FILARMÔNICA DE DRESDEN - VIRTUOSISMO E EFICIÊNCIA. CRÍTICA DE MARCUS GÓES NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

A FILARMÔNICA DE DRESDEN – é assim mesmo, sem o “orquestra” – apresentou-se dia 10/09 no TMRJ. Foi uma noite de encantos e sortilégios.

Essa orquestra, como toda grande orquestra alemã, tem como característica – e qualidade — principal o virtuosismo disciplinado de seus instrumentistas. Se o regente pede um crescendo em piano, lá vem exatamente isso. Se pede um corte bem staccato, é isso que se ouve. Se pede menos volume em toda uma peça, temos menos volume. E por aí.
Seu regente titular MICHAEL SANDERLING, – o programa de sala diz “regente principal — nascido e criado em Berlim, segue a tradição de seus ilustres antecessores: muita eficiência, pouco romance exagerado, correção e expressividade de gestos. O “pouco romance exagerado” não quer dizer que a orquestra não “cante”, mas que executa os cantabili na medida exata.
O primeiro número do programa foi uma suíte de Lutoslawsky, genialmente executada nos inúmeros crescendo e diminuendo, nos muitos contrastes forte/piano, na precisão das pausas e na elegância dos ornamentos.
A seguir, um problema que é comum a quase todas as audições ao vivo de concertos para violino e orquestra: o pouco volume do violino solista esbarrando contra trompas, trombones, percussão, contrabaixos, trumpetes e o mais que seja. Na época se sua estreia, o concerto de Beethoven tocado agora foi chamado até de “concerto para percussão”. Estamos todos habituados a ouvir gravações, nas quais o laboratório amplifica o volume do violino, que aparece robusto à frente de tudo. Quando o ouvimos ao vivo, parte do público se decepciona.
A violinista alemã CAROLIN WIDMANN é uma virtuose do som contido, medido, que jamais se eleva acima da orquestra. Para facilitar as coisas, o regente fez a orquestra tocar em baixo volume em muitas passagens em que se requer justamente contrário. O resultado é uma versão estranha mas extremamente elegante do concerto, embora de Beethoven sempre se espere maior vibração, maior presença, discursos musicais mais “olhem, estou aqui…”.
A seguir, e aí a grande orquestra se apartou de violinos solistas, tivemos uma edição exemplar da Sinfonia n. 1, de Brahms, na qual a orquestra e o regente puderam mostrar vigor, volume adequado, propriedade estilística. Talvez o hino que percorre todo o final da obra devesse ser mais expressivo na sua religiosidade (como foi com o nosso Jamil Maluf e a modesta orquestra da UFRJ…), mas isso faz parte da vida musical, na qual as comparações são perigosas e muita vez indevidas. No entanto, foi um “luxo” poder ouvir tal obra executada com tanta precisão. Nunca um instrumento deixou “rabo”, nunca entrou antes, nunca as trompas engasgaram, nunca as violas desafinaram, nunca algum instrumento atrapalhou cortes súbitos, suspensões, execução de grupetos, quiálteras, pppp´s ou ffff´s.
Um extra do violino e outro da orquestra coroaram o magnífico evento, que deu continuidade a uma riquíssima programação do TMRJ.
Meu envolvimento pessoal me conduziu a estranhas sensações, que nada têm a ver com o público e que me permito relatar: a todo momento durante o concerto eu ouvia certas sonoridades wagnerianas. Foi em Dresden que estrearam Der Fliegende Holländer e Tannhaüser…
ICH HABE GENUG
MARCUS GÓES – SET/2014

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