A TÉCNICA REFINADA DE MARIELLA DEVIA E A REGÊNCIA PERDIDA DE SABBATINI. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

  

   Assistir a Joyce Didonato e Mariella Devia na mesma semana é um privilégio raro. A apresentação de duas cantoras de renome internacional em diferentes fases da carreira mostra que São Paulo faz parte do circuito internacional de grandes espetáculos líricos. Eventos dos mais diversos estilos e artistas de todos os gabaritos passam pela terra da garoa.
   O Projeto Grandes Vozes trouxe o soprano Mariella Devia e o tenor que se acha regente Giuseppe Sabbatini para se apresentarem no aconchegante Theatro São Pedro. A condução da Orquestra do Teatro por Sabbatini apresentou diversas falhas, sobraram desencontros entre naipes em diversas passagens. Na abertura da ópera I Capuleti e I Montecchi de Bellini a musicalidade esteve confusa e o Intermezzo da ópera Manon Lescaut de Puccini se mostrou sem brilho. Conduzida por outros regentes a orquestra da casa esteve bem superior e em repertórios mais complexos. Prefiro Sabbatini cantando, reger é uma arte complexa que o simpático tenor  italiano não domina. Será que ele imagina ser um Plácido Domingo?
   Mariella Devia fez carreira internacional de sucesso, se apresentou em grandes teatros e se especializou no repertório romântico italiano do século XIX. Devia é um soprano correto, segue a partitura com perfeição e mesmo com 66 anos de idade consegue notas inimagináveis devido a uma técnica apurada. Essa mesma técnica conservou a voz dela por décadas. Muitas cantoras jovens nem chegam perto de seus agudos. Sua voz tem excelente projeção, seu fraseado é impecável, seu timbre é consistente e suas coloraturas são impecáveis.
   Canta a moda antiga, sua Casta Diva da ópera Norma de Bellini é cópia autenticada da Callas, na Lucia de Lammermoor de Donizetti se sente em casa e exibiu total domínio técnico da partitura esbanjando nas coloraturas e em Chi il bel sogno di Doretta da ópera La Rondine de Puccini soltou uma voz lírica. No repertório francês cantou duas árias inadequadas a sua voz, pesada demais para a Manon de Massenet e para a ária Je veux vivre da ópera Romeo et Juliet de Gounod.
Ali Hassan Ayache

Comentários

  1. Comentério de Aldo Carvalho no movimento.com :

    Foi realmente um privilégio assistir a duas cantoras deste calibre! Devo confessar que DiDonato é uma grande e carismática cantora, mas que não me impressionou muito, principalmente, se você assiste, uma semana depois, a Mariella Devia, esta sim uma verdadeira diva, com uma voz inacreditável para seus 66 anos! Ela arrebatou o entusiasmado (mas comportado, graças a Deus!) público no São Pedro com um repertório totalmente operístico, ao contrário de DiDonato, que escolheu peças bem menos conhecidas. A mezzo não esteve bem nos agudos, mas avisou-se no início que ela estava com um começo de resfriado e pediu-se compreensão. Mesmo assim, não gostei muito da alteração que ela fez no programa na última hora, não executando “Non più mesta”, muito aguardada, mas não tirou o brilho da noite. Devia, por outro lado, que de diva tem a voz (achei-a quase recatada no palco), desde a primeira nota até o final foi pura mágica e sedução, mesmo nas árias menos apropriadas para sua voz, deu show. Espero que venha mais vezes!

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