do piano, Lugansky mostrou seu lado humano e gerou identificação do público com a obra, o instrumento e o artista sobre o palco. Ao ressoar do último acorde, a plateia irrompeu em aplausos e gritos de bravo, chamando o pianista para o bis. E se os sentimentos humanos estavam expostos durante o concerto, uma agradável surpresa ainda se seguiria.
Em um gesto de delicadeza e generosidade, Arthur Nestrovski, atual diretor artístico da OSESP, subiu ao palco na tarde de sábado, durante os aplausos ao solista, com bolo de chocolate e velinhas. Era o aniversário de Lugansky. Entre abraços e sorrisos, ele escutou a homenagem da Sala, que tocou e cantou Parabéns. A intensidade do concerto seguida do gesto prosaico do diretor artístico levou o público ao delírio, fazendo da Sala um lugar amistoso onde se via a formação de filas para cumprimentar os artistas envolvidos.
Expressando uma serenidade inacreditável após o concerto, Nikolai Lugansky disse que adoraria retornar a São Paulo. “Talvez em dois anos?”, pensou ele ainda no saguão, antes de deixar a Sala. Fica registrada aqui a vontade do pianista (e do público), juntamente com um recadinho para a equipe da OSESP: dois anos é muito tempo.
O Ciclo Rachmaninov terá continuidade do dia 15 de maio, com a execução do Primeiro Concerto para Piano.

Viviane Carnizelo

palavrasdearte.wordpress.com 

Comentários

  1. Marcelo Lopes Pereira29 de abril de 2014 às 21:21

    Belíssimo comentário de um colossal concerto, e o melhor de tudo ainda aprendi com esse artigo !

    Até agora o melhor concerto da OSESP desse ano! Tive a oportunidade de cumprimentar o Lugansky na terça e na sexta feira ! E ouvi da boca dele o desejo de retornar à São Paulo, nos próximos 2 anos, além de ser um extraordinário pianista, ele é extremamente simpático e acessível.

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