ENTREVISTA COM O EXPRESSIVO E PREMIADO PIANISTA CRISTIAN BUDU.



Cristian Budu, foto Internet


Cristian Budu é um jovem e expressivo pianista brasileiro. Um de seus últimos feitos foi o primeiro lugar – e o prêmio do público - no Concurso Internacional de Piano Clara Haskil, na Suíça, em 12 de setembro do ano passado, 2013. Por aqui ele já colecionava troféus como o do Concurso Nelson Freire e Prelúdio – da TV Cultura. No último sábado, dia 03, Cristian Budu conversou comigo sobre música, e eu repasso a vocês, em tom informal, o que o jovem pianista me contou. Em sua última fala, ele convida a todos para sua próxima apresentação, na Sala São Paulo.
Infância
“Meus pais são romenos e, na Romênia, até hoje, as pessoas estudam música como parte do currículo. Meu pai sempre tocou piano e clarinete, então na minha casa sempre tinha música, e foi assim que eu comecei a me interessar também. A música era parte da minha vida como era qualquer outra coisa – eu tocava, jogava bola - era uma das minhas atividades. Foi dessa maneira que eu conduzi até entrar na faculdade”. CB
 Influências
“Eu gosto muito da escola antiga de piano. Sou aficionado por Alfred Cortot, Dinu Lipatti, Clara Haskil, Sviatoslav Richter, Vladimir Horowitz, Artur Schnabel. Esses pianistas tinham algo que me encanta: tocar como se estivessem improvisando no piano, e eu tento seguir um pouco nessa linha também. Dos atuais, Radu Lupu, Maria João Pires, acho ela formidável, e Nelson Freire, que é tão espontâneo ao tocar! Sabe, para fazer uma performance, você tem que ter um frescor, tem que estar preparado para qualquer coisa. Hoje em dia os performers estão preparados apenas para o que eles estão preparados. Lidar com o momento é essencial em arte.
Mas a grande formação da minha visão artística eu devo ao Eduardo Monteiro, ele foi o mestre dos mestres para mim. Foi com ele quem de fato me formou, abriu meus ouvidos. Piano tem muitas linhas, mas ele é um dos pianistas mais refinados que eu já ouvi na minha vida”. CB
Concurso Internacional de Piano Clara Haskil
“Acho que foi a maior surpresa da minha vida, porque é um concurso, de fato, muito grande, e eu não sou muito “concurseiro”, eu nunca estava nesse meio musical. E concurso, querendo ou não, é uma coisa que você constrói estando nesse meio – você começa em concursos menores e vai escalando. Eu já havia participado de alguns no Brasil, mas não me sentia muito confortável. No Concurso Clara Haskil, eu fui meio de alegre. Eu gostava do repertório trabalhado e me inscrevi. Eu cheguei sem nenhuma pretensão, mas muito feliz de poder tocar o repertório que Clara Haskil tocava, que é mais lírico. Eu não me considerava preparado para passar nem nas eliminatórias, mas o concurso também era uma oportunidade de aparecer na Europa, de tentar ficar conhecido. Passar pelas diferentes fases do concurso foi uma surpresa atrás da outra.
E a história engraçada é essa, pois quando eu decidi ir para o concurso, eu tinha que indicar qual concerto tocar em uma possível prova final entre uma lista pré-selecionada do repertório da Clara Haskil. Schumann é um dos meus compositores favoritos, e eu decidi Schumann porque eu já havia trabalhado, mas então eu precisaria estudar bastante. Como eu nunca pensei que chegaria à final, eu não preparei o concerto - em três meses eu tive pouquíssimas aulas. Dois dias antes da final, na semifinal, eu recebi a notícia de que havia passado para a última fase, mas eu tinha tanta certeza que eu não ia passar, que perdi a premiação dos finalistas – eu já havia deixado o local. Uma vez na final, eu tinha dois dias para estudar o concerto. Eu já estava muito feliz de ter chegado até ali, então eu acho que isso me ajudou, eu não tinha muita pretensão de ganhar. Então ganhei.
Até hoje eu estou me recuperando um pouco desse susto, pois é claro que minha vida mudou bastante, com contratações para concertos e novas expectativas sobre mim. Organizar essa nova vida não é muito simples, mas é claro que eu estou muito feliz. É o reconhecimento do meu trabalho”. CB
Relações orgânicas: música e músico, músico e público, música e público
“Meus pianistas favoritos não são pianistas impecáveis, mas músicos que me inspiram muito. Tentar tocar tudo de maneira impecável tecnicamente e só depois fazer música, para mim não vale a pena, é melhor fazer música de uma vez. Hoje em dia se vê muitos pianistas que interpretam do mesmo modo, mas tecnicamente em um nível altíssimo.
A gravação contribuiu para isso, criou-se um estereótipo sobre o que é música, sobre como as peças devem soar. Esse é um assunto tão vasto! Se você vê a relação do compositor-intérprete com a música, ou seja, interpretar a partitura, era muito diferente antigamente, era muito mais orgânico, era mais humano, havia um momento para acontecer. Você não pode tirar o momento em que acontece. Hoje em dia a música está em conserva, muitos intérpretes tentam imitar uma gravação, isso é assustador, até porque esses padrões de interpretação se mantêm. Eu vejo isso como uma luta para mim, permitir que as pessoas tenham a melhor experiência com a música, sem que haja perdas do músico com a música e do músico com o público”. CB
Os jovens e a música clássica
“Quando eu me mudei para Boston, eu gostava de reunir as pessoas em casa, e muitos jovens que não estavam acostumados a frequentar salas de concerto começaram a vir. A partir disso, um amigo meu criou essa rede social, Groupmuse. com, para fazer música na casa das pessoas. No site, uma pessoa que possa ceder um espaço em sua casa pede um concerto de música de câmera. As pessoas vão até a casa, levam o que vão consumir e uma gorjeta para o músico. E assim se faz música. É um clima mais informal, as pessoas gostam da proximidade com o músico, a liberdade de aplaudir a qualquer momento. Essa já é uma tendência no exterior, e eu estou trazendo o projeto para cá em agosto. É bom para criar um contato mais humano com a música. Se ela acontece em um ambiente onde todos ficam à vontade, como em uma sala de estar, as pessoas se conectam a ela mais facilmente. Isso é ótimo para aproximar os jovens da música clássica e, com o tempo, renovar o público que frequenta salas de concerto”. CB
O Concerto para Piano de Schumann em Lá menor
“Eu toquei esse concerto, acho que em 2006 ou 2007, com a sinfônica de Sergipe. Eu aprendi meio que na correria e toquei, mas foi muito legal, eu agradeço muito ao Guilherme Mannis - Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Sinfônica de Sergipe desde 2006.
O primeiro movimento eu cheguei a tocar no Prelúdio, - concurso de música da TV Cultura, edição de 2007, que venci - mas depois deixei o concerto quieto. Isso foi naquela época. Eu achei que o concerto ainda não estava amadurecido, não era uma coisa que eu tinha nas mãos. Anos depois, quando decidi participar do Concurso Clara Haskil, escolhi esse concerto. 
Agora terei o prazer de tocá-lo novamente, no palco da Sala São Paulo, no domingo dia 11 de maio, com a Orquestra Experimental de Repertório e regência de Carlos Eduardo Moreno. É um concerto da série Matinais, às 11 horas da manhã. A entrada é gratuita, espero todos lá”. Cristian Budu

Organização e pauta de Viviane Carnizelo


viviane.carnizelo@gmail.com        palavrasdearte.wordpress.com

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