OS 25 ANOS DA MORTE DE HERBERT VON KARAJAN E A RECENTE MORTE DE LORIN MAAZEL. ARTIGO DE OSVALDO COLARUSSO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Sempre que um grande maestro morre chovem na imprensa aquelas frases, que parecem mesmo “frases feitas”: “O último grande maestro”, “Morre o maior maestro de sua geração” ou “Perda irreparável”. No meu ver as coisas não são exatamente assim. Sem hagiografias.
Herbert von Karajan – 25 anos da morte
Herbert von Karajan (1908 – 1989), cujos 25 anos da morte foram lembrados na semana passada, foi realmente um músico excepcional, mas cometeu alguns pecados na vida privada e na vida profissional que são difíceis de esquecer. Não vou ficar batendo na tecla dele ter sido um nazista de carteirinha (realmente foi) mas seu egocentrismo o fez muitas vezes cair no ridículo. Exemplifico isso: querendo mostrar que poderia reger do cravo certas obras barrocas colocou dois cravos no palco.
Um que ele tocava (ou fingia faze-lo) e outro em que um profissional do instrumento realmente tocava o baixo contínuo. Além de transformar Bach e Vivaldi em compositores pós românticos seu narcisismo arrastou inclusive artistas de bom nível como Anne Sophie Mutter numa empreitada de arrepiar: a mais desfocada versão de “As quatro estações” de Vivaldi que existe. Também na sua mania de ser professor de Deus Karajan colocou em seus registros de ópera cantores que não tinham nada a ver com a obra que estava sendo gravada. Por exemplo, ele achava que tinha que humanizar a princesa chinesa Turandot. Por isso colocou a pobre cantora italiana Katia Ricciarelli (uma excelente cantora) para “sofrer” no papel título da última ópera de Puccini, concebida para uma cantora wagneriana. A crítica foi impiedosa com ela. Outra maldade de seu autoritarismo foi ter praticamente acabado com a voz do soprano Helga Dernesch ao faze-la cantar papéis como Isolda e Brunhilde, já que a mais adequada, a sueca Birgit Nilsson, se recusava, a partir de 1965, a cantar com ele. Dernesch, depois de ficar fora de cena por quase dez anos voltou a cantar como mezzo, inclusive no Rio de Janeiro, quando interpretou de maneira marcante a Herodias da Salomé de Richard Strauss na década de 1980.
Qual o legado de Karajan? Ele não é pequeno. Sua gravação de “Os mestres cantores de Nuremberg” feita em Dresden em 1970 permanece como uma fantástica versão, assim como o registro feito ao vivo de “Tristão e Isolda”, também de Wagner, feito em Bayreuth em 1952. Suas gravações de obras de Richard Strauss, tanto as de ópera como as de poemas sinfônicos, também permanecem como registros exemplares. Apesar de não ser nem um pouco chegado à música contemporânea suas gravações de obras de Schoenberg, Berg e Webern são uma beleza. Nas dificílimas “Variações opus 31” de Arnold Schoenberg ele chega a superar a clareza de um especialista como Pierre Boulez. Outro item maravilhoso é a música que ele gravou (em áudio e em vídeo) de Debussy. Sua leitura de “La Mer” (O mar), especialmente num vídeo da década de 1970, é das mais lindas que existem. Suas gravações do Requiem de Verdi são maravilhosas, sobretudo um vídeo feito em Milão no início dos anos 70, com o jovem (e sem barba) Pavarotti. Eu passo longe de seus registros de Mozart, Haydn, Beethoven e Brahms. Seu ciclo de Sinfonias de Beethoven gravado no início da década de 1950 com a Phlilharmonia de Londres fazia prever um sucessor de Furtwängler. Mas as gravações das mesmas sinfonias de Beethoven que ele realizou posteriormente por diversas vezes em Berlim e Viena são de um desrespeito ao texto original que chegam a ser irritantes.
Qual o legado de Karajan? Ele não é pequeno. Sua gravação de “Os mestres cantores de Nuremberg” feita em Dresden em 1970 permanece como uma fantástica versão, assim como o registro feito ao vivo de “Tristão e Isolda”, também de Wagner, feito em Bayreuth em 1952. Suas gravações de obras de Richard Strauss, tanto as de ópera como as de poemas sinfônicos, também permanecem como registros exemplares. Apesar de não ser nem um pouco chegado à música contemporânea suas gravações de obras de Schoenberg, Berg e Webern são uma beleza. Nas dificílimas “Variações opus 31” de Arnold Schoenberg ele chega a superar a clareza de um especialista como Pierre Boulez. Outro item maravilhoso é a música que ele gravou (em áudio e em vídeo) de Debussy. Sua leitura de “La Mer” (O mar), especialmente num vídeo da década de 1970, é das mais lindas que existem. Suas gravações do Requiem de Verdi são maravilhosas, sobretudo um vídeo feito em Milão no início dos anos 70, com o jovem (e sem barba) Pavarotti. Eu passo longe de seus registros de Mozart, Haydn, Beethoven e Brahms. Seu ciclo de Sinfonias de Beethoven gravado no início da década de 1950 com a Phlilharmonia de Londres fazia prever um sucessor de Furtwängler. Mas as gravações das mesmas sinfonias de Beethoven que ele realizou posteriormente por diversas vezes em Berlim e Viena são de um desrespeito ao texto original que chegam a ser irritantes.
Lorin Maazel – a morte de um grande músico
Lorin Maazel, que faleceu no último dia 13, nasceu em 1930. Apesar de ter nascido em Paris era cidadão americano. Foi o único menino prodígio da regência a ter uma grande carreira de maestro. Começou a reger aos 8 anos de idade, e aos 11 foi convidado por Arturo Toscanini para reger a Orquestra da NBC. Ele, que também era um excelente violinista, vai fazer inicialmente uma intensa carreira europeia. Se sua estreia no Festival Wagneriano de Bayreuth em 1960 foi um quase fiasco, o seu período à frente da Orquestra da Rádio de Berlim, de 1964 até 1975, foi, na minha visão, o ponto alto de sua carreira. No mesmo período foi diretor musical da Ópera alemã de Berlim. Dono de uma das mais perfeitas técnicas de regência que já se viu, vai suceder o grande maestro húngaro Georg Szell como diretor da Orquestra de Cleveland de 1972 até 1982. Segundo o crítico inglês Norman Lebrecht ele não acrescentou nada à orquestra, e pude em São Paulo, ver duas faces do grande maestro à frente desta grande orquestra: a mais linda e mais transparente versão que já ouvi, em disco ou ao vivo, da “Sinfonia em três movimentos” de Stravinsky e no mesmo concerto a mais fria e aborrecida versão da Segunda sinfonia de Brahms. Um músico com sua técnica exemplar, uma audição excepcional e um repertório extremamente amplo, às vezes podia se tornar enfadonho. De 2002 até 2009 foi diretor musical da Filarmônica de Nova York, e deste período é que se ouve falar das maiores “chatices” do maestro. Nesta época eu assisti uma Segunda de Sibelius com ele em Nova York que não tinha nada de excepcional, irreconhecível frente à fantástica gravação que ele realizou em Viena na década de 60. Em 1989 Maazel estava seguro que ia suceder Karajan na Filarmônica de Berlim. Quando soube que o escolhido foi o italiano Claudio Abbado saiu esbravejando sobre seu colega italiano. Esse meio musical…
Como compositor Maazel não conseguiu impressionar muito. Sua obra mais conhecida, a ópera”1984” (baseada no livro homônimo de George Orwell) deixa claro que como compositor ele era um excelente maestro. Seu legado discográfico é bem extenso. Destaco sua gravação da ópera L’enfant et les sortilèges de Ravel, até hoje o melhor registro da obra. Maravilhosa é sua integral das Sinfonias de Jean Sibelius, com a Filarmônica de Viena (com a de Pittsburg é bem inferior). Assim como Karajan não era muito chegado a obras modernas. Nunca regeu nada de Ligeti, Adés ou Boulez. No entanto existe uma gravação integral da ópera Lulu de Alban Berg que ele regeu em Viena em 1981 que é absolutamente notável. Pena que ele regia apenas os itens consagrados pois a complicada escrita de Berg raramente soou tão transparente.
Lorin Maazel falava razoavelmente bem o português. Ele foi casado com uma pianista brasileira que se naturalizou americana, Miriam Sandbank. Pouca gente sabe, mas o maestro fez para ouvintes brasileiros, em bom português, uma gravação do “Guia orquestral para os jovens” de Britten. Foi lançado aqui no Brasil pelo selo Deutsche Grammophon, isto no tempo dos Lps. Em 1986, à frente da Orquestra Filarmônica Mundial, regeu no Rio de Janeiro o Choros Nº6 de Heitor Villa-Lobos. Numa época em que a obra era inacessível (a gravação da Sinfônica Brasileira tinha um imenso corte) esta gravação, lançada em CD, foi uma referência por muito tempo. Voltou aqui com a Filarmônica de Viena e a Orquestra sinfônica da Rádio Bávara em concertos excelentes. Mais inglória é sua última passagem no Brasil, mais precisamente na capital fluminense em 2011, quando veio salvar uma situação incômoda da direção da Sinfônica Brasileira. Seu diretor musical (o da OSB), por causa de uma demissão em massa de músicos, tinha saído do palco do Theatro Municipal sob vaias. Para um ciclo de Sinfonias de Beethoven, que aconteceria em seguida com o mesmo maestro enxotado, foi então convidado o maestro alemão Kurt Masur, que adoeceu. Mais uma vez com medo das vaias, foi convidado Lorin Maazel, que cobrou uma fortuna para reger o ciclo (ao que parece um milhão de dólares) e exigiu que uma parte do pagamento fosse feito em cash assim que chegasse. Triste é saber que ele debochou dos músicos demitidos no Amarelinho da Cinelândia, os mesmos músicos que voltaram a ser contratados, isentos de tocar com aquele que em 2011 os demitiu. Aliás não foi a única vez que Maazel foi de comportamento dúbio entre os cariocas. Em 1988 esteve dirigindo a OSB no aterro do flamengo. Seu voo teve problemas e ele regeu a Sinfonia Nº 7 de Beethoven sem nenhum ensaio. Neste momento seria difícil chama-lo de sério……
Experiência pessoal
Muito interessante a forma como soube que Karajan morreu. Fazia o curso na Accademia Chigiana em Siena (era aluno do maestro russo Gennady Rozhdestvensky) e adorava assistir como ouvinte as aulas do pianista Alexis Weissenberg. Numa dessas aulas entrou uma pessoa e cochichou algo em seu ouvido. O pianista desatou num choro, e se retirou da sala sem dizer nada. Fomos saber o que se passava. Karajan tinha morrido. Alexis Weissenberg não só foi solista em diversos concertos de Karajan mas era um de seus poucos amigos.
Osvaldo Colarusso
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/
Não concordo com o senhor. Herbert von Karajan foi um gênio na interpretaçao. Dificil hoje músicos que de fato interpretam. Quanto a cantoras, cantores é primordial saber que vozes nao são como um instrumento. Há vozes que não sao naturais em seu registro, e a mais notória delas é o Helden tenor e sua voz irmã Heldensopran, que sao vozes nao naturais. São normalmente baritonos, ou mezzo sopranos que "sobem". Isto é, pessoas raras com suas vozes. Helga Dernesch é um exemplo, Lauritz Melchior um exemplo dos dias de hj, Placido Domingos. Quanto a vida privada de um músico penso que nao cabe críticas ao ponto de desmerecer seu trabalho. Em geral músicos são egocêntricos sabem tudo, isso pelo simples motivo de passarem de 8 a 10h tocando,estudando. Me desculpe maestro, mas a crítica deve ser apenas no trabalho.
ResponderExcluirObrigado.
Fernando.