GRANDES SOLISTAS EM SÃO PAULO - LUIS FILIP E VALENTINA LISITSA. CRÍTICA DE VIVIANE CARNIZELO NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
O final de semana de 26 de julho foi
de grandes apresentações na cidade. Na Sala São Paulo, o violinista brasileiro
atuante na Filarmônica de Berlim, Luiz Filip, surpreendeu a todos com uma
execução brilhante do Primeiro Concerto para Violino de Shostakovich. Já no
Theatro Municipal, a pianista Valentina Lisitsa apresentou a versão com
cadência longa do Terceiro Concerto para piano de Rachmaninoff. Ambos
memoráveis.
Luis Filip, foto Internet
O Concerto para Violino foi
composto por Dmitri Shostakovich entre os anos de 1947-48, sendo executado pela primeira
vez apenas após a morte de Stalin. A estreia, em 1955, foi feita pelo
violinista David Oistrakh, para quem a obra foi composta, tornando-se um enorme
sucesso.
Entre seus quatro movimentos, o
Concerto percorre diversos estados de espírito, ficando a cargo do solista e da
orquestra entregá-los nas mãos da plateia. Luiz Filip transitou com facilidade
entre a melancolia e o vigor, a doçura e a dor presentes na obra. Sua
capacidade técnica, acima de qualquer crítica, transformou os difíceis e longos
períodos de solo em momentos de deleite. Prestes a completar 30 anos de idade, o
violinista é jovem para a maturidade musical e o currículo que detém. Com
importantes prêmios e passagens por distintos conservatórios europeus, o
brasileiro já esteve sob regência de Sir Simon Rattle, Claudio Abbado, Daniel
Barenboim e Pierre Boulez, entre outros. Desde 2012, integra o naipe dos
primeiros violinos da Filarmônica de Berlim.
As apresentações na Sala, além do
concerto para violino, contaram ainda com a Abertura Festiva de Shostakovich e
a versão para orquestra da obra querida do público Quadros de uma Exposição, de
Modest Mussorgsky. Com regência de Susanna Malkki, a plateia comentava que
aquele havia sido um dos grandes concertos do ano. E o do Municipal ainda
estava por vir.
Valentina Lisitsa, foto Internet.
O Terceiro Concerto para piano de
Rachmaninoff já havia sido apresentado outras vezes na cidade neste mesmo ano,
pelo pianista Nikolai Lugansky, por exemplo, em uma interpretação enérgica da
versão com cadência curta, acompanhado pela OSESP. Valentina Lisitsa, solista
da noite, gravou, pela Decca, os quatro concertos para piano do compositor,
dando preferência, no terceiro concerto, para a cadência longa, que ela também
apresentou com a Orquestra do Theatro Municipal.
Os que pensaram que Valentina
apresentaria apenas mais um Rach3 no palco do Municipal se depararam com uma
versão bastante diferente da comumente exibida pelos grandes nomes do piano.
Sem deixar de ser vibrante, Valentina realçou o romantismo, a doçura e as
passagens mais líricas da peça, criando grandes contrastes entre os momentos de
encanto e fúria. Com sua leitura única sobre o concerto, a pianista mostrou a
todos a grande artista que é, sendo bem recebida pela plateia, que pediu bis e
encontrou em Valentina uma pianista grata pelos aplausos. Além de seu olhar de
alegria, a moça coroou a noite com quatro bis, entre elas a obra que a
consagrou como um hit da música clássica no canal YouTube: Für Elise, de
Beethoven. O público delirou com sua receptividade, parando de aplaudir e pedir
o quinto bis apenas quando as luzes do teatro se acenderam e as portas se
abriram.
No intervalo, os mais apaixonados
pela pianista ucraniana formaram fila em seu camarim, para uma breve sessão de
fotos e autógrafos que foi repetida após o término do concerto. Quem esperou,
saiu do Municipal com uma foto e uma assinatura no programa. Valentina, formada
pelo Conservatório de Kiev e dando os primeiros passos do auge de sua carreira,
de certo será uma presença confirmada em São Paulo nos próximos anos.
A segunda parte do concerto no
Theatro Municipal ficou por conta de Assim falou Zaratustra, de Richard
Strauss. Peça referente ao livro homônimo de Friedrich Nietzsche, é bastante
conhecida por sua introdução. Se, por um lado, é raro encontrar, fora do meio
dos especialistas em música ou pesquisadores de humanas, alguém que tenha lido
a obra do filósofo, por outro lado é fácil fazer com que a melodia ganhe a
atenção do público – seus primeiros compassos são parte da trilha sonora do
filme “2001, Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick.
De difícil execução, a peça foi
comandada pelo maestro John Neschiling que, como de costume, apresentou um
trabalho bastante minucioso. A tendência é que, com o passar dos meses,
Neschiling desenvolva com a Orquestra do Theatro Municipal um trabalho muito
semelhante ao realizado com a OSESP anos atrás, elevando o nível das execuções
e trabalhando com casa lotada, como foi o caso do concerto com Valentina
Lisitsa e outros anteriores.
O segundo semestre de
apresentações já está aí. Para os interessados em música, a programação da
cidade reserva grandes concertos e óperas. Para quem ainda está em dúvida, a
experiência de assistir a um concerto ao vivo é sempre única. E para acabar com
as desculpas, tanto a Sala como o Municipal contam com excelentes programações
gratuitas. Nos vemos lá.
Viviane Carnizelo
Se não me engano, Für Elise não foi tocada naquele dia! Lembro-me de Ave Maria (Schubert-Liszt), La Campanella (Liszt), Noturno em Dó# menor + um estudo (Chopin).
ResponderExcluirRealmente esses concertos foram memoráveis, ninguém sabe escolher repertório como Neschiling aqui no Brasil, apesar de não gostar muito de sua regência, prefiro ele na direção onde sua competência é bem maior sabendo navegar como poucos nos nebulosos mares da política brasileira.
ResponderExcluirRealmente os bis foram os descritos pelo caro amigo anônimo, e mais uma vez a Viviane fez um belo texto no qual falou do magnífico final de semana musical em São Paulo, que apesar de seus problemas também tem suas compensações como habilmente foi descrito acima.
Espero que cada vez o Theatro Mvniciapal melhore e o Neschiling respeite o público pelo menos não subindo os preços dos ingressos que já são bem caros para a temporada do ano que vem....
Marcelo Lopes Pereira, esperamos que o piano esteja afinado da próxima vez. Uma artista do gabarito de Lisitsa não merecia tal desafinação (o 2º ré depois do dó central me arrepiava de tão desafinado...)
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