UMA CARMEN FEITA DE ANDAIMES E LUAS CHEIAS. CRÍTICA DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Diretor artístico é diretor artístico e não persistente e desinteressante regente da orquestra que tem um titular que vem realizando ótimo trabalho.

Não se sabe porque não foi o regente titular da OSTMRJ, Maestro Sílvio Viegas, que regeu a abertura da temporada com o “Nona” e em seguida com a ópera “CARMEN”, de Bizet. O diretor artístico de TMRJ,  Mastro Isaac Karabtchevsky, que há cerca de cinquenta anos demonstra seu valor na casa, já mostrou tudo que devia mostrar e o público já torce o nariz, mormente quando Sílvio Viegas vem realizando ótimo trabalho à frente da OSTMRJ. Sem chiliques ou rompantes. Vide “CARMINA BURANA”, vide “CAVALERIA RUSTICANA”, vide “GISELLE”.
Isto posto, neste 10 de abril tivemos a ópera“CARMEN” mais feia e desengonçada que o TMRJ já abrigou. Uma “CARMEN” de horríveis cenários, abusando do pretume de noites que, em teatro, devem ficar mais claras e de visibilidade noturna teatral, apelando menos para canhões de luz em  cima do foco da ação, e sem insistentes, monótonas e ultrapassadas luas cheias enchendo o negrume do céu.
A tabacaria e o quartel do primeiro ato viraram andaimes, o “chez Lilas Pastia” do segundo ato virou aposento de estação de trem, com um enorme circulo branco refletindo bailarinos, o que vale no Circo Dudu ou no Palau Valenciá mas não no palco do TMRJ, no terceiro ato o negrume de uma noite de avantesmas escondeu tudo e, no quarto ato, eliminaram o desfile de convidados para a tourada com uma longa, sem imaginação e chatíssima mostra de negros touros passeando prá lá e prá cá, sem graça e sem rumo. Os figurinos são monótonos e sem o colorido que, mesmo modernamente, se espera de um toureiro valente ou de uma cigana safada.
Os cantores, largamente prejudicados por uma acústica de cabaret, fizeram o que puderam, o que foi pouco, a começar por uma Micaela ( EKATERINA BAKANOVA) de voz pequena e apelante para agudos “a tutta forza”, um toureiro (VALDIS JANSON)  inexpressivo e de curta voz e uma Carmen (LUÍSA FRANCESCONI) de cena e voz medíocres para uma tão ambiciosa produção, que foi à Rússia, à Letônia, ao Palau de Valencia, a mexicanos intérpretes de Gardel, etc… etc…
O ponto alto da produção foi o tenor FERNANDO PORTARI, de voz bonita, convincente e cheia de recursos (pianos, mezza voce, agudos fáceis, voz afinada e mais).
A regência foi trivial, sem busca de grandes vôos de expressões. Os comprimários não comprometeram, com destaque para a bela voz e presença de LEONARDO PASCOA.
Afinal, uma lamentação neste mar de espinhos: a acústica de nosso maior teatro está péssima e ninguém faz nada. Presidente, diretores, aspones: que tal fazer alguma coisa? Ou vamos ter de reunir baleiros, porteiros, cambistas, com a secretária e com o governador ?  
 
MORS STUPEBIT ET NATURA
MARCUS GÓES-ABRIL 2014

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