"SALOME" DE STRAUSS, NO TMRJ. CRÍTICA DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

Uma “Salome” de ótima música, cenários e direção cênica aceitáveis e excelente rendimento de solistas e orquestra.

SALOME ( o original alemão não leva acento ), de Richard Strauss (1864/1949), com libreto de Hedwig Lachmann baseado em peça em francês de Oscar Wilde ( muitas fontes dizem “traduzido” do original em francês), estreada em Dresden em 1905, perfaz com as óperas de Puccini da mesma década (1896/1905) o que de melhor deu o mundo da ópera naquele período, pela orquestração (raras combinações tímbricas) , beleza melódica, originalidade de ritmos, densidade dramática, concisão e aproveitamento das poéticas, teatrais e operísticas  palavras de Wilde.
Isso tudo bastaria para que SALOME subisse aos palcos sem “ousados” e modernosos cenários e sem suburbanos exageros de encenação, o que não ocorreu na presente edição. SALOME de Strauss dispensa sócios inovadores, nus à la Playboy , Herodes bichona, Herodíade sapatona, Salomé mostrando tudo  e muito mais como se tem visto pela aí. A presente edição é simples mas teatral, com menor valia para a turma de terno e gravata e São João parecendo enfermeiro do Miguel Couto… A cenografia e direção de cena de André Heller Lopes, fora uns pecadilhos, é boa e competente.
Avulta como ponto cardeal nessa edição do TMRJ a magnífica, inspirada e elaborada  regência do Maestro Sílvio Viegas, que sempre se revela um regente excepcionalmente rítmico e atento aos detalhes, como as pausas e ornamentos dessa intrincada partitura. Não pude contar o orgânico (número de instrumentos) da enorme orquestra que Strauss escalou para  sua SALOME, mas é uma enorme orquestra que, nesta edição, só coube em lugar apropriado (ou mais ou menos apropriado) ocupando espaços fora do fosso da orquestra. Também, eram seis clarinetas, seis trompas, quatro flautas, quatro trumpetes, quatro trombones…..
Em teatros como por exemplo Bayreuth (fosso coberto), Colón de Buenos Aires, Arena de Verona, Torre Del Lago (ambos ao ar livre) e Bolshoi, não tem havido esse problema. Essa orquestra foi muito bem dirigida e “dominada” pelo regente Sílvio Viegas, o que visivilmente estimulou os cantores e todos que fizeram parte do espetáculo, e emocionou os “perus de fora” como este que escreve, que morre de amores por uma SALOME bem regida e bem cantada.
Amadores, leigos e profissionais mal informados e mal acostumados, tenham em mente que é IMPOSSÍVEL em partituras como as de SALOME, ROSENKAVALIER, RING, MADAMA BUTTERFLY, TURANDOT, FALSTAFF e muitas outras, a execução NO PALCO COM PÚBLICO sair TODA EXATA E PERFEITA. Nesses casos, a exatidão e perfeição devem ser sempre tentadas, mas sendo impossíveis devem ser compensadas por inspiração poética e dramática,  procura da beleza melódica, do estilo apropriado, da afinação correta, dos tempos e do ritmo cabíveis e coerentes, das sonoridades idem, das proporções entre ao naipes idem. Tudo isso foi feito pelo Maestro (com”M” GRANDE ) Sílvio Viegas. Vários famosos regentes de orquestra têm dito isso aos quatro ventos. E, por isso, os profissionais da música em geral detestam julgamentos de qualidades musicais através de gravações, mesmo feitas ao vivo.
A protagonista Cristina Baggio é um legítimo soprano italiano, o que quer dizer que procura sempre a beleza do canto livre, solto, “aperto ma coperto”, da sonoridade, a riqueza de variantes (ora muito volume, ora pouco, ora crescendo, ora diminuindo), a utilização nada econômica de pianos e pianíssimos, a emoção incontida por estar cantando. É verdade que “chist´é o paese d´o sole”, mas não temos uma Cristina Baggio, “bella come un´aurora”… Temos Marina Considera para nos consolar…
O meiossoprano Carolina Faria nos regalou com uma Herodíade de luxo, excelente de voz e linda de figura. Que mais podemos querer? O Herodes de Paul McNamarafoi um tetrarca de voz pequena, o que não ajuda a valorizar e a dar relevo às maravilhosas palavras de Wilde (Salome komm, iss mit mir von diese Früchten…. trink Wein mit mir….einen köstlichen Wein ….), e o São João Batista de Lício Bruno foi simplesmente ótimo, de voz e de cena. Voz poderosa e agradável de se ouvir.
Como observação paralela, não sei se me engano, mas acho que cheguei a ver o nome do tenor Ricardo Tuttmann escalado como Herodes. Corrijam-me se foi um sonho…
Somando tudo, um sucesso.
Wie schön ist die Prinzessin Salome …
MARCUS GÓES

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