OS ANSEIOS ÍNTIMOS DE BELLE, COREOGRAFIA DE DEBORAH COLKER NO TEATRO ALFA. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.
Belle de Jour é um livro de Josseph Kessel lançado nos loucos anos 20, baseado nele a coreografa Deborah Colker monta o espetáculo com o mesmo nome para a temporada de dança do Teatro Alfa. A história é a clássica mulher casada com um ricaço e insatisfeita sexualmente. Sabemos que riqueza material não é sinônimo de felicidade, a personagem principal busca novas aventuras em um bordel e começa a festa.
O espetáculo mostra o íntimo da personagem, seus medos e descobertas em um ambiente que ela julga inadequado para uma mulher de sua posição social. O ar de mistério envolve todo o primeiro ato fazendo-a se desdobrar em duas personagens: uma extrovertida e atrevida e outra recatada. A divisão mostra os anseios de Belle, como na vida em sociedade temos ser o que não queremos. Seu lado misterioso explode em sensualidade sem ser vulgar, dança com força e segurança, seu lado recatado é como quer ser vista pela sociedade.
A coreografia é o íntimo de Belle, tudo nela é para dentro e está no seu pensamento. Cenários simples e recursos inteligentes transportam o espectador para diversos climas. Usar um enorme pano branco é o clímax do primeiro ato, todo o ar de mistério e rebeldia está lá. Os figurinos evoluem com a narrativa e detalham os aspectos das cenas, no começo lembram um desfile de moda de marca de luxo. Temos a evolução das sapatilhas de ponta para salto alto e de roupas recatadas a espartilhos.
No segundo ato Belle esta adaptada ao novo ambiente, o cenário se transforma diversas vezes e os passos entram na exuberância da pole dance. A luz é trabalhada no monocromático dando dinâmica e acompanhando a evolução do enredo. A música soa repetitiva e nem sempre combina com a dança do palco, tocada em alto volume é o ponto fraco do espetáculo.
Deborah Colker trabalha com passos curtos onde corpos e olhares explodem em sensualidade, a movimentação de seus bailarinos é intensa e o toque entre corpos acontece a cada instante. Consegue ser sensual sem cair na vulgaridade e abusa da criatividade. Sua Cia tem maturidade na dança com passos em grupo sincronizados e os solistas conseguem técnica apurada.
Coreografia refinada que conta uma história completa e penetra no íntimo da personagem. Mostra a eterna insatisfação do ser humano onde nem sempre o material é o mais importante. Desejos obscuros todos tem e quase ninguém os coloca para fora, a personagem o faz só não se sabe se é na sua mente ou no mundo real. Belle é uma crítica a uma sociedade onde poucos podem expor suas fantasias íntimas e explorar seu lado sensual. Ser o que realmente são.
Ali Hassan Ayache
Que ótima crítica!
ResponderExcluirAdorei Belle.