GUSTAVO DUDAMEL FAZ O TEMPO PARAR. VILLA-LOBOS, CARREÑO, BERLIOZ E MAHLER NA SALA SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
A Orquestra Sinfônica Simón Bolívar se apresentou em concerto extra-assinatura pela sociedade de Cultura Artística nos dias 06 e 07 de Julho na Sala São Paulo. Essa orquestra é a jóia da coroa do" El Sistema" venezuelano, programa social e artístico que visa o desenvolvimento músicos. Gustavo Dudamel é o mais famoso músico saído do "El Sistema", jovem e dotado de um talento excepcional para a regência Dudamel já comandou as maiores orquestras do mundo.
Gustavo Dudamel, foto Internet
Na chegada a sala de concerto sabemos que a orquestra que se apresentará é latina, nada mais que seis ônibus na porta descarregam todo o séquito. Lembro que geralmente usam-se dois ou no máximo três, excesso de pessoal em esferas públicas é característica da América Latina em todos os setores e na música venezuelana não é diferente.
A apresentação em São Paulo teve um programa eclético com compositores latinos na programação. A festa começa com Heitor Villa-Lobos , Bachianas Brasileiras N. 2 . O intuito com as Bachianas é a fusão da música regional brasileira caipira com a música de Bach. Delas nasce uma diversidade musical, união de estilos que parecem não se unir. Villa-Lobos consegue musicalidade característica do sertão brasileiro, trás o caipira e o caboclo para a sala de concerto. A Bachianas Brasileiras n. 2 é uma das mais famosas da série de 9 compostas, seus quatro movimentos mostram uma viajem pelo interior do Brasil. A regência de Dudamel realçou o brilho e colorido das canções locais, pecou no andamento do movimento mais famoso da obra. A Tocata (O Trenzinho do Caipira) a sonoridade lembrou de tudo, menos uma Maria Fumaça do interior. Faltou uma pegada brasileira, uma musicalidade nacional. A orquestra Simón Bolívar soou comum.
Villa-Lobos, foto Internet
O poema sinfônico Margariteña do venezuelano Inocente Carreño é uma homenagem a sua cidade natal, Porlamar na Ilha de Marguerita. Obra com tema baseado na canção folclórica Margarita es una lágrima e outras canções populares venezuelanas. Dudamel apresentou as cores de seu país em um poema sinfônico onde os metais tem força e foram o destaque da peça.
A partir da Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz a Orquestra Sinfônica Simón Bolívar mostrou porque é famosa no planeta. Conta a história de um artista por um amor não correspondido, os movimentos são descritos no programa elaborado pelo próprio compositor. Obra complexa que possuí diversas armadilhas para todos os naipes foi executada com regência precisa e sonoridade limpa. Andamentos tradicionais e coesão entre os naipes foram características que permearam a apresentação. Dudamel mostrou nos cinco movimentos todo o lirismo do estilo romântico presente na peça com músicos de técnica apurada.
Gustav Mahler, foto Internet
A segunda noite foi reservada a somente uma obra, a Sinfonia N. 9 de Gustav Mahler. Confesso que nunca morri de amores pelo compositor, mas na nona ele consegue música expressiva em notas que detalham sentimentos que o compositor vivia e mostram a chegada de sua morte. Obra enorme que exige uma orquestra imensa e músicos de qualidade. A Simón Bolívar tira de letra, a regência de Dudamel inspira-se no estilo de Leonard Bernstein (este um dos responsáveis pelo resgate da obra de Mahler nos anos 60) . As obsessões do compositor estão todas lá, morte e desejos expressos em música ora lenta e às vezes veloz. A orquestra se mostrou do tamanho da obra, tocou impecavelmente bem com naipes coesos.
A cena final é lenta, prenúncio de um fim melancólico foi executada com tons sombrios onde a música foi parando devagar. O ápice é quase um minuto de puro silêncio, Dudamel segura a orquestra e o tempo parece parar. O silêncio pode dizer muito às pessoas em um mundo externo repleto de loucuras sonoras. Segundos que parecem durar horas onde a respiração trava e somos levados á uma reflexão interna.
Ali Hassan Ayache
Gustavo Dudamel, foto Internet
Na chegada a sala de concerto sabemos que a orquestra que se apresentará é latina, nada mais que seis ônibus na porta descarregam todo o séquito. Lembro que geralmente usam-se dois ou no máximo três, excesso de pessoal em esferas públicas é característica da América Latina em todos os setores e na música venezuelana não é diferente.
A apresentação em São Paulo teve um programa eclético com compositores latinos na programação. A festa começa com Heitor Villa-Lobos , Bachianas Brasileiras N. 2 . O intuito com as Bachianas é a fusão da música regional brasileira caipira com a música de Bach. Delas nasce uma diversidade musical, união de estilos que parecem não se unir. Villa-Lobos consegue musicalidade característica do sertão brasileiro, trás o caipira e o caboclo para a sala de concerto. A Bachianas Brasileiras n. 2 é uma das mais famosas da série de 9 compostas, seus quatro movimentos mostram uma viajem pelo interior do Brasil. A regência de Dudamel realçou o brilho e colorido das canções locais, pecou no andamento do movimento mais famoso da obra. A Tocata (O Trenzinho do Caipira) a sonoridade lembrou de tudo, menos uma Maria Fumaça do interior. Faltou uma pegada brasileira, uma musicalidade nacional. A orquestra Simón Bolívar soou comum.
Villa-Lobos, foto Internet
O poema sinfônico Margariteña do venezuelano Inocente Carreño é uma homenagem a sua cidade natal, Porlamar na Ilha de Marguerita. Obra com tema baseado na canção folclórica Margarita es una lágrima e outras canções populares venezuelanas. Dudamel apresentou as cores de seu país em um poema sinfônico onde os metais tem força e foram o destaque da peça.
A partir da Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz a Orquestra Sinfônica Simón Bolívar mostrou porque é famosa no planeta. Conta a história de um artista por um amor não correspondido, os movimentos são descritos no programa elaborado pelo próprio compositor. Obra complexa que possuí diversas armadilhas para todos os naipes foi executada com regência precisa e sonoridade limpa. Andamentos tradicionais e coesão entre os naipes foram características que permearam a apresentação. Dudamel mostrou nos cinco movimentos todo o lirismo do estilo romântico presente na peça com músicos de técnica apurada.
Gustav Mahler, foto Internet
A segunda noite foi reservada a somente uma obra, a Sinfonia N. 9 de Gustav Mahler. Confesso que nunca morri de amores pelo compositor, mas na nona ele consegue música expressiva em notas que detalham sentimentos que o compositor vivia e mostram a chegada de sua morte. Obra enorme que exige uma orquestra imensa e músicos de qualidade. A Simón Bolívar tira de letra, a regência de Dudamel inspira-se no estilo de Leonard Bernstein (este um dos responsáveis pelo resgate da obra de Mahler nos anos 60) . As obsessões do compositor estão todas lá, morte e desejos expressos em música ora lenta e às vezes veloz. A orquestra se mostrou do tamanho da obra, tocou impecavelmente bem com naipes coesos.
A cena final é lenta, prenúncio de um fim melancólico foi executada com tons sombrios onde a música foi parando devagar. O ápice é quase um minuto de puro silêncio, Dudamel segura a orquestra e o tempo parece parar. O silêncio pode dizer muito às pessoas em um mundo externo repleto de loucuras sonoras. Segundos que parecem durar horas onde a respiração trava e somos levados á uma reflexão interna.
Ali Hassan Ayache
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