JOYCE DIDONATO, DIVA EM TODOS OS SENTIDOS. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   
   Sempre apreciei a voz de Joyce Didonato pelas suas gravações, sua Dejanira da ópera Hercules de Handel é primorosa, em Cendrillon de Massenet consegue um lirismo único e o mezzo-soprano arrasa como Donna Elvira da ópera Don Giovanni de Mozart. Sabemos que engenheiros de som manipulam tudo na era digital o que me deixa desconfiado de certas vozes. 
   A apresentação de Joyce Didonato pela Sociedade de Cultura Artística nos dias 24 e 25 de Agosto na Sala São Paulo impressionou este que escreve. O primeiro fato positivo constatado é o programa, e como se diz nos corredores dos teatros Didonato trouxe consigo um "programão". A primeira parte dedicada ao barroco e a segunda a compositores como Bellini, Rossini e o exótico Santoliquido. O mezzo-soprano está no auge. Vi diversas vozes sumirem e se apequenarem, a voz de Didonato mostrou uma projeção que enche a Sala São Paulo. Sentei na última cadeira do balcão mezanino e ouvi perfeitamente todas as notas emitidas com clareza, parecia que ela cantava ao meu lado.
   O timbre de Didonato é de uma beleza imensurável, marcante em todos os registros. Junção de graves, médios e agudos em harmonias perfeitas. A respiração e a técnica impecáveis são fatores que fazem ela ser uma das melhores em seu registro. Sua voz é uma mistura de cores com nuances que variam do lírico ao dramático e suas coloraturas são soberbas.
   Didonato é uma cantora que faz o difícil parecer fácil, esbanjou sutileza e técnica na longa e complicada Arianna a Naxos de Haydn. Mostrou dramaticidade nas árias dedicadas a "Drama Queens" e após um merecido intervalo mudou de período histórico atacando raridades de Bellini na ária "Dopo l'oscuro nembo" da ópera Adelson e Salvini. Magistral em Rossini defendendo as árias "Beltà Crudele" e "la Danza" tudo isso acompanhada pelo excelente pianista David Zobel.
   Apresentação inesquecível, para ser guardada na lembrança por tempos imemoriais. Disseram que Didonato estava com início de gripe, cantou de forma magistral e não mediu esforços para fazer uma grande exibição. Cometeu uma falha em cada noite, prefiro cantoras que correm riscos e dão tudo que podem e erram em repertórios complexos do que aquelas que aparecem por aqui, mostram o rosto bonito e cantam um repertório moleza sem a menor empolgação. Diva em todos os sentidos, cantou brilhantemente e mostrou uma simpatia e simplicidade no palco conversando diversas vezes com o público. 
Ali Hassan Ayache 

Foto: Joyce Didonato, foto Internet

Comentários

  1. Marcelo Lopes Pereira28 de agosto de 2014 às 17:00

    Estive lá os 2 dias e posso dizer que valeu muito à pena, correu imensos riscos cantando La Danza nos dois dias, e em apenas em algumas notas percebeu-se que ela não estava 100%.
    Além disso ela é de uma imensa simpatia, interagindo com o público de forma sensacional e no final do segundo dia fez um imenso esforço para dar autógrafos a todos os entusiastas que estavam na fila.
    Acredito que nos últimos tempos ela só foi superada pela impecável Sumi Jo, cantora coreana que esteve aqui no ano passado, se não fosse sua gripe certamente seu recital seria histórico.

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