CANDIDE, DE BERNSTEIN, PELA TEMPORADA ESPECIAL DA OSESP. CRÍTICA DE VIVIANE CARNIZELO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.


                             

   Leonard Bernstein, de personalidade forte e complexa, talvez tenha encontrado nas dissonâncias e devaneios do enredo de Candide um reflexo de si mesmo. A narrativa, escrita pelo filósofo iluminista Voltaire e publicada pela primeira vez em 1759 sob o pseudônimo de Senhor Doutor Ralph, caracteriza-se pela ação rápida com elementos absurdos e muitas vezes violentos. O propósito de Voltaire era se opor ao pensamento otimista de seu contemporâneo alemão Leibniz, segundo o qual vivemos no melhor dos mundos.
Cândido, personagem principal e otimista que recebe lições filosóficas de Dr. Pangloss vive, durante o enredo, uma série de grandes decepções, a começar pela perda de sua amada Cunegundes, encaminhando-se para a formação de uma nova visão de mundo, meio otimista meio realista, que fornece o desfecho da história.
A música de Bernstein acompanha o ritmo rápido e maluco na narrativa que deu origem ao libreto. Misturando passagens de difícil execução técnica, coloraturas e influências norte-americanas, Candide encanta do início ao fim. Bernstein, compositor tanto de sinfonias quanto do celebrado West Side Story, faz da opereta uma obra graciosa que mistura estilos tanto quanto diversifica o enredo. Marin Alsop, regente da noite e ex-aluna de Bernstein, conferiu precisão e graça à obra de seu mestre, com a honra de transmitir ao público não apenas o Bernstein que deixou seu nome na história, mas a maravilhosa pessoa com quem ela teve a chance de conviver e aprender.
                                 Urban Sketching de Fernanda Vaz Campos
Com direção cênica de Jorge Takla, quem já havia assinado Candide no Theatro Municipal anos atrás, Candide teve figurinos e recursos teatrais que chamaram atenção pela simplicidade, delicadeza e objetividade. O coro também foi coreografado, interagindo com os personagens, dançando, vibrando e embalando o público nos momentos de maior emoção. O palco estava repleto de agradáveis surpresas, como o conjunto de serpentinas que fez as vezes de fogos de artifício no final, produzindo um efeito elegante e festivo.
O grupo de solistas coroou a noite, com destaque para o timbre doce e potente da soprano Lauren Snouffer (Cunegundes), com coloraturas e agudos fáceis que deleitaram o público; a voz lírica e arredondada de Keith Jameson (Cândido); e a presença mais do que esperada do barítono brasileiro de fama internacional Paulo Szot, cuja voz cheia e vibrante preencheu a Sala e a memória de quem lá esteve.
“Devemos cultivar nosso jardim”, diz Cândido, como conclusão da jornada por sua própria visão de mundo. A opereta termina em tom alegre e realista, deixando uma lição ainda válida nos dias de hoje. Para quem ficou curioso, há uma gravação com a Filarmônica de Nova Iorque, com regência de Marin Alsop.
Mesmo sendo o Compositor Transversal deste ano na Temporada OSESP, com obras apresentadas por diferentes segmentações da orquestra, ainda falta espaço para Leonard Bernstein. É um artista grande demais e Candide é uma obra muito rica para ficar restrita em três récitas. Que ela possa ser encenada muitas outras vezes para o grande público.

Viviane Carnizelo    facebook.com/PalavrasdeArte?ref=hl

Fonte do Urban Sketching de Fernanda Vaz Campos : http://www.fernandavazdecampos.com.br/blog/

Comentários

Postagens mais visitadas