A TIMIDEZ DO RIO. COMENTÁRIOS DE RAFAEL FONSECA NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
MENINOS, EU VI. E fiquei muito bem impressionado. Fui a uma récita da Carmen encenada no Municipal de São Paulo (foto). Nossos vizinhos, graças a um carioca — John Neschling —, estão desfrutando de um teatro de ópera sério, que já adiantou sua programação de 2015. A montagem à qual assisti é produção digna de figurar nas melhores casa de ópera do mundo. Enquanto isso, no Rio… Bem, deixa pra lá.
RIO EM DESVANTAGEM. Mas não dá, temos que mudar essa vocação para balneário desimportante culturalmente. Enquanto o carioca Neschling faz brilhar o Municipal de São Paulo… Ele, que já fez surgir das cinzas a OSESP. Enquanto o carioca-de-coração Aécio Neves deu todas as condições para Mechetti criar a excelente Filarmônica de Minas. Enquanto o carioca da gema Marcelo Lehninger destaca-se na vida musical de Boston, como regente-associado da Boston Symphony… O que há com o Rio? Porque manter gestores que já mostraram inapetência — tanto no Municipal como na OSB — para aparelhos culturais ligados à música? Socorro! Um alento é a presença de Emilio Kalil na Cidade das Artes, que anda fazendo um milagre naquele elefante-branco.
NÓS BEM QUE MERECÍAMOS… Aliás, Lehninger (foto) regeu aqui a OSB no dia 31 de maio e quem ouviu garante que a orquestra melhora muito na mão dele.
DANÇA DAS CADEIRAS. Simon Rattle anunciou sua saída da Filarmônica de Berlim em 2018 e é cotado como certo para o lugar de Valery Gergiev na Sinfônica de Londres. Gergiev está para assumir o posto em Munique, na Filarmônica. Já Mariss Jansons sai da Orquestra da Rádio da Baviera e também, por motivos de saúde, da Concertgebouw de Amsterdam. As fichas vão para Iván Fischer para o pódio de Amsterdam. Será?
DISSONÂNCIAS. Falando em Fischer… O crítico e ensaísta Alex Ross — autor do excelente “O Resto é ruído — defende na última edição da New Yorker as qualidades da Orquestra de Budapeste e seu diretor, Iván Fischer (foto). Realmente, eu já tinha me impressionado muito com uma Quinta de Tchaikowsky tocada por eles aqui no Rio (que ouvi de novo com eles em Viena) de uma precisão impecável e pulso e garra selvagens. Mas meu amigo e crítico Ricardo Gondim advertia: “Fischer é uma fraude” e quando os ouvi em Edinburgh no Festival de lá, tocando a Quinta de Mahler, fui com as maiores expectativas (baseadas no Tchaikowsky) e saí muito decepcionado. Mahler não é para aventureiros, e a Quinta Sinfonia sob a batuta de Fischer soou vazia, fraca, sem vida. Depois testemunhei outro Fischer, o irmão Adám, mais velho, diretor do Mozarteum, em Salzburg. Que craque! Em Mozart, Haydn e Schubert foi um sonho. Sobretudo em Mozart, a precisão, os ataques, uma certa rispidez na sonoridade que contrasta e enriquece o equilíbrio elegante da obra deste compositor. Mas o talento de um não obriga que haa talento no outro. E fenômenos midiáticos e políticos estão por aí, aos motes. Respeito muito o Ross, assim como o Gondim. Vou ter que começar a ouvir Fischer de novo…
É DE PEQUENO QUE… A London Symphony, orquestra que incluo como entre as 5 grandes do globo, acaba de contratar um novo trombonista, com 18 anos de idade! Peter Moore (foto) é um fenômeno que aos 12 venceu um concurso da BBC para jovens instrumentistas, e entra como o mais novo músico do conjunto desde a sua fundação em 1904.
Rafael Fonseca
é pesquisador musical, cronista da Anna e organiza viagens musicais.
Fonte: http://www.annaramalho.com.br/news/amigos-da-anna/rafael-fonseca/35011-timidez-rio.html
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