"LAS HORAS VACÍAS" ÓPERA-MONODRAMA DO SÉCULO XXI. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   
   Las Horas Vacías ópera-monodrama com libreto e música de Ricardo Llorca, apresentada no dia 08 e 10 de Agosto no Theatro São Pedro/SP, trás a linguagem da ópera para o século XXI. Somem as donzelas apaixonadas que sempre morrem no final e que nos dias de hoje parecem ser de outro planeta. O texto de Ricardo Llorca trata de problemas atuais como solidão, depressão e alcoolismo. A concepção como ópera-monodrama para soprano e atriz é uma inovação teatral no mundo operístico.
   Tudo em Las Horas Vacías cheira a modernidade, conta a história de uma mulher viciada em internet que vive solitária em seu apartamento em Nova Yorque. Engolida pela grande metrópole se fecha em seu mundo solitário e toda a sexta-feira recebe um convidado imaginário, enche a cara e esse "encontro" acaba em discussão. A personagem confunde o real e o imaginário e possuí um vazio interior reflexo esse da sociedade moderna.   
   Orquestra postada no palco com um cenário minúsculo, entram os músicos e o maestro recebe os aplausos de praxe. Um telão ao fundo serve como complemento de cenário e legenda o texto cantado em espanhol. A abertura mistura piano com orquestra de cordas em um tema tenso que se repetira diversas vezes. A música de Ricardo Llorca é tensa, muitas vezes complexa refletindo a personalidade da personagem e se assemelha ao que os compositores contemporâneos escrevem. Sua escrita vocal mistura estilos e épocas: coloraturas que parecem a ária da Rainha da Noite de ópera A Flauta Mágica de Mozart, coro que lembra as óperas barrocas e árias que passeiam pelo período romântico.
   A regência de Alexis Soriano mostrou uma sonoridade excessivamente volumosa e alta, que muitas vezes cobriu o soprano. Colocou sua orquestra em evidência, regeu a ópera como uma sinfonia e se esqueceu de que o Theatro São Pedro é pequeno, imaginou que estivesse no Theatro Municipal de São Paulo. Alexis Soriano me fez sentir saudades do Patarra. Destaque para os solistas da casa, o spalla Ariel Sanches mostrou excelente técnica e tirou ótima sonoridade de seu instrumento, enquanto nos violoncelos o destaque fica por conta da dupla Fabrício Rodrigues e Camila Hessel (a violoncelista com a beleza mais angelical do Brasil) tocaram solos curtos e empolgantes, notas que sobrevoam o teatro e penetram nos ouvidos provocando sensações únicas.
   A direção de Joachim Schamberger expõe as minúcias, trabalha o gestual da atriz Angelica de la Riva, a fazendo ir da absoluta calma a mais forte tensão. Sua fala é serena e vai ganhando força, seus movimentos leves de início indo ao brusco e tenso. 
   Seu contraponto vocal foi o soprano Laura Rey, esta teve dificuldades vocais evidentes, sua voz se mostrou sem brilho, seca e opaca em muitas passagens. Trocou notas agudas por gritos e desafinou adoidado, brigou o tempo todo com a volumosa orquestra para se fazer ouvir. Suas coloraturas mostraram-se lentas e sem vibração. As dezesseis vozes do coro cantaram medianamente, faltou equilíbrio entre a vozes masculinas e femininas.  
   Ópera que foge do lugar comum em um teatro que faz milagres com seu orçamento. Las Horas Vacías mostra um caminho para modernizar a ópera, tema atual, música moderna, exibição de vídeos e duração que não deixa a galera irritada são fatores que podem trazer novos públicos e ares para a ópera. Misturar títulos consagrados com composições atuais é uma ideia que renova o público e um caminho a ser seguido.
Ali Hassan Ayache
       

Comentários

  1. A composição de Ricardo Llorca é realmente espetacular, de linguagem acessível e de estética contemporânea. No entanto, a montagem do São Pedro deixou a desejar. O regente foi incapaz de criar atmosferas diferentes e contrastes entre as peças e seções da obra, e não conseguiu segurar a orquestra no tempo apropriado. Os coralistas não entraram em acordo em relação ao som coral que foi muito forte e romântico, sendo que deveria ter sido mais leve e de impostação antiga. A orquestra não teve a sofisticação necessária para a execução da obra. A soprano foi mediana mas exagerada. E o texto traduzido para o português se mostrou ineficiente. Sugiro ouvir a gravação da New York Opera Society que fez um trabalho de primeira. Mas, ressalto, que com o orçamento e as possibilidades do Theatro, a apresentação foi um milagre. De qualquer maneira, a obra é genial e aponta para um futuro positivo dentro da linguagem operística. Comento este post como anônimo porque conheço muita gente que participou da montagem. Grande abraço.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas