LE SPECTRE DE LA ROSE E WWW ESTREIAM PELA SÃO PAULO CIA DE DANÇA. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

  
   Inovar sempre, esse é o lema da São Paulo Cia de Dança, apresentando um repertório vasto que abrange desde a dança clássica até as coreografias atuais. Assisti ao ensaio aberto das três coreografias apresentadas no Teatro Alfa no mês de Agosto e percebi que o espetáculo seria de alto nível. Ver um ensaio é penetrar na intimidade da Cia, você está próximo aos bailarinos, sente as expressões, vê músculos pulsando e o desgaste que eles sentem após executar os movimentos. A falta de luz cênica, maquiagem e figurinos é compensada com a intimidade do bailarino a sua frente, sente-se a respiração com erros e acertos acontecendo a todo instante.
   A estreia de Le Spectre de la Rose de Mario Galizzi a partir da obra de Michel Fokine(1880-1942) é mais um diálogo da SPCD com a dança clássica. A coreografia é um belo pas de deux que transporta para um mundo dos sonhos, onde a jovem inocente sonha com o perfume da rosa que recebe em sua primeira festa. A coreografia foi imortalizada pelo grande bailarino Nijinsky com um salto pela janela na cena final. 
   A atmosfera criada no palco leva a um mundo irreal onde cenário e figurino combinam com o conceito da obra. Os solistas mostraram destreza e habilidade com a dança clássica. Leveza e um clima de inocência fazem da pequena e bela Luisa Lopes ser adequada à personagem. Emmanuel Vasquez mostrou grande domínio técnico com passos que esbanjaram força e virilidade. Saltos medianos mostram conservadorismo e pouca vontade de correr riscos. Em conjunto tiveram bom entrosamento e conseguiram uma expressividade deveras interessante. 
   A música tocada foi a redução para piano de Carl Maria Von Weber executada pelo pianista Cristian Badu. Ao vivo é sempre melhor, Badu mostrou ser um grande pianista, acompanhou os solistas criando um clima de romantismo no ar embora em alguns trechos tenha deixado seu instrumento volumoso em
excesso.
   Petite mort é uma expressão idiomática e um eufemismo para o orgasmo usado pelos franceses. Vendo a coreografia de Jirí Kylían percebi apenas a sensualidade. Peça curta recheada de simbolismos, Temos floretes, que segundo o coreografo são "como morte espreita a vida" ou serão símbolos fálicos, um caminho para a petite mort. Panos que cobrem todos representam o oculto e o escuro para se atingir o inexplicável do orgasmo. Passos sensuais com destaques para os papéis femininos, sob a música de dois concertos de piano de Mozart realçam o tema e fazem o teatro explodir em êxtase, feromônios que excitam e transmitem diferentes sensações e desejos a todos. Uma coreografia que leva a orgasmos múltiplos, pura arte , pura dança. 
   O interessante da SPCD é que consegue em uma única noite ir do clássico ao contemporâneo harmonizando as coreografias. Fechando a noite tivemos Workwithinwork ou WWW para os íntimos. Dança conceitual com gestos e configurações que se alternam com velocidade. Entradas e saídas rápidas dos bailarinos representam o ritmo acelerado da vida atual, figurinos modernos, leves com possibilidades de ver os movimentos dos corpos  e todo o gestual realçam mais o ritmo ágil da coreografia. O conjunto dos dançantes exibiu técnica apurada e precisa. 
   Duas violinistas acompanharam os passos da coreografia sem se perder nas complexas armadilhas da partitura, o som emitido foi amplificado por alto falantes fazendo soar artificial toda a música. Assim sendo não existe muita diferença entre a música gravada e a executada ao vivo.
Ali Hassan Ayache

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